Taxistas: "Não sairemos daqui enquanto não houver resposta do Governo" - TVI

Taxistas: "Não sairemos daqui enquanto não houver resposta do Governo"

  • AM
  • 20 set 2018, 07:12

Protesto contra a lei que regula as plataformas eletrónicas de transporte em Portugal começou na quarta-feira e vai continuar

Um dia após o início da manifestação, os taxistas continuam em protesto na Avenida da Liberdade e nos Restauradores, em Lisboa, garantindo que estão prontos para continuar a luta contra a lei que regula as plataformas eletrónicas de transporte em Portugal.

Vítor Carvalhal, dirigente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), afirmou à Lusa que estão “revoltados” por não entenderem a posição dos taxistas, referindo que o que pretendem é uma “concorrência leal”.

“Não estávamos contra as plataformas, estamos contra a forma como fizeram a lei das plataformas, pois não temos os mesmos direitos. Também não estamos contra a concorrência, queremos é que seja uma concorrência leal”, disse.

O dirigente salientou que as plataformas operam há vários anos em Portugal "sem cumprirem a lei" e garantiu que não vão desistir do protesto.

“Não vamos desistir, demore dois, três, quatro ou cinco dias. Se não lutarmos neste momento vamos perder para o futuro tudo o que criámos”, defendeu.

O eixo central da Avenida da Liberdade, em Lisboa, que estava cortado devido à concentração de taxistas foi reaberto às 07:30 pela PSP.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Federação Portuguesa do Táxi, Carlos Ramos, considerou que a reabertura do eixo central da Avenida da Liberdade é uma provocação e uma alteração das condições que tinham ficado estabelecidas anteriormente.

Carlos Ramos pediu aos taxistas que tenham calma e que mantenham a postura que têm tido até agora.

“Não devemos reagir (..) Não sairemos daqui enquanto não houver resposta do Governo. O Governo empurrou-nos para esta situação. Agora têm que falar connosco”, salientou.

O presidente da Federação Portuguesa do Táxi revelou ainda que em Lisboa estão “mais de 1.300 taxistas, um número superior ao de ontem [quarta-feira]”, num universo de 3.400 que operam na capital, sendo que os táxis já se encontram no cruzamento da Avenida da República com a Avenida Elias Garcia.

Segundo o responsável, também no Porto o número de táxis que aderiu ao protesto é superior ao de quarta-feira pela mesma hora: “Encontram-se por lá mais de 200 carros”, acrescentando que em Faro já se juntaram, na Estrada Nacional 125-10, 250 viaturas.

Nos Aliados sem "intervenção policial"

Cerca de 250 taxistas mantêm-se concentrados na avenida dos Aliados, no Porto, garantindo “não arredar pé” até receberem “respostas positivas” de Lisboa.

Alguns dobram mantas e cobertores para arrumar na mala do carro, outros passeiam pela avenida para "esticar as pernas" depois de uma noite a dormir dentro do carro, e há quem aproveite para limpar os estofos da viatura, enquanto ouve o noticiário na rádio.

"Não podemos ir embora porque esta é uma luta de todos e por uma causa que afeta a todos. Apenas queremos igualdade", disse à agência Lusa Idalina Sousa, motorista de táxi há cinco anos, negócio que gere com o marido que à hora da entrevista tinha ido a casa tomar banho para "render" a esposa mais tarde.

Idalina Sousa dormiu nos Aliados e tomou o pequeno almoço às 06:00 da manhã para "estar pronta para mais um dia de luta", disse.

No carro tem a seguinte frase dirigida a colegas que possam estar hesitantes em aderir à concentração: "Como poderás sentar-te em frente aos teus filhos e dizer-lhes que têm direitos se tiveste medo de lutar?".

A propósito de adesão à concentração, que teve início nos Aliados pelas 06:00 de quarta-feira, o vice-presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), José Monteiro, acredita que os motoristas de táxi estão a aderir ao protesto "em força e em massa".

Em declarações à Lusa, cerca das 09:00, apontou que "já foi necessário pedir ao Comando Metropolitano da PSP do Porto para aumentar o perímetro onde é permitido aos taxistas estacionarem o carro", garantindo que "a última coisa que a organização do protesto quer é gerar transito e transtornos à população".

"É expectável que a luta se intensifique. Mas tenho esperança que as associações nacionais os grupos parlamentares cheguem a um entendimento. A Uber [uma das quatro plataformas eletrónicas a operar em Portugal] não pode entrar num país e fazer tábua rasa da legislação. O setor está disponível para negociar, mas é a nossa sobrevivência que está em causa", disse José Monteiro.

Opinião semelhante tem José Brito, motorista de táxi há 17 anos que ficou nos Aliados a noite toda e diz "ter passado pelas brasas para aí umas duas horas dentro do carro só para estar preparado para o dia de hoje".

José Brito quer que "a solução chegue depressa", porque "a família e os empregados dependem do táxi para viver", mas garante que "não arreda pé dos Aliados" e fica "o tempo que for preciso".

Carlos Lima, da Federação de Táxis do Porto, contou que "o convívio durante a noite na avenida fez lembrar velhos tempos de luta, coragem e solidariedade de classe", frisando que "o protesto só levanta se chegarem de Lisboa respostas positivas".

"O pessoal está motivado. Isto tem sido muito ordeiro e tranquilo. Apenas pensamos nos nossos direitos", referiu à Lusa Carlos Lima.

"Não é justa nem leal. TVDE no Constitucional" ou "30 mil postos de trabalho em risco" são algumas das frases que se leem nas faixas colocadas junto ao muro da Câmara Municipal do Porto, isto enquanto um ou outro táxi circula com um papel a esclarecer "Reservado a Serviços Mínimos", serviços esses que José Tomé, taxista há 32 anos, promete só fazer "em caso de muita emergência" porque não quer sair dos Aliados.

"Não foi a minha primeira noite dentro do carro e se for preciso não é a última. Temos de zelar pelos nossos interesses. Estamos a lutar pelo que é justo e contra os ilegais. Somos 700 táxis no Porto e eles [referindo-se às plataformas] já são mais de 1.000. É desleal", disse.

Os taxistas continuam hoje concentrações em Lisboa, Porto e Faro contra a entrada em vigor, em 1 de novembro, da lei que regula as quatro plataformas eletrónicas de transporte em veículos descaracterizados que operam em Portugal - Uber, Taxify, Cabify e Chauffeur Privé.

Desde 2015, este é o quarto grande protesto contra as plataformas que agregam motoristas em carros descaracterizados, cuja regulamentação foi aprovada, depois de muita discussão, no parlamento, em 12 de julho, com os votos a favor do PS, do PSD e do PAN, os votos contra do BE, do PCP e do PEV, e a abstenção do CDS-PP.

A legislação foi promulgada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em 31 de julho.

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