“Pandemia está controlada mas não acabou”, diz Ordem dos Médicos - TVI

“Pandemia está controlada mas não acabou”, diz Ordem dos Médicos

  • .
  • AM
  • 18 jun 2020, 14:16

Miguel Guimarães defende medidas "mais fortes" para aviões e aeroportos

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, sublinhou hoje que a pandemia da covid-19 "está controlada, mas não acabou", apelando para que ninguém facilite e defendendo medidas "mais fortes" para aviões e aeroportos.

"Esta pandemia está controlada, mas não acabou. Não podemos facilitar. Quando facilitamos os surtos acontecem. Temos de manter as medidas preconizadas pela Direção-Geral da Saúde e temos o problema dos aviões, o que daria para falar muito tempo. São um problema que se calhar vamos ter de controlar com medidas acessórias", referiu Miguel Guimarães.

O bastonário da Ordem dos Médicos disse que "nos aeroportos claramente vão ter de ser implementadas medidas mais fortes" e lembrou que "se nos aviões não há distanciamento social", terão de ser encontradas "outras regras".

"As companhias aéreas são empresas que colocam a segurança ao mais alto nível e podem encontrar alternativas para aumentar a segurança. As pessoas que estudam isto vão ter de encontrar medidas e vão ter de se fazer inquéritos epidemiológicos, podem-se fazer testes e regras grandes num avião. Num voo intercontinental não se pode dar de comer às pessoas todas de uma vez", exemplificou.

Questionado se considera que Portugal está preparado para uma segunda vaga do surto pelo novo coronavírus, Miguel Guimarães foi direto na resposta afirmativa, falou no reforço dos hospitais, no conhecimento "maior que o mundo vai tendo sobre a doença", e no Dia do Médico recordou o "grande desafio" que está a constituir esta pandemia, elogiando, aplaudindo e agradecendo aos profissionais de saúde.

"A Ordem dos Médicos na reunião do conselho nacional aprovou uma homenagem grande que vamos fazer a todos os médicos que irá ficar para a história, pedirmos uma escultura como homenagem a todos os médicos portugueses", revelou.

Miguel Guimarães falava aos jornalistas no Porto, à saída de uma visita aos Hospital de São João, unidade hospitalar que recebeu a 02 de março o primeiro caso de covid-19 em Portugal e na qual, de acordo com dados transmitidos hoje pela Ordem dos Médicos, "à altura do pico" chegaram internados 200 doentes ao mesmo tempo, 80 doentes críticos, cerca de 60 em cuidados intensivos e 20 em cuidados intermédios.

"Seguramente este é o hospital que mais testes fez nas suas instalações e o que teve mais doentes. Tratou 2.030 doentes, seguiu em ambulatório 1.700 doentes, teve 1.040 internados e 130 em cuidados intensivos. O Hospital São João representa hoje todos os hospitais portugueses e os médicos que cá trabalham representam todos os médicos portugueses. Hoje quero-lhes agradecer o trabalho magnifico que fizeram e a capacidade de liderança que existiu", disse Miguel Guimarães num Dia do Médico diferente depois de terem sido canceladas as comemorações agendadas para Lisboa e Porto.

'Champions’ com público pode ser complicado

O bastonário da Ordem dos Médicos considerou que a escolha de Portugal para a fase final da Liga dos Campeões "não tem inconveniente" se os jogos não tiverem público, mas com adeptos nas bancadas "pode ser mais complicado".

"Se não tiver público, não me parece que tenha qualquer inconveniente, desde que tudo seja controlado com medidas de proteção. Se tiver público pode ser complicado", disse Miguel Guimarães, que falava aos jornalistas após uma visita ao Hospital de São João, no Porto.

Miguel Guimarães sublinhou que "a par dos aviões, os eventos como jogos de futebol não são fáceis de controlar", lembrando que uma prova deste nível necessita de estádios que levam muita gente, no entanto o problema, disse o bastonário, não está no decorrer do jogo apenas na assistência nas bancadas.

"O grande problema não é quando se está dentro do estádio. É nas entradas e nas saídas, nas manifestações de alegria. As pessoas têm uma paixão muito grande pelo futebol, em Portugal e na Europa, e é quase impossível exageros não acontecerem", disse o bastonário.

A UEFA decidiu na quarta-feira que os quartos de final, meias-finais e final decorrerão em eliminatórias de jogo único, entre 12 e 23 de agosto nos Estádios da Luz (Benfica) e José Alvalade (Sporting).

A ausência de público é uma questão que está ainda por decidir, bem como a possibilidade dos jogos da segunda mão dos oitavos de final poderem também disputar-se em Portugal, nomeadamente em Guimarães, do D. Afonso Henriques, e no Porto, no Estádio do Dragão.

Questionado se tem as mesmas reservas face à Liga portuguesa em futebol que foi retomada em 03 de junho depois de ter ficado suspensa em março devido ao surto epidemiológico da covid-19, Miguel Guimarães considerou que "a regra deve ser semelhante" para a ‘Champions' e para o campeonato português.

"O Governo terá de tomar uma decisão sobre isso, mas parece-me estranho que o Governo autorize público nos jogos da 'Champions' e não autorize na Liga portuguesa. A regra deve ser semelhante, mesmo que estejamos a falar de público limitado: metade, um terço ou um quarto, o que os epidemiologistas acharem adequado", considerou o bastonário da Ordem dos Médicos.

Ainda sobre a escolha da UEFA por Portugal para jogar a final da Liga dos Campeões, Miguel Guimarães disse compreender que é necessário "recuperar a economia", mas disse dar primazia à saúde.

"Neste caso, entre o valor da saúde e o valor do desporto, dou primazia à saúde. Mas admito que o Governo e o senhor primeiro-ministro deem primazia a uma prova que pode, se tudo correr bem, ser importante para Portugal. Temos de recuperar a economia", concluiu.

Cerca sanitária ao Algarve é decisão da tutela “ouvindo os autarcas”

A Ordem dos Médicos defendeu a necessidade de intensificar uma campanha de sensibilização para as regras de segurança face à covid-19 no Algarve, apontando que uma eventual cerca sanitária é decisão da tutela, mas ouvindo os autarcas.

"A questão da cerca sanitária é uma decisão que tem de ser tomada pela diretora-geral da Saúde com o Ministério da Saúde e ouvindo os autarcas", disse o bastonário da Ordem dos Médicos que falava aos jornalistas, no Porto, após uma visita ao Hospital de São João.

Numa intervenção na qual frisou várias vezes que "a pandemia ainda não acabou", mas também analisou a necessidade da retoma da economia, quando questionado sobre a situação atual do Algarve, zona onde têm sido detetados focos de contágio do novo coronavírus nos últimos dias, Miguel Guimarães apelou à intensificação das campanhas de alerta.

"O Algarve é a imagem do país lá fora, é o local que provavelmente irá ter mais turistas estrangeiros. As medidas de reforço têm de ser grandes (...). Se as pessoas cumprirem, o vírus terá muita dificuldade em se propagar. No Algarve temos de insistir ainda mais nisto com uma campanha muito, muito, forte", disse Miguel Guimarães.

O presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, também defendeu hoje, em entrevista ao Diário de Notícias, medidas mais rigorosas para a zona do Algarve.

"Se tivermos um surto de cem casos em Faro ou Portimão vamos ter de fechar o Algarve", disse Alexandre Valentim Lourenço.

Este número não foi comentado diretamente pelo bastonário da Ordem dos Médicos que apontou que "depende de como chegar aos 100 novos casos".

"O Algarve é uma área do país muito importante no que respeita ao turismo. É uma área em que temos de ter uma especial atenção nas medidas de proteção que provavelmente podem estar a falhar em alguns casos e a autoridade nacional da saúde tem de se preocupar muito especificamente com o Algarve", referiu Miguel Guimarães.

Uma "vigilância muito apertada" e "dar informação constante e permanente a quem está e a quem chega ao Algarve" são medidas que a Ordem dos Médicos quer ver no terreno, bem como o reforço da ideia de que regras como distanciamento social, higienização e uso de máscara "são para cumprir".

"As máscaras vieram mudar o curso da pandemia. Veja-se não só o exemplo de Portugal, mas da Grécia e da República Checa que implementaram o uso de máscara antecipadamente", apontou o bastonário.

Portugal regista hoje mais um morto relacionado com a covid-19 do que na quarta-feira e mais 417 infetados, a maioria na Região de Lisboa e Vale do Tejo, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Os dados da DGS indicam um total de 1.524 mortes relacionadas com a covid-19 e de 38.089 casos confirmados.

Continue a ler esta notícia