Maus tratos: 17% das crianças regressam ao hospital - TVI

Maus tratos: 17% das crianças regressam ao hospital

Criança

Director de serviço do D. Estefânia defende que os médicos devem melhorar os rastreios

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O director do Serviço de Ortopedia do Hospital D. Estefânia defendeu esta quinta-feira que os médicos devem fazer um rastreio correcto das situações de maus tratos nas crianças, alertando que 17 por cento das vítimas acabam por voltar ao hospital, refere a Lusa.

Esta situação insere-se no trauma infantil, um dos temas que vai ser debatido no 28.º Congresso da Sociedade Europeia de Ortopedia Pediátrica (EPOS), que decorre entre hoje e sábado em Lisboa e reunirá mais de 400 especialistas, maioritariamente oriundos da Europa e dos EUA.

A propósito do congresso, que se realiza pela segunda vez em Portugal, Manuel Cassiano Neves, director do Serviço de Ortopedia do Hospital D. Estefânia e presidente do Comité Organizativo do Congresso da EPOS, disse que o trauma infantil é a causa número um de morte nas crianças até aos 14 anos.

Cassiano Neves explicou que o trauma infantil inclui o pequeno trauma, mas também os traumatismos graves, que podem pôr em risco a vida da criança.

«Os traumatismos têm origem em quedas e acidentes, mas também não podemos esquecer os maus tratos», que podem provocar lesões que levam à morte da criança, sublinhou.

O ortopedista explicou que «uma situação de maus tratos não diagnosticada pode tornar-se uma situação grave», daí a necessidade dos médicos estarem alertados para esta situação.

«Dezassete por cento das crianças acabam por ter uma segunda visita ao hospital», frisou, considerando «fundamental que os médicos façam um rastreio correcto desta situação».

Contudo, «não podemos cair no exagero de, por qualquer razão, considerar um mau trato», ressalvou Cassiano Neves, recordando casos em que os pais ficam com medo de levar o filho ao hospital.

«A criança tem uma doença metabólica que altera a formação do osso e depois os pais até se sentem culpados porque pensam que estão a maltratar a criança», comentou.

A escoliose, caracterizada por uma curvatura da coluna no plano antero-posterior que faz com que o corpo fique assimétrico, é outro tema que vai ser debatido no congresso.

Cassiano Neves informou que as escolioses têm uma incidência que pode ir entre 1,8 e 5 por cento da população infantil, mas apenas 5 por cento destes doentes precisam de tratamento.

«Tem uma prevalência grande, mas a incidência dos problemas é bem mais diminuta», sublinhou o médico.

A escoliose pode ter várias causas, como genética, problemas neuromusculares ou comprimento desigual dos membros inferiores, mas o mais comum são as escolioses de causa desconhecida (idiopáticas), que se manifestam na infância ou mais frequentemente na adolescência.

Estas deformidades podem estabelecer-se de forma rápida, obrigando a uma vigilância cuidada na sua prevenção, particularmente na fase da puberdade.

Nas formas graves, a única maneira de a corrigir é através de cirurgia, estimando-se que a escoliose afecte 2 por cento das mulheres e 0,5 por cento dos homens.

Actualmente, podem ser efectuadas cirurgias minimamente invasivas da coluna no tratamento da escoliose, possibilitando que o paciente retome rapidamente a sua vida normal, de uma forma menos dolorosa.

Para que as crianças «cresçam mais direitas e de uma forma mais saudável», Cassiano Neves aconselhou os mais pequenos a fazer actividade física, como andar de triciclo ou bicicleta.

«Os ossos desenvolvem-se por acções dos músculos. Se não existe uma actividade muscular, eles não crescem normalmente», frisou, comentando: «Não faz sentido nenhum que uma criança tenha uma mota eléctrica».
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