Há quem esteja a ir ao médico de família para obter atestado para a carta de condução e não esteja a conseguir sair do consultório com o documento. A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos avisa que 96% dos médicos de família não têm os meios necessários emitir o atestado por via eletrónica.
É a conclusão de um questionário de avaliação de satisfação realizado pelo Gabinete de Informação e Tecnologia da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, ao qual responderam 506 profissionais.
O estudo, que pretendeu avaliar a satisfação pelo novo processo de emissão dos atestados médicos para cartas de condução por via eletrónica, aponta ainda que 73,4% dos médicos reporta erros informáticos em mais de 25% dos atestados que emite, lê-se na nota enviada à Lusa.
95,8% não tem ao dispor todos os meios de que necessita para a avaliação pormenorizada do utente"
Faltam meios oftalmológicos: potência das lentes, campo visual e visão periférica, visão das cores, visão crepuscular, doenças oftalmológicas progressivas.
93,3% dos inquiridos consideram que a relação médico - doente pode ser posta em causa e 87,9% dos inquiridos necessitam de mais do que uma consulta para a emissão do atestado"
Os resultados revelam ainda que 68,8% dos inquiridos apresentam insatisfação com a aplicação para a emissão de atestados para a carta de condução e que 76,8% acreditam que a consulta após a referenciação necessária não ocorrerá em menos de seis meses.
A demora na emissão
Depois, o processo é moroso. Mais de metade (54,5%) respondeu que necessita de mais do que 30 minutos para emitir um atestado. Do total, 17,1% demora mesmo mais de 45 minutos.
Também mais de metade (53,7%) considera que o novo modelo eletrónico para emissão de atestado para carta de condução é pouco intuitivo. A esmagadora maioria (95,4%) concorda com a criação dos centros de avaliação médica e psicológica.
De acordo com a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, o resultado deste questionário de avaliação evidencia o impacto negativo provocado pela emissão de atestados por via eletrónica no dia-a-dia dos médicos especialistas em medicina geral e familiar.
Este inquérito de satisfação é mais um aviso para que o Ministério da Saúde possa encontrar uma solução urgente", adverte Ivo Reis, coordenador do Gabinete de Informação e Tecnologia da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos.
O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, considera mesmo que não se devia ter avançado com a informatização sem a criação de centros especializados.
Os cuidados de saúde primários estão a ficar atolados de problemas criados pela obrigatoriedade dos atestados médicos emitidos por via eletrónica".
No seu entender, os responsáveis pelo Ministério da Saúde deveriam suspender este novo modelo até à criação dos Centros de Avaliação Médica e Psicológica, que "foram prometidos e nunca foram criados".