Cabo mal amarrado matou jovem no quartel de Gaia - TVI

Cabo mal amarrado matou jovem no quartel de Gaia

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Ana Rita Lucas, de 18 anos, caiu de uma altura de cinco a sete metros ao fazer slide no Regimento da Serra do Pilar, no âmbito das atividades do Dia da Defesa Nacional. Acidente aconteceu em maio de 2011. Relatório pericial foi conhecido esta quarta-feira

Um relatório pericial da Universidade do Porto (UP), a que a Lusa teve acesso esta quarta-feira, atribui o acidente de slide que matou uma jovem no quartel da Serra do Pilar, Gaia, em 2011, à incorreta amarração de um cabo.

Esta perícia, feita pelo Instituto de Engenharia Mecânica da UP, apresenta conclusões «coerentes» com um primeiro relatório feito pelo LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) e é similar ao que baseou a acusação.

Concluído o relatório, o Ministério Público pediu que fosse designada uma data para audiência de discussão e julgamento, agora agendada para abril de 2015, informou fonte judicial.

O caso remonta a 20 de maio de 2011 quando Ana Rita Lucas, de 18 anos, caiu de uma altura de cinco a sete metros ao fazer slide no Regimento da Serra do Pilar, no âmbito das atividades do Dia da Defesa Nacional, acabando por morrer nesse dia no hospital.

Após a investigação e um primeiro relatório feito pela Faculdade de Engenharia, o Ministério Público acusou quatro militares envolvidos na montagem e vigilância do equipamento pelo crime de homicídio por negligência, considerando que a queda ocorreu por «falta de cuidado».

«Revelaram total falta de cuidado, prudência e desrespeito manifesto pelas regras de segurança naquele equipamento, sem terem tomado as necessárias precauções para evitarem a quebra do cabo de aço», lê-se na acusação.


O início do julgamento esteve agendado para 08 de abril de 2013, mas a falta de uma nova peritagem, pedida por um dos arguidos que queria averiguar o motivo da alegada rutura/fratura dos filamentos do cabo usado no slide, levou ao seu adiamento sine die.

Em julho deste ano, o LNEC elaborou um parecer que, em conjunto com o anterior, e na sequência de um pedido à Ordem dos Engenheiros, deu origem ao mais recente relatório pericial.

Realizado pelo Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial da UP, o documento agora conhecido indica ser possível concluir que «a tensão do cabo de aço em uso, a tensão de rotura do mesmo, bem como a montagem do cabo de aço com serra cabos não estão de acordo com as recomendações das normas estabelecidas».

O cabo usado na atividade de slide - adstrito à propriedade do exército em junho de 1979 - acabou por sofrer uma rotura no momento em que o 15.º jovem fazia naquele dia o trajeto, pela «acumulação de danos"» provocados por uma tensão aplicada «próxima da rotura» e pela montagem incorreta do material.

O estudo concluiu também terem existido «múltiplos aspetos que comprometem a integridade do cabo durante a utilização em slide», especificando que «a montagem não possuía coeficientes de segurança de acordo com os valores normalmente referenciados para operações semelhantes».

Perante o relatório pericial, o Ministério Público pediu que fosse designada uma data para audiência de discussão e julgamento, agora agendada para abril de 2015, quase quatro anos após o acidente, mas estão ainda a decorrer prazos para um eventual acordo entre as partes.

A comemoração do Dia da Defesa Nacional, que prevê a convocação de jovens com 18 anos, estava prevista numa lei aprovada em 1999, mas só em 2003 o então ministro da Defesa, Paulo Portas, decidiu avançar com a iniciativa de caráter obrigatório.
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