«Batia de cinto nos idosos» - TVI

«Batia de cinto nos idosos»

Encerramento do lar Nossa Senhora do Auxílio

Funcionária denunciou maus tratos físicos e psicológicos em lar de idosos. Alerta foi dado há quatro anos. Lar foi fechado esta sexta-feira

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Leonor Rodrigues, a funcionária do lar Nossa Senhora do Auxílio, em Pedrouços, Maia, que esta sexta-feira foi encerrado por denúncias de maus tratos contou aos jornalistas que chegou a ver «a dona do lar a bater num idoso de cinto».

O caso aconteceu no final de 2007, mas desde então, teve conhecimento de outro caso e chegou mesmo a ver «as marcas» da agressão noutro utente. «Ela dizia que aprendeu em psicologia que era assim que os devia tratar».

A funcionária conta que «um dos idosos, surdo mudo, já estava tão habituado a estas situações que, quando ela o chamava, ele levantava logo a camisola para ela lhe bater».

«Há um ano que trabalho do lar e sempre ouvi falar de agressões», adiantou. Além dos maus tratos físicos, Leonor Rodrigues, disse que havia ainda «maus tratos psicológicos».

«Não havia higiene»

Maria Eugénia Soares da Costa teve o pai neste lar e emocionada conta o que o idoso passou: «não havia higiene, não lavavam os idosos, não lavavam a roupa, era eu que tinha de lavar a roupa do meu pai em casa, chegavam a estar três dias sem papel higiénico, não tinham saneamento básico». A familiar conta que a negligência também se verificava a nível alimentar «eles comiam massa com massa». «E cada um paga mais de mil euros por mês para cá estar», adiantou.

Em Janeiro deste ano, o pai de Maria Eugénia saiu do lar, mas a filha garantiu que «não ia descansar» enquanto os outros idosos não saíssem também.

Dona do lar arguida

Ana Paula Pereira, proprietária do lar, foi constituída arguida. Num breve comunicado aos jornalistas, o comissário Marco Teixeira, da PSP do Porto, afirmou que as autoridades procederam «à execução de um mandado de busca domiciliária e apreensão para recolher indícios na sequência de uma denúncia de maus tratos».

No local estiveram, além da PSP, a magistrada do Ministério Público titular do caso, elementos da Segurança Social, e técnicos do Instituto de Medicina Legal do Porto, que estiveram a fazer exames aos utentes no local.

Situação denunciada há quatro anos

Teresa Frade, assistente social da Câmara da Maia, contou aos jornalistas que a primeira situação de que teve conhecimento «foi há quatro anos». «A família de um idoso que se queixava de negligência e dizia mesmo que uma das funcionárias do lar lhe batia, pediu-me ajuda». A responsável conta que falou com a dona do lar sobre a situação e esta lhe disse que «realmente a empregada era atravessada, que não batia bem, mas que iria ser despedida».

«O idoso foi de férias a casa e já não voltou porque dizia que se matava se o pusessem de novo neste lar. A Segurança Social retirou-o daqui», disse Teresa Frade, que explicou que desde então ficou «descansada» porque sabia que a Segurança Social tinha conhecimento do caso.

«Os funcionários, ex-funcionários e ex-utentes do lar contaram-me que havia aqui maus tratos físicos e psicológicos, negligência a nível de higiene, de alimentação, faltava muitas vezes a comida», adiantou.

Lar clandestino

A assistente social denunciou ainda a existência de um lar clandestino, que será propriedade da dona do lar Nossa Senhora do Auxílio. «Contaram-me que às vezes os utentes ficam fechados, sem comida, e que acabam por ter de comer comida de cão, ou são os vizinhos que lhes atiram alguma coisa para comer».

Segurança Social diz que agiu em cinco dias

Luís Cunha, director do Centro Distrital do Porto da Segurança Social, disse aos jornalistas que em Dezembro de 2007 houve uma denúncia, foi feita uma inspecção, mas ninguém confirmou as situações em causa. Só numa segunda inspecção, é que os utentes confirmaram os factos.

O responsável garante que de imediato as situações criminais foram encaminhadas para o Ministério Público e que foi emitido o despacho de encerramento do lar. «Desde que recebi o relatório, até o lar ser encerrado, passaram cinco dias», garantiu.
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