"É um filme que conheço bem", diz Marcelo a bolseiros da ciência em protesto - TVI

"É um filme que conheço bem", diz Marcelo a bolseiros da ciência em protesto

  • JFP
  • 4 jul 2018, 20:42

No CCL, Marcelo participa na sessão de encerramento do encontro Ciência 2018.

O Presidente da República foi esta quarta-feira abordado por bolseiros de investigação científica que participavam num protesto contra a precariedade laboral, o qual juntou uma centena de pessoas e disse-lhes que esse "é um filme" que conhece bem.

Em frente ao Centro de Congressos de Lisboa, onde decorre o encontro "Ciência 2018", os cerca de cem manifestantes formaram duas filas, aguardando a chegada de Marcelo Rebelo de Sousa, mas o chefe de Estado saiu do carro um pouco mais à frente.

Alguns deles dirigiram-se então a Marcelo Rebelo de Sousa e abordaram-no quando este caminhava para a entrada do edifício, entregando-lhe documentação sobre a situação como bolseiros de investigação científica em Portugal, enquanto ao fundo os outros manifestantes gritavam "contratos, sim, bolsas não".

"Boa tarde, senhor Presidente, nós somos bolseiros de investigação científica. Estamos há muitos anos a trabalhar como bolseiros de investigação e merecemos um contrato", queixaram-se.

"Então, não sei? Eu sei, eu conheço o problema, como imaginam", foi a resposta do chefe de Estado, que continuou a andar até à porta do Centro de Congressos de Lisboa.

Numa curta conversa, sempre em andamento, os bolseiros alegaram que "as instituições e a tutela estão a boicotar" a regularização da sua situação e pediram ao Presidente da República que, "dentro da sua magistratura," tente intervir.

Já no interior do edifício, enquanto subia as escadas, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou: "É um filme que eu conheço bem".

É uma das raras vezes em que Marcelo Rebelo de Sousa é confrontado com a insatisfação popular.

Antes de seguir para o encontro, o Presidente esteve no encerramento do seminário "A Segurança, a Defesa Nacional e as Forças Armadas", na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e afirmou que nos próximos anos haverá um "investimento acrescido" nas Forças Armadas e, relativamente à contribuição para a NATO, adiantou que o primeiro-ministro "apresentará o plano concreto" português na cimeira da próxima semana.

Bolseiros vaiam ministro da Ciência

O ministro da Ciência, Manuel Heitor, foi apupado pelos bolseiros de investigação científica enquanto discursava na sessão de encerramento do encontro Ciência 2018.

Dezenas dos que haviam protestado horas antes contra a precariedade laboral na ciência, no exterior do Centro de Congressos, acompanharam de pé, na sala, a intervenção de Manuel Heitor com assobios quando o ministro disse que o Governo está "sempre a favor de mais emprego científico e mais diálogo".

Alguns dos manifestantes viraram costas ou pontuaram o discurso do ministro gritando "cumpram a lei!", numa referência à legislação que prevê a contratação de investigadores-doutorados em substituição de bolsas de formação de pós-doutoramento.

Irredutível, Manuel Heitor fez o balanço do Ciência 2018 e passou em revista as reformas feitas pelo Governo no setor e as metas alcançadas, como o de a despesa privada em investigação superar "pela primeira vez" a despesa pública.

Dirigindo-se indiretamente aos manifestantes, que volta e meia se riram quando falava, o ministro afirmou, irónico: "Todos queremos que todos vocês se riam".

No final do discurso, os bolseiros, que vestiam t-shirts pretas com um ponto de interrogação nas costas, voltaram a assobiar Manuel Heitor e gritaram "Carreiras é preciso" e "Contratos sim, bolsas não".

À saída, confrontado pela Lusa com o protesto, o ministro respondeu: "A minha luta é a do emprego científico".

Rejeitando responsabilidades do Governo, Manuel Heitor disse que "há resistências bem identificadas" de instituições em contratar investigadores, referindo em particular a Universidade de Lisboa, cujo reitor tem defendido a contratação de professores, uma possibilidade que a legislação de estímulo ao emprego científico permite.

Apesar de reconhecer entraves, apontados pelos bolseiros, o ministro frisou que as universidades "têm autonomia que tem de ser respeitada", cabendo ao Governo usar "a persuasão".

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