Sara  era a filha «rejeitada» - TVI

Sara era a filha «rejeitada»

Bebé

Monção: mãe agredia a menor de dois anos porque esta era fisica e psicologicamente frágil, diz acusação. Ao contrário dos irmãos, Sara apresentava-se «muito suja, mal agasalhada e com um apetite anormal». Vizinhos apercebiam-se do tratamento desigual. Educadoras viam «hematomas, unhadas e beliscões». Morreu porque «sujou a roupa»

Sara, a menina de dois anos alegadamente morta pela mãe, em 2006, na zona de Monção, era uma menina «frágil» fisica e psicologicamente, facto que irritava a progenitora. Segundo a acusação, a arguida discriminava-a em relação aos irmãos.

O tratamento diferenciado ficava bem patente, conforme sustenta a acusação, no facto de os irmãos se mostrarem «mais bem alimentados, robustos, limpos, cuidadosamente vestidos e alegres».

Uma situação que contrastava com o estado da pequena Sara que se apresentava «muito suja, mal agasalhada e cheia de frio na época do Inverno, sem as fraldas mudadas atempadamente, ensopadas de urina, triste e com um apetite anormal».

«Além disso, prossegue o Ministério Público, apresentava frequentemente nódoas negras e sinais de mordeduras/dentadas no corpo».

A menina nasceu a 30 de Junho de 2004, numa altura em que a família residia em Viseu. De acordo com o Ministério Público, os vizinhos de então já se apercebiam de que a mãe da menina lhe dispensava um «tratamento negativamente diferenciado» relativamente aos irmãos.

Em Agosto de 2006, a família que até aí residira na zona de Viseu, mudou-se para Monção, onde o progenitor, operário fabril, arranjou emprego. Carlos saía por volta das seis da manhã e só regressava a casa de noite.

Também aqui os vizinhos e restantes pessoas que contactavam com a família repararam na forma como a Sara era «desigualmente tratada (aparentemente rejeitada) pela arguida com respeito aos seus irmãos».

Sara ficava sozinha em casa «durante horas»



Sara é descrita como uma menina «física e psiquicamente frágil, pouco activa e que teve dificuldades em começar a andar»». Passava a maior parte do tempo deitada no sofá, sem que a arguida se preocupasse em «espevitá-la», irritando-se mesmo com ela, agredindo-a e negligenciando a alimentação da menor.

Ana Isabel é mesmo acusada de se deslocar ao café com os outros três filhos, deixando a pequena Sara em casa «durante horas, entregue a si própria».

As funcionárias e educadoras do Centro Infantil da Santa Casa da Misericórdia de Monção, que os quatro irmãos passaram a frequentar a 7 Novembro de 2006, repararam que a menina «além de suja, mal vestida e agasalhada» apresentava-se também «sôfrega a comer, devorando tudo o que lhe punham à frente, repetindo a sopa e o prato do dia e pedindo pão mal chegava ao centro infantil».

O primeiro sinal de maus tratos foi detectado ao segundo dia, quando as educadoras tiveram de dar banho à criança, face à sua sujidade, tendo logo nessa altura detectado uma «nódoa negra» na região lombar.

Mais hematomas, vestígios de unhadas e beliscões na zona lombar, testa, nuca e ancas foram detectados em momentos posteriores, designadamente a 26 de Dezembro, véspera de a criança falecer. Além disso, saltavam à vista as lesões corporais, «hematomas/equimoses/nódoas negras em diversas partes do corpo», designadamente no rosto, nas costas e nas ancas.

Sara já estava a ser acompanhada pela Comissão de Protecção de Menores de Monção, na sequência de uma denúncia da «creche» por suspeitas de maus tratos.

A comissão marcou então uma consulta no centro de saúde de Monção para avaliar o estado clínico da menina e esclarecer os indícios de maus tratos. A consulta foi marcada para dali a 15 dias, ironicamente o dia em que a menina morreu.



O julgamento começa a 26 de Novembro, às 9:30. A arguida responde por homicídio qualificado e maus tratos, arriscando uma pena de 25 anos de prisão.



Veja a primeira parte do artigo: «Sara morta porque sujou a roupa»
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