Centenas de pessoas juntam-se em Lisboa para lembrar que racismo é crime - TVI

Centenas de pessoas juntam-se em Lisboa para lembrar que racismo é crime

  • SL
  • 10 ago 2019, 17:17

Na Praça Luís de Camões ouviram-se gritos de ordem contra o líder do movimento de extrema-direita Nova Ordem Social, Mário Machado, contra o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo que eram visíveis cartazes com frases como “25 de Abril Sempre! Fascismo Nunca Mais!”, “Não Passarão” ou “Os imigrantes ficam, saiam vocês”

Centenas de pessoas, perto de quinhentas, segundo a organização, juntaram-se este sábado no Largo Camões, em Lisboa, por uma sociedade mais justa, contra os discursos de ódio e para lembrar que racismo não é opinião, mas um crime.

A concentração, planeada por 65 organizações antifascistas nacionais e estrangeiras, fez-se na Praça Luís de Camões, por volta das 14h30, mas a manifestação começou algum tempo antes, no Largo do Rossio, pelas 13:00, sendo que entre um sítio e outro estiveram presentes mais de duas mil pessoas, segundo a organização.

Na Praça Luís de Camões, mesmo no coração de Lisboa, ouviram-se gritos de ordem contra o líder do movimento de extrema-direita Nova Ordem Social, Mário Machado, contra o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo que eram visíveis cartazes com frases como “25 de Abril Sempre! Fascismo Nunca Mais!”, “Não Passarão” ou “Os imigrantes ficam, saiam vocês”.

Myriam Zaluar, uma das manifestantes, disse à Lusa que aderiu à iniciativa porque não pode ser tolerante com os intolerantes e não concebe que Portugal seja palco de qualquer manifestação fascista, ainda que seja à porta fechada.

Há uma grande confusão na opinião pública entre a liberdade de opinião e a tolerância para com movimentos que são proibidos pela Constituição. Vivemos num mundo totalmente globalizado e o facto destes movimentos não terem grande expressão em Portugal não nos deve fazer pensar que estamos livres de eles poderem ganhar amplitude”, apontou, defendendo uma posição mais interventiva por parte da comunicação social.

Em declarações à agência Lusa, o coordenador da Frente Unitária Antifascista explicou que a manifestação de hoje teve dois objetivos, desde logo com uma mensagem direta para os movimentos de extrema-direita, tendo em conta que decorre hoje, em Lisboa, uma conferência internacional de organizações fascistas e neonazis, organizada por Mário Machado.

Para dizer que nós estamos aqui presentes, vamo-nos defender e defender os nossos valores. O que eles querem ou não, nós vamos estar aí para lutar até à última”, disse Jonathan Costa.

A outra mensagem tinha como destinatário as autoridades governamentais para exigir medidas que obriguem a respeitar a Constituição, que já proíbe organizações racistas ou de ideologia fascista.

Uma conferência destas não deveria poder acontecer se respeitassem as nossas leis. Não percebemos como é que isto está a acontecer”, criticou o responsável, lembrando que o movimento Nova Ordem Social tem “várias fotos com saudações nazis”.

No entanto, Jonathan Costa receia que este tipo de movimentos possa vir a crescer em Portugal e admite mesmo que o que tem faltado à extrema-direita é um líder com carisma que saiba vender a mesma mensagem de uma forma mais cativante.

Há de aparecer um candidato que vai conseguir cativar as pessoas e aí a mensagem vai passar”, apontou.

Mamadou Ba, líder da associação SOS Racismo, apontou que a manifestação é um grito de alerta para defender a democracia, uma vez que está ameaçada com “a ascensão dos fascismos e dos populismos”.

Não podemos deixar que se banalize ou legitime uma ideologia que professa a supremacia branca, professa a superioridade civilizacional, que promove o racismo e transporta, inclusive, uma ideologia da morte”, defendeu, criticando que se permita o encontro em Portugal de organizações fascistas e neonazis, numa “sociedade que é tão diversa”.

Frisou que estas organizações não podem ser interlocutores para a democracia e que é importante que toda a sociedade esteja alerta para o perigo que representa uma banalização das ideias da extrema-direita e do fascismo.

Sublinhou ainda que não está em causa o direito à liberdade de expressão porque o racismo não é uma opinião, mas sim um crime, e porque se sobrepõe o direito à dignidade humana.

Também presente, a deputada do Bloco de Esquerda Isabel Pires lembrou que o partido está sempre presente em momentos de solidariedade e de luta, quando o discurso de ódio e de racismo cresce na União Europeia e no mundo.

É preciso combater ativamente, todos os dias, este tipo de discurso, que cresce a cada dia que passa. Vimos nos últimos dias imagens angustiantes no Estados Unidos da América, mas também do Brasil, e é por isso que o que para nós importa são estes momentos de luta ativa contra este discurso”, defendeu.

Depois das intervenções de vários membros da organização, seguiu-se um momento de microfone aberto, para todos os que quisessem falar, e posteriormente um momento musical, tendo a concentração terminado por volta das 16:30.

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