Empresa que organizou montaria na Azambuja tem 25 anos e nasceu da paixão de um casal de universitários - TVI

Empresa que organizou montaria na Azambuja tem 25 anos e nasceu da paixão de um casal de universitários

  • Bárbara Cruz
  • 22 dez 2020, 14:06

É a Monteros de La Cabra, propriedade de Mariano Morales, formado em Direito, e Virginia Rodriguez, licenciada em engenharia agrícola

A empresa que organizou a montaria que culminou com a morte de 540 veados e javalis na Azambuja tem sede em Badajoz, Espanha, chama-se "Monteros de la Cabra" e foi fundada há 25 anos por um casal de universitários com a caça como paixão em comum. 

É esta, pelo menos, a informação disponível sobre a empresa "especializada em caçadas e montarias em Espanha e Portugal" num agregador de agências de viagens. Segundo o texto partilhado pelos proprietários, a Monteros de la Cabra "é a paixão comum de um casal", Mariano Morales e Virginia Rodriguez, que se descrevem como entusiastas pela caça e pela ética na caça. 

Mariano Morales, advogado de profissão. Em criança, destacou-se entre os seus seis irmãos na organização de caçadas de família com o pai", refere a descrição da empresa. "Mariano é o responsável por toda a gestão da caçada, é o nosso capitão de montaria (o nosso diretor de orquestra)". Quanto a Virgina, é descrita como "engenheira agrícola de profissão", apaixonada por caça. "Ela encarrega-se de toda a gestão e de lidar com os clientes, escolhas de hotéis, receção no aeroporto, documentação. Virginia dá sempre o seu melhor para fazer os caçadores sentirem-se em casa". 

De acordo com o site da companhia, para Mariano e Virgina, a caça é uma "paixão comum" e recebem os clientes "como gostariam de ser tratados nas suas viagens de caça a outros países". 

O seu principal objetivo é que os clientes regressem a casa como amigos", lê-se no texto, que ainda acrescenta que a Monteros de La Cabra é mais do que Mariano e Virginia, por trás de quem está uma "grande equipa" que trabalha para usufruto dos caçadores. 

Foram precisamente os participantes na caçada na Quinta da Torrebela, na Azambuja, que partilharam nas redes sociais as fotografias da montaria que chocou o país, com centenas de animais mortos alinhados no chão, junto dos vários caçadores de semblante satisfeito. 

Mas a página no Facebook da Monteros de La Cabra não é atualizada desde 2016, possivelmente porque as imagens das caçadas serão partilhadas entre participantes em grupos fechados. A última publicação, de 31 de dezembro de 2016, conta já com comentários insultuosos aludindo à caçada em Portugal. No Instagram, uma publicação do passado dia 11 de dezembro dá conta do início da temporada de caça 2020/2021.

Estamos outra vez a trabalhar, caçar e sonhar", lê-se em inglês. 

A empresa foi criticada também pela FENCAÇA - Federação Portuguesa de Caça, que lamentou "profundamente a forma como os organizadores deste evento, alegadamente um grupo espanhol que organiza caçadas, vieram para as redes sociais vangloriar-se deste abate massivo, contrariando todos os princípios éticos que devem estar subjacentes ao nobre ato de caçar". 

Caça não é isto! A FENCAÇA e os caçadores em geral não se revêm e repudiam este episódio", sublinhou a federação em comunicado. 

Recorde-se que o ministro do Ambiente deu ordem de revogação imediata da licença de caça turística da Quinta da Torrebela, na Azambuja, onde foram mortos 540 veados e javalis, tendo anunciado que vai avançar com uma queixa no Ministério Público por indícios de crime contra a preservação da fauna.

Em comunicado, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática informou que, em articulação com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), "procederá de imediato a uma participação junto do Ministério Público sobre os acontecimentos na Herdade da Torrebela, no concelho da Azambuja."

O Ministério do Ambiente revela ainda que, no início do ano, irá convocar o Conselho Nacional da Caça para "se realizar uma reflexão sobre a prática de montarias em Portugal. É entendimento do Ministério que são necessárias alterações à lei para impedir que os vis acontecimentos relatados se repitam", esclarece a nota da tutela. 

 

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