2016: Uma Odisseia que já não é só para geeks - TVI

2016: Uma Odisseia que já não é só para geeks

  • Sofia Santana
  • 17 nov 2016, 21:00
Conferência internacional "Mensageiros das Estrelas"

Muito graças a fenómenos da cultura popular como "Game of Thrones", o entusiasmo sobre ficção científica e fantasia nunca foi tão grande como agora. O colóquio internacional “Mensageiros das Estrelas” decorre até sexta-feira na Faculdade de Letras, em Lisboa

Proporcionam viagens a lugares onde a imaginação não conhece limites, sejam eles numa sociedade futurista ou num passado medieval. A ficção científica e a fantasia são géneros que desafiam o tempo e o espaço e ultrapassam os obstáculos da realidade para criar narrativas únicas, em universos muito especiais. Muito graças a fenómenos da cultura popular como "Game of Thrones", o entusiasmo sobre estes géneros nunca foi tão grande como agora. Para quem é fã, interessado ou apenas curioso sobre o assunto, até sexta-feira, todos os caminhos vão dar à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 

A ficção científica e a fantasia em Portugal "estão de boa saúde e recomendam-se". Quem o diz é o investigador José Duarte, que, em entrevista à TVI24, explicou como os filmes e as séries de televisão, como "Game of Thrones" ou "The Walking Dead", tornaram este mundo "mais interessante e mais cativante", atraindo novos fãs, dos oito aos oitenta. 

O colóquio sobre ficção científica e fantasia “Mensageiros das Estrelas” decorre até sexta-feira na Faculdade de Letras, em Lisboa, e traz a Lisboa convidados internacionais como o escritor escocês Ken MacLeod e os académicos Andrew M. Butler e Katherine A. Fowkes.

A ficção científica e a fantasia estão de "boa saúde" em Portugal?

Acho que o cinema e as séries de televisão tiveram um tremendo impacto nesse desenvolvimento. Pode-se considerar que a literatura fantástica e de ficção científica em Portugal está de boa saúde e recomenda-se. Claro que há coisas boas e coisas menos boas. Cabe também a nós, enquanto estudiosos, porque no fundo não olhamos só para o puro prazer da leitura, fazer uma análise deste tipo de literatura. Há alguns escritores que de facto estão a fazer trabalho com bastante valor e com reconhecimento. Para além do Luís Filipe Silva posso destacar um convidado já de outras edições, que tem um trabalho muito interessante, que é o Filipe Melo, que fez a BD "Dog Mendonça e Pizzaboy", que realizou a curta-metragem “I’ll se you in my dreams”. Existem imensas editoras a produzir, e nós inclusivé queremos também dar a possibilidade de trabalhar um bocadinho mais a ficção científica e a fantasia de Portugal. Há portugueses a operar no estrangeiro que tiveram primeiro reconhecimento lá fora e estão cá agora a ter reconhecimento em Portugal, como é o caso do Ricardo Pinto que é um escritor que vive em Inglaterra e que penso que é publicado pela Presença.

Chamou a atenção para uma questão importante, que tem a ver com o facto de os fenómenos da cultura pop, como os filmes e as séries, terem dado impulso a estes géneros. Pode-se dizer que produtos como Game of Thrones levaram a ficção científica e a fantasia a públicos que tinham algum preconceito com estes géneros?

No fundo, este fenómeno veio contribuir para um maior entusiasmo com a ficção científica e a fantasia. No caso de Game of Thrones, The Walking Dead e outras readaptações, temos pessoas a estudar esses temas. Por um lado, há uma maior atenção sobre estas obras enquanto objetos com o seu valor autónomo, com a sua própria importância e, por outro lado, há um certo entusiasmo com estas séries, e no caso das séries então é óbvio. O que tentamos na conferência é encontrar um meio caminho em que se possa desfrutar do objeto e pensar o objeto. A conferência é a prova viva de que as séries de televisão, os filmes, depois as reproduções dos livros através dos filmes ou filmes que são adaptados por obras de ficção científica ou fantasia tornaram este mundo mais interessante, mais cativante, as pessoas quiseram aprender mais sobre isso. [A conferência] Oscila entre esta ideia de entusiasmo e o pensar sobre o objeto, o porquê deste objeto estar a ser produzido no aqui e no agora. Como em tudo, claro que existem obras com melhor qualidade e outras com menor qualidade.

Estes são géneros muito associados aos jovens, às gerações mais novas. Há cada vez mais fãs de ficção científica e fantasia também nas gerações mais velhas?

Claramente. No nosso caso, no projeto estamos divididos em blocos diferentes e vamos dos oito aos oitenta. Temos várias gerações interessadas a trabalhar este tema. Existem pessoas que estão só ligadas à área da fantasia, outras que estão só ligadas à área como a distopia e a utopia, pessoas que estão ligadas a área da adaptação cinematográfica, pessoas que estão a estudar BD e todas elas com diferentes idades. As próprias gerações mais velhas estão interessadas e querem colaborar, têm muito para contribuir e nós muito para aprender com eles.

O que é o “Mensageiros das Estrelas”? Fale-nos um pouco sobre este evento.

Esta já é a quarta edição. É uma conferência realizada de dois em dois anos. Está agregada a um projeto chamado “Mensageiros das Estrelas”, que é composto por docentes da Faculdade de Letras e do Centro de Estudos Anglísticos, ao qual o projeto está agregado, por outros investigadores de outras instituições e por investigadores juniores. É um projeto multidisciplinar que atenta no estudo da ficção científica e da fantasia nas suas múltiplas formas desde a high culture até à cultura popular, da ficção científica e fantasia mais dura até textos de filmes e outro tipo de meios que estão relacionados inclusivé com a cultura popular. No fundo nós promovemos o estudo da ficção científica e da fantasia em diferentes áreas que podem ir desde a literatura ao cinema à cultura popular, entre outras formas.

Que tipo de atividades promovem?

A conferência em si, neste momento estamos já na quarta edição, cresceu de uma forma bastante agradável e conta quase sempre com três plenárias de estudiosos de ficção científica e fantasia e um escritor, dois plenárias dedicadas à parte académica e uma plenária ligada à parte prática. E este ano temos a Katherine A. Fowkes, que é uma professora da High Point University, o Andrew M. Butler, University of Canterbury, e o Ken MacLeod, que é um escritor escocês, que eu penso ainda não estar traduzido em Portugal. Fora isso, a conferência tenta agregar pessoas que são interessadas pela ficção científica, não são só os académicos e os escritores. Temos uma série de alunos que estão aqui e permite a várias pessoas de várias instituições do mundo, de várias universidades virem apresentar os seus estudos sobre a ficção científica. Há todo o tipo de apresentações, sobre banda desenhada, sobre cinema, sobre literatura, de pessoas vindas da Turquia, da Polónia, de Inglaterra, França, Espanha. E obviamente as pessoas da instituição.

A ficção científica e a fantasia portuguesas também têm destaque no programa?

No projeto temos uma linha de investigação que está preocupada com a relação com a literatura portuguesa - a literatura de ficção científica e fantástica portuguesa relacionada com o mundo anglófono, isto porque, no fundo, nós somos de Estudos Ingleses e Americanos. De destacar um convidado, que é muitas vezes colaborador formal e informal do nosso projeto, que é o escritor Luís Filipe Silva, que já é conhecido dentro da ficção científica e inclusivé vai haver painéis onde ele está também incluído de apresentações relacionadas com a literatura fantástica e de ficção científica em Portugal. Também há essa vertente, o que nos interessa também é estabelecer essa leitura de comparação de influências de estruturas similares e de relação.

Que apelo gostaria de deixar aos fãs de ficção científica e fantasia?

Gostaria que as pessoas que tivessem oportunidade viessem a esta conferência, que refletissem sobre a ficção científica, sobre a fantasia e confraternizassem. A partir daí podem nascer novas ideias, novos projetos, novas possibilidades. 

 

Consulte o programa completo da conferência "Mensageiros das Estrelas" no site do evento.

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