"Tolerância" na aplicação da carta por pontos aos pescadores - TVI

"Tolerância" na aplicação da carta por pontos aos pescadores

Ana Paula Vitorino

Promessa feita no Parlamento pela ministra do Mar. Ana Paula Vitorino explica que, sem este regulamento, Portugal poderia perder fundos comunitários

A ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, prometeu esta terça-feira no Parlamento "tolerância" na aplicação da carta por pontos aos pescadores e explicou que, sem este regulamento, Portugal poderia perder fundos comunitários.

Os deputados da Comissão de Agricultura e Mar fizeram esta terça-feira eco das preocupações das organizações de pesca, que contestam o sistema por considerarem que levanta a questão da responsabilidade de quem comete a infração, já que os pontos são atribuídos à licença da embarcação, que pode ser suspensa, e não especificamente ao mestre ou ao armador.

Ana Paula Vitorino salientou que o novo sistema por pontos (semelhante ao que já é aplicado na carta de condução) resulta de um regulamento que foi aprovado em 2011 e que Portugal devia ter aplicado até 2014, sendo atualmente o único país europeu que ainda não implementou o sistema.

"Portugal tinha obrigação de fazer legislação até 2014. Sabemos bem quem estava no Governo [nessa altura] e não o fez, nem boa nem má, nós não fazemos isso", criticou a ministra em resposta à deputada centrista, Patrícia Fonseca.

Ana Paula Vitorino disse ainda que "o Governo de então [coligação CDS-PP/PSD] negociou o cumprimento desta medida para não perder transferências de fundos comunitários" e adiantou que a Comissão Europeia está "atenta a esta matéria".

"Além das sanções inerentes à não-aplicação em Portugal deste regulamento podia não haver transferência de fundos para as pescas (através do programa comunitário Mar2020)", adiantou a governante, salientando que o Governo quer "minimizar" os efeitos da aplicação direta da carta por pontos para os pescadores e que "vai haver um período em que teremos maior tolerância".

A ministra destacou que a proposta, que resultou de um diálogo com o setor, pretende implementar um sistema "mais justo" que prevê programas de formação para cada tipo de infração.

"Isso era uma preocupação de todos nós: então, depois não se pode voltar atrás? Pode, fazendo ações de formação e adquirindo equipamentos que permitam controlar melhor o tipo de pescarias que fazem", no caso dos armadores, disse Ana Paula Vitorino.

Acrescentou igualmente que só em resultado de infrações graves, como o uso de artes proibidas, captura de peixes com dimensões inferiores às autorizadas ou pesca em zonas proibidas, é que são aplicados os pontos.

"Esta forma mitigada como se transpôs este regulamento de aplicação obrigatória vai ao encontro das necessidades dos nossos pescadores", embora "perceba as apreensões", frisou a responsável da tutela do Mar.

No início deste mês, a Associação de Pesca Artesanal da Região de Aveiro e o Sindicato dos trabalhadores da Pesca do Norte anunciaram a criação do "movimento da pequena pesca" contra a licença de pesca "por pontos".

A criação do movimento foi decidida após reuniões realizadas no Porto de Pesca de Aveiro por associações representativas da pequena pesca das diversas regiões do país, para debater a "imposição da União Europeia" do sistema de pontos às embarcações, tal como já acontece com as cartas de condução automóvel.

Nas reuniões entre representantes das associações, "o sentimento de rejeição a este sistema de pontos foi geral, como tal, a pequena pesca recusa a aplicação deste sistema de pontos e exige que o Governo defenda a pequena pesca ao não aplicar o referido sistema, demonstrando à União Europeia que o mesmo não é aplicável em Portugal", refere o comunicado conjunto.

De acordo com a Comissão Europeia, "o sistema de pontos não introduz novas sanções, nem interfere com o poder discricionário dos tribunais nacionais no que se refere ao apuramento dos factos e à avaliação da gravidade do comportamento".

No entanto, diversas organizações de pesca têm levantado a questão da responsabilidade de quem comete a infração, já que os pontos são atribuídos à licença da embarcação, que pode ser suspensa, e não especificamente ao mestre ou ao armador, podendo levar a que várias famílias se vejam privadas de sustento, caso a atividade do barco seja temporariamente interrompida.

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