Por detrás do negócio da caridade - TVI

Por detrás do negócio da caridade

Caixotes para roupa usada (Humana People-to-People Alert)

Há anos que investiga a Tvind. É jornalista em Londres e construiu um site chamado Tvind Alert. Michael Durham já evitou que voluntários fossem «ao engano». PDiário entrevistou-o

Michael Durham investiga a fundo a associação Humana, Tvind, Teachers Group, e outras congéneres com nomes diversos, e já viu estas organizações pedirem em tribunal que a sua página on-line fosse retirada do ar. Até agora não conseguiram.

Durham e o colega dinamarquês, Frede Jakobsen, não desistem da sua cruzada: querem expor os líderes e as suas actividades e alertarem o mundo para um negócio que eles consideram fraudulento.

O PDiário sabe que um grupo de portugueses foi alertado pelo site Tvind Alert, depois de terem respondido aos anúncios nos jornais, e acabaram por não viajar para um estágio que os levaria a África. E, claro, à angariação de fundos pelas ruas de alguns países europeus.

Como especialista neste tema, o PDiário entrevistou Durham e ficou a saber quantas pessoas estão no Teachers Group, como funciona o negócio de roupa em segunda mão e que estimativa existe, das autoridades dinamarquesas, sobre o lucro auferido pela associação.

Quantas pessoas pertencem ao Teachers Group

Tem cerca de 1200 pessoas e funciona com uma organização em formato de pirâmide: com cinco níveis e alguns líderes.

Que lucro obtêm no mundo inteiro?

É uma informação classificada e apenas alguns líderes de topo o sabem. A polícia dinamarquesa estimou que os seus bens ascendem aos 860 milhões de dólares. Há dez anos, a polícia dizia que o grupo fazia cerca de 170 milhões por ano e tinha, em propriedades, empresas e casas, cerca de 73 milhões de dólares espalhados pelo mundo e sete milhões, em bens, nos Estados Unidos. Estes números sugerem que o grupo tenha crescido, na última década, dez vezes mais.

O jornal dinamarquês Berlingske Tidende investigou a Tvind e o seu controlo de roupas usados no Mercado e escreveu que a Tvind deu «um salto» em 1998 quando conseguiu lucrar 22 milhões só com a venda de roupas em segunda mão na Europa. Segundo um documento interno do Teachers Group (TG) esperava-se um aumento de 140 milhões de dólares em sete anos, de 2001 a 2006, na venda de roupas usadas, só na Rússia, Ucrânia e Balcãs. Mas eles vendem roupas usadas em muitos outros países.



Além de todo o este lucro, recebem do que produzem em quintas e plantações e fábricas. Também das escolas e colégios para voluntários, assim como em instituições para crianças.

Quanto vai para os países do Terceiro Mundo?

De novo, só alguns líderes sabem, mas não muito. Muitos dos voluntários que passam para os projectos de desenvolvimento no Terceiro Mundo são pagos com subsídios. Mas os projectos são liderados por membros do Teachers Group: e eles não recebem salários - o dinheiro vai de novo para a comunidade do TG.

O sistema parece circular: o TG paga-se a si próprio com diversos nomes?

TG está em controlo de todas as partes diferentes da organização - as organizações de caridade, as empresas comerciais que recolhem roupa usada, as de transporte e as que fazem as transacções, e as lojas de vendas.



O sistema estrutura-se com empresas em paraísos fiscais, como as Ilhas Caimão. Desta forma eles conseguem vender serviços e roupas a eles próprios, no preço que mais lhe convier, alto ou baixo, permitindo evitar o pagamento de impostos. Eles estabelecem trocas comerciais transfronteiriças, tal e qual grandes multinacionais.

[Leia mais sobre esta entrevista e sobre o julgamento que decorre na Dinamarca]
Continue a ler esta notícia