"Pediu que parasse, que estava a doer muito": a cronologia da morte de Valentina segundo o meio-irmão - TVI

"Pediu que parasse, que estava a doer muito": a cronologia da morte de Valentina segundo o meio-irmão

Raúl, de treze anos, detalhou em tribunal as agressões e dissimulações que o pai de Valentina terá cometido no dia da morte da vítima. Também o inspetor-chefe da Polícia Judiciária descreve como encontrou o corpo da criança coberto por um pinheiro

Raúl, o filho de 13 anos da madrasta acusada de torturar e de matar Valentina, contou esta quarta-feira em tribunal que o pai da criança, também arguido, agrediu a vítima com “bofetadas” e levou-a para a casa de banho.

Depois disso, por volta das 8:30 da manhã, Raúl explica que o arguido pôs a água a correr a uma temperatura muito elevada. “A Valentina pediu que ele parasse e que estava a doer muito. A Valentina tinha muito medo da água quente. A minha mãe às vezes tinha de lhe dar banho e a Valentina nunca gostava de água quente”, lembra o menor.

O Sandro estava a dar estalos, dava-lhe porrada. Vi uns dez”, conta Raúl, sublinhando que o motivo da discussão terá sido relacionado com alegados contactos sexuais na escola.

Após as referidas agressões, Valentina caiu e não disse nada. “A minha mãe tentava impedir e o Sandro só dizia que isto era entre ele e a Valentina”.

Sandro e Márcia terão levantado a menina pelos braços e a madrasta tentou perceber se a vítima estava bem. “Ela não respondeu e a minha mãe começou a chorar”, ao mesmo tempo que o pai permanecia calado, imóvel. 

Raúl escutou os gritos da mãe a pedir que telefonasse para o INEM e para que Sandro, o pai, parasse de a agredir, “porque ela era pequena”.

Sandro não terá obedecido, respondendo que a filha é sua e que, por isso, faria o que bem entender. “A minha mãe insistiu. Ele disse que ela não se tinha de meter”.

 

Sandro depois terá enfrentado Raúl, ameaçando-o de que, se alguma vez denunciasse o que se tinha passado, ia ficar sem ver a sua mãe e irmãs. Neste momento do testemunho, Márcia, a madrasta de Valentina, chora.

A Valentina deixou de se mexer e eu e a minha mãe começámos a chorar. Colocaram cobertores. Ele (Sandro) disse que ia resolver tudo”, conta o menor.

Horas mais tarde, Raúl estava com a irmã Mariana, de quatro anos, no quarto e Sandro terá ordenado para que parasse de fitar Valentina, que respirava cada vez mais lentamente.

O arguido terá saído depois com Márcia e Mariana para comprar leite, deixando Raúl em casa sozinho. "Liguei-lhes a dizer que ela (Valentina) estava a espumar da boca e eles responderam que já estavam quase a chegar a casa”. A mãe de Raúl estava desesperada e Sandro irrequieto.

Fiquei nervoso com a situação toda. Depois a minha mãe insistiu. Mais tarde, ele disse que ele é que era o pai e o que tinha de fazer. A minha mãe, forçada, vestiu a roupa à Valentina”, descreve, recordando que ambos estavam irrequietos.

Márcia olhava para Raúl e chorava, consolando-o com abraços. Sandro, “muito nervoso”, estava irrequieto a dizer que Valentina tinha desaparecido. Após este cenário, o casal saiu de casa e foi à polícia, alertar para o suposto desaparecimento da filha.

Raúl conta, ademais, que justificaram a ausência de Valentina à mais nova, dizendo-lhe que ela tinha ido para a casa da mãe, Sónia - também ouvida esta quarta-feira em tribunal.



Corpo de Valentina encontrado coberto por um pinheiro

Paulo Alípio, inspetor-chefe da Polícia Judiciária, disse esta quarta-feira ter encontrado Valentina sem vida, coberta por um pinheiro, após ter sido levado até ao local onde estava o corpo.

Na primeira sessão de julgamento do caso do homicídio da criança de nove anos que foi torturada e morta pelo pai e pela madrasta, Alípio disse ter desempenhado um papel de chefia operacional e que, entre o dia sete e o dia dez de maio de 2020, foram desenvolvidas inúmeras diligências de forma ininterrupta.

 

Marcelo Santos, o militar da GNR que recebeu o alerta para o desaparecimento da criança, também foi ouvido, explicando que estranhou a comunicação entre o pai e a madrasta de Valentina.

Não me apercebi que um, ou outro estivesse mais disponível para falar. O Sandro falou mais, mas sempre a olhar para a Márcia. Eu achei estranho. Ele falava e olhava para a companheira”, lembra, realçando algumas incongruências no discurso de ambos: “Eu perguntava a que horas tinham dado falta da menina e eles disseram às 7:00 da manhã e que só foram às 10:00 à GNR. Disseram que não tinham tido oportunidade antes”. 

Marcelo Santos afirma que quando perguntou sobre a roupa que Valentina estava a usar no dia do seu desaparecimento, o casal disse que a criança levava um casaco, mas não soube precisar qual era o casaco.

 

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