"Ela olhava para mim a pedir ajuda". O relato da morte de Valentina pela madrasta - TVI

"Ela olhava para mim a pedir ajuda". O relato da morte de Valentina pela madrasta

Márcia Monteiro é uma das acusadas da morte da criança de nove anos

A madrasta de Valentina contou em interrogatório judicial tudo o que aconteceu no dia em que a criança de nove anos morreu espancada pelo pai. Em mais uma sessão do julgamento no qual Márcia Monteiro e Sandro Bernardo estão acusados de homicídio qualificado e profanação de cadáver, foram reproduzidas as declarações da mulher no primeiro interrogatório judicial.

No dia dos factos, por volta das 10:00, a criança abordou a madrasta "com uns papelinhos que tinha feito com os amigos". Márcia Monteiro não chegou a ler o conteúdo, mas o pai da criança disse que diziam para tocarem na vagina da criança.

Valentina confirmou de seguida que enviava os papéis aos amigos da escola, ao que Sandro Bernardo reagiu com violência: "O Sandro começou a bater-lhe porque ela queria encobrir a situação e ele queria saber [o que se passava]", revelou a madrasta.

Seguiu-se uma discussão entre o pai e a criança, que acabou por resultar em mais agressões: "Ele primeiro bateu com a mão no rabo. Depois ela começou a chorar e eu coloquei-me no meio para ele não a agredir. Ela disse que também fazia com o padrinho", disse Márcia Monteiro.

A criança terá então dito que o referido homem, amigo da mãe, lhe mexia na vagina, e que ela também lhe mexia nos genitais. Em troca, segundo contou Márcia Monteiro, e reproduzindo as palavras da menina, o padrinho prometia a Valentina coisas, como ir andar de bicicleta.

Questionada sobre o facto de nunca ter referido isso a ninguém, a criança afirmou ter medo. A seguir, terão começado novas agressões.

O Sandro ficou completamente cego. Vi-o a começar a bater novamente nela, com muita força e eu sempre a tentar separar e ele a levá-la para a casa de banho. Ele já estava a bater em todo o lado. No rabo, nas pernas, com a mão", acrescentou.

Márcia Monteiro dirigiu-se então à casa de banho, onde deu conta de que Sandro Bernardo estava a molhar Valetina com água quente. Disse ao homem para parar, ao que lhe foi respondido que não era o pai da criança.

Depois de a menina sair do chuveiro, a madrasta reparou que Valentina não estava bem: "E eu vi que parece que ela olhava para mim a pedir-me ajuda".

De seguida, o casal levou a criança para a cozinha, já depois de Sandro Bernardo ter recusado chamar bombeiros ou INEM. Márcia Monteiro afirma que foi acompanhando a situação, mas que a criança "não se segurava sozinha".

A menina terá, então desmaiado. Aí, Márcia Monteiro tentou reanimá-la, vendo que a criança ainda respirava.

Disse para pedirmos ajuda. Ele disse q ela ia ficar bem. Aconcheguei-a no sofá. Ela respirava, vi o cobertor a movimentar", referiu.

Márcia Monteiro e Sandro Bernardo saíram depois para fazer compras. Foi Raúl, filho de Márcia, quem ficou a tomar conta da menina. Acabou por ligar à mãe a dizer que a menina estava a "espumar da boca".

Seriam cerca das 17:00/18:00 quando os adultos regressaram a casa, quase oito horas depois das primeiras agressões. Ao chegarem, a criança estava na mesma posição, algo que a madrasta achou estranho, até porque "ela mexe-se muito quando está a dormir".

Aí, Márcia Monteiro diz a Sandro Bernardo que o melhor é mesmo pedir ajuda. De seguida, o pai da menina diz que "já não há nada a fazer". O casal entrou em pânico, e o pai de Valentina seguiu a fazer ameaças a Márcia Monteiro, dizendo que, caso não o ajudasse, ia dizer que ela tinha participado em tudo como cúmplice.

O Sandro obrigou me a vestir a menina. Ele disse que se eu n a vestisse...", disse, enquanto chorava.

A madrasta acabou mesmo por vestir a criança, afirmando depois que Sandro Bernardo parecia já ter tudo planeado: "Ele já tinha na cabeça dele o que era para fazer".

Quando eu desci, o Sandro já estava no pendura. Eu sentei-me, não quis ver nada. Só fiz o que ele mandou. Não olhei para trás. Foi o Sandro que me disse para onde íamos, para os lados de Ferrel. Eu ia o caminho todo a chorar, e ele a chorar também. Estávamos em pânico.

Depois, o pai da vítima ordenou à madrasta que parasse o carro. Sandro Bernardo desapareceu durante "20 minutos". Márcia Monteiro não sabe onde foi.

Em nenhum momento saí do carro. Ele antes disse me 'vê lá o que vais fazer'", explicou.

Quando finalmente questionou Sandro Bernardo sobre o que tinha feito, Márcia Monteiro voltou a ser ameaçada, juntamente com os seus filhos: "Ele disse que tínhamos de dizer que a menina tinha desaparecido. E disse ao Raúl a mesma coisa. Disse ao Raúl que, se ele dissesse alguma coisa, nunca mais me via a mim e às manas".

Pai e madrasta respondem em co-autoria por homicídio qualificado, profanação de cadáver, abuso e simulação de sinais de perigo. O pai, por ter sido o autor das agressões, está ainda acusado de violência doméstica.

A criança, de nove anos, foi dada como desaparecida na manhã de uma quinta-feira, depois de uma denúncia do pai no posto de Peniche da GNR. Na manhã de domingo, 10 de maio, foi encontrada sem vida numa zona eucaliptal, na Serra D'el Rei, em Peniche. 

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