«Professores não têm medo da avaliação» - TVI

«Professores não têm medo da avaliação»

Mário Nogueira

Mário Nogueira explica a contestação geral ao modelo aplicado pelo Ministério da Educação

Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, garante que os professores não receiam a avaliação do desempenho, mas assume a luta contra o modelo aplicado pelo Ministério da Educação.

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Muitas das perguntas enviadas ao PortugalDiário pelos leitores visaram as reais motivações para esta rejeição da avaliação. «Os professores não têm medo de ser avaliados, porque lidam no dia-a-dia com ela. O problema é como é que são avaliados e que modelo é aplicado», frisou.

«Criticamos a dimensão burocrática do modelo, porque envolve as pessoas em alturas cruciais do ano. Se estão com medo de ter uma classificação negativa? Não, porque a lei este ano já contempla que se tiverem insuficiente ou regular, as duas classificações que têm penalizações, não terão implicação negativa porque é um ano de transição ou em que que não é absoluto no modelo», explicou.

Na sua opinião, «se os professores pensarem apenas nas penalizações deste ano, não têm problemas»: «A questão é que este ano, os momentos mais trabalhosos, com maior envolvimento dos professores, potencialmente mais conflituosos do ano, com o preenchimento da auto-avaliação e as reuniões com avaliadores serão em Junho e Julho. É precisamente quando há exames, quando há maior necessidade de apoio dos professores alunos. Ou seja, é o próprio Ministério da Educação que quer que os professores se distraiam. Isso é uma irresponsabilidade»



Formação antes de progressão

Nogueira concorda que «o mérito tem de ser premiado», assim como não deve haver receio de penalizar quem não trabalhar tão bem. Ainda assim, considera que «a avaliação só faz sentido se for formativa», porque «o mais importante é que as pessoas sejam melhores profissionais, não é que progridam».

«O que propomos é que o professor possa requerer observação de aulas, bem como uma análise curricular. O que já não defendemos é que depois dos professores terem conseguido este mérito reconhecido não possam ser distinguidos porque há quotas», alertou o secretário-geral da Fenprof, considerando que a decisão está, agora, nas mãos dos professores:

«A avaliação suspende-se nas escolas e principalmente é uma decisão pessoal de não entregar os objectivos de avaliação. Esta é a principal e mais exigente luta. Se há luta que está a ser travada nas escolas é esta».

Estatuto da Carreira Docente em discussão

Com o modelo de avaliação a ser contestado, os sindicatos avançam para novas reuniões com o Ministério da Educação já esta quarta-feira. Em cima da mesa, o processo de revisão do Estatuto da Carreira Docente, tendo como debate inicial a «prova de avaliação de conhecimentos e competências para o exercício da função docente», vulgarmente conhecida como «prova de ingresso».

«A reunião resulta de uma exigência dos professores para que o Estatuto volte a ser revisto. Abrir uma nova revisão não era intenção do Governo, mas dos professores. É um primeiro teste, mas as questões principais acontecem em Fevereiro e Março. Em Fevereiro o tema central é a estrutura da carreira e vamos propor o fim da divisão da carreira em categorias; em Março aborda-se a avaliação do desempenho».

Quanto à prova de ingresso, Mário Nogueira é objectivo. «É uma prova que o Governo tenta impor no sentido de afastar da profissão os recém-licenciados, alguns com algum tempo de serviço, porque não têm capacidade provar o que é ser um bom professor num exame de 90 minutos. O Ministério tem justificado esta prova por algumas instituições inflacionarem notas. Mas, se o Governo sabe disso, surpreende-nos que continue a validar e reconhecer os cursos. Em vez de intervir sobre a instituições, preferem fazer um exame mais tarde. É uma hipocrisia», vincou, garantindo que a Fenprof vai propor o fim desta prova.
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