"Pedro Dias queria entregar-se vivo e não o conseguia fazer" - TVI

"Pedro Dias queria entregar-se vivo e não o conseguia fazer"

Advogada Mónica Quintela representa o suspeito dos crimes de Aguiar da Beira que vitimaram um militar da GNR e um civil. Pedro Dias esteve a monte desde 11 de outubro

A advogada de Pedro Dias, Mónica Quintela, explicou no "Jornal das 8", deste sexta-feira, a forma como o suspeito dos crimes em Aguiar da Beira se entregou às autoridades na terça-feira, dia 8. Mónica Quintela afirmou que o alegado homicida "recebeu um telefonema da GNR a dizer que iria ser abatido".

O suspeito estava desaparecido desde 11 de outubro, data em que dois militares da GNR foram atingidos a tiro, em Aguiar da Beira, no distrito da Guarda. Um morreu e um outro ficou ferido.

Na mesma madrugada, um homem morreu e a mulher ficou gravemente ferida, também alvejados a tiro, na viatura em que seguiam.

Depois de 28 dias em fuga, o homem terá pedido à advogada para encontrar forma de se entregar em segurança às autoridades. Pedro Dias combinou a hora e o local com a Polícia Judiciária. Foi detido numa habitação em Arouca, a poucos metros da casa dos pais.

"Não havia outra forma de fazer a entrega de Pedro Dias", disse a advogada Mónica Quintela reiterando que não pode falar "sobre quaisquer factos dos processos".

Mónica Quintela confirmou que foi contactada pela irmã de Pedro Dias na segunda-feira, dia 7, que a informou ter recebido um bilhete do próprio onde o homem revelava que se queria entregar, caso lhe garantissem segurança.

Ele disse que iria tentar chegar, às 19:00, a casa da avó, e que se queria entregar, mas queria que essa entrega fosse conseguida com toda a segurança. Queria ser entregue vivo e não o estava a conseguir fazer", explicou.

Depois de ter combinado a hora e o local, Mónica Quintela admite que pediu a "dois jornalistas da sua confiança" para se encontrarem com ela no escritório. 

O plano era levar dois jornalistas da minha confiança, o Dr. João Campos, diretor do Diário de Coimbra, que conheço há muito tempo e que sabia que se lhe dissesse para estar no meu escritório, sem lhe dizer qual era o motivo, ele conhece-me o suficiente para saber que seria um motivo válido. E depois a Dra. Sandra Felgueiras a quem perguntei se podia estar no meu escritório pelas 15:00, sozinha, para conversar. Quando chegaram é que expliquei o que se pretendia", esclareceu a advogada.

Desta forma, defende Mónica Quintela, foi possível garantir a segurança do seu cliente e salvaguardar o sigilo da operação, ao mesmo tempo que se evitou que a localização fosse identificada e as forças de segurança aparecessem.

Mónica Quintela continuou a explicação da operação que levou à entrega de Pedro Dias às autoridades. A advogada admitiu que só podia contactar o órgão máximo da Polícia Judiciária, sob pena de ir por órgãos intermédios e com isso levantar alarido à restante comunicação social. "Tinha que ser uma pessoa que me garantisse. Só podia ter telefonado ao Dr. Almeida Rodrigues, pessoa por quem tenho uma grande consideração, estima e conheço perfeitamente".

Telefonei e disse: estou a fazer-lhe uma chamada, esta chamada está a ser gravada, avisei-o. Eu tenho o Pedro Dias que se quer entregar com toda a segurança, está desarmado, estamos aqui várias pessoas. Está a Sandra Felgueiras, está o cameraman, está o João Campos, está o meu marido, está a irmã do Pedro Dias e está uma senhora. Queremos que, sem qualquer tipo de alarme, mande inspetores da Polícia Judiciária de total confiança, que venham buscar o Pedro Dias e que o conduzam a uma esquadra, em segurança"

Durante os dias em que Pedro Dias foi procurado pelas autoridades, a GNR montou uma caça ao homem nas localidades de Arouca, Aguiar da Beira e Vila Real. O homem diz que sobreviveu escondido em casas abandonadas, silvadas e barracões. 

Questionada por que motivo o homem não se entregou mais cedo, a advogada explicou que o seu cliente "foi alvo de tentativa de ser alvejado. Ele não tinha hipótese de se entregar".

De acordo com Mónica Quintela, o suspeito não manteve contacto com familiares durante o período em que esteve foragido às autoridades.

Mas antes de se entregar às autoridades, Pedro Dias deu uma entrevista. Mónica Quintela garante que o entrevista não estava nos planos dos advogados nem do próprio homem, mas o momento que antecedeu à entrega às autoridades revelou-se único. 

"Pensei na família e na filha, ele tem uma filha de 10 anos. Ele não vai ter outra oportunidade de poder falar às pessoas tão cedo. Ele só poderá falar no tribunal e não vem cá para fora", explicou.

 

A entrevista a Pedro Dias

Esta sexta-feira, a RTP divulgou a entrevista feita a Pedro Dias. O suspeito recusou todos os crimes de que está indiciado, afirmando que é um “homem inocente” com “vontade de defender” a sua “honra”. O "Piloto" acrescentou que o militar da GNR que sobreviveu é que deve explicar tudo.

“Tenho a convicção de que conseguirei mostrar que há aqui muitos equívocos", vincou.

Reiterou que não fugiu, apenas tentou sobreviver, e que nunca chegou a sair do país. 

"Nunca cheguei a sair do país. Estive sempre muito perto. Sempre a norte de Arouca."

Pedro Dias, de 44 anos, está acusado da autoria material de dois crimes de homicídio qualificado, três de homicídio qualificado na forma tentada, três crimes de sequestro e um de roubo.

Depois de ter sido presente a tribunal, Pedro Dias fica em prisão preventiva. O Tribunal da Guarda considerou esta a melhor medida de coação "dado o elevado perigo de fuga, continuação da atividade criminosa, perturbação do inquérito” e “alarme social”.

Há ainda informação que Pedro Dias terá recusado realizar testes de ADN. A advogada garante que à sua frente não houve qualquer pedido para realizar qualquer tipo de exames. 

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