Marcelo: "Devemos a Júlio Pomar a abertura de Portugal ao mundo" - TVI

Marcelo: "Devemos a Júlio Pomar a abertura de Portugal ao mundo"

  • LCM (atualizada às 21h38)
  • 22 mai 2018, 19:18

Artista morreu aos 92 anos no Hospital da Luz

O Presidente da República lembrou hoje Júlio Pomar como um "criativo irreverente" e considerou que a sua morte deixa a cultura portuguesa "muitíssimo mais pobre", manifestando a certeza de que o Governo proporá "o luto nacional correspondente".

O chefe de Estado descreveu Júlio Pomar como "um inovador e criativo irreverente, profundamente rebelde", que "esteve sempre à frente do seu tempo" e "marcou boa parte do século XX, marcou a transição para o século XXI" em Portugal, "mantendo-se sempre jovem".

"Nós devemos a Júlio Pomar a abertura de Portugal ao mundo e a entrada do mundo em Portugal, desde logo, durante a ditadura, não apenas como pintor, não apenas como desenhador, mas como grande personalidade da cultura", afirmou.

Interrogado sobre qual a melhor homenagem que o país lhe pode prestar, o Presidente da República respondeu: "Eu tenho a certeza de que o Governo português não deixará de propor o luto nacional correspondente".

"Mas, para além disso, certamente que o Governo português irá meditar numa forma de o homenagear tal como ele gostaria, de uma forma não clássica, não conservadora, não tradicional. Mas progressista e virada para o futuro", acrescentou.

Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, considerou que a morte de Júlio Pomar representa uma "imensa perda" para a cultura portuguesa, caraterizando-o como "um artista maior no Portugal contemporâneo" que deve inspirar as jovens gerações.

O artista plástico Júlio Pomar morreu hoje aos 92 anos no Hospital da Luz, em Lisboa.

António Costa reage no Twitter

O primeiro-ministro português, António Costa, afirmou que Portugal perdeu “um dos seus mais icónicos artistas”, numa primeira reação à morte do artista plástico Júlio Pomar, que morreu hoje aos 92 anos.

Ferro Rodrigues: "Um artista maior no Portugal contemporâneo"

Na sua mensagem, Ferro Rodrigues salienta que foi com "muita tristeza" que tomou conhecimento do falecimento de Júlio Pomar.

"Foi um artista maior no Portugal contemporâneo. Um artista profundamente envolvido com o seu tempo e com o seu país", defendeu o presidente da Assembleia da República.

Para Ferro Rodrigues, ao longo da sua vida, Júlio Pomar caraterizou-se também como um cidadão "empenhado no combate à ditadura e na causa da democracia".

"Um artista multifacetado que sabia inspirar o grande público e também por isso deve servir de inspiração às novas gerações. Sem dúvida uma imensa perda para a Cultura Portuguesa", sublinhou na sua mensagem o presidente da Assembleia da República.

"Criou uma marca inconfundível no panorama nacional e internacional da arte”

O diretor do museu de Serralves, João Ribas, disse hoje que Júlio Pomar criou uma “marca inconfundível” em termos nacionais e internacionais, tendo sido um artista de múltiplas abordagens ao longo da carreira.

“Durante mais de sete décadas, Júlio Pomar sempre variou nas suas técnicas e abordagens artísticas. Criou uma marca inconfundível no panorama nacional e internacional da arte”, pode ler-se na declaração escrita enviada à Lusa.

Pintor e escultor, nascido em Lisboa em 1926, Júlio Pomar é considerado um dos criadores de referência da arte moderna e contemporânea portuguesa.

O artista deixa uma obra multifacetada que percorre mais de sete décadas, influenciada pela literatura, a resistência política, o erotismo e algumas viagens, como a Amazónia, no Brasil.

"O país está grato pelo legado incomensurável que nos deixa"

O ministro da Cultura lamentou “profundamente” a morte do artista plástico Júlio Pomar, hoje aos 92 anos, “um artista extraordinário” e “uma figura incontornável na cultura e na história das artes visuais portuguesas”.

“Júlio Pomar foi um artista extraordinário e uma figura incontornável na cultura e na história das artes visuais portuguesas. O país está grato pelo legado incomensurável que nos deixa e pela capacidade de nos inspirar através da sua vida e da sua obra”, refere Luís Filipe Castro Mendes num comunicado hoje divulgado, no qual lamenta “profundamente a morte de Júlio Pomar”.

O ministro lembra que, “com uma linguagem e um universo próprios, construídos ao longo de uma vida”, Júlio Pomar “foi um artista total, que marcou várias gerações e inscreveu a sua arte nos diversos momentos políticos do país”.

A reação do Bloco de Esquerda e do PCP

O BE considerou o artista plástico Júlio Pomar “uma figura gigantesca da arte contemporânea portuguesa” e que, apesar da sua morte, hoje, aos 92 anos, o legado que deixa vai continuar a permitir interpelá-lo.

Em declarações à agência Lusa, o deputado do BE Jorge Campos sublinhou que “Júlio Pomar não é apenas um grande artista português, mas também um artista universal”.

“Júlio Pomar é uma figura gigantesca da arte contemporânea portuguesa e alguém que manteve uma atividade permanente de diálogo com a realidade na qual se insere”, enalteceu.

Para Jorge Campos, a morte do artista plástico “naturalmente que é uma grande perda, mas o seu legado, tal como a sua figura, é igualmente gigantesco”.

“Esta obra que nos fica e esta obra que nos deixa vai seguramente continuar a permitir-nos interpelá-lo e interpelarmo-nos em função daquilo que ele nos deixa e que é uma reflexão muito profunda sobre aquilo que somos, quem somos, onde estamos e para onde queremos ir”, observou.

O PCP considerou que o artista plástico é autor de uma obra de reconhecido valor iniciada nos anos 1940, que “granjeou um elevado prestígio nacional e internacional”.

“A sua obra no plano das artes plásticas foi acompanhada de uma intervenção cívica e política em que se integrou a participação no movimento antifascista, designadamente na Comissão Central do MUD Juvenil”, refere o PCP, em comunicado enviado à Lusa.

O PCP salienta que Júlio Pomar foi “preso e julgado pelo regime fascista, período em que viu algumas das suas obras apreendidas pela PIDE e foi afastado do ensino”, referindo ainda que fez parte de “um movimento mais geral de intelectuais destacados” que lutaram pela liberdade e democracia.

"É uma amputação, não só como amigo [mas] para o país"

O fadista Carlos do Carmo afirmou hoje que o pintor Júlio Pomar era alguém "que queria liberdade" e que a morte dele, hoje aos 92 anos, representa "uma amputação para o país".

Em declarações à agência Lusa, entre sessões de gravação em estúdio, Carlos do Carmo disse que era amigo de Júlio Pomar "há uma dúzia de anos": "Ele era uma pessoa muito particular. Nunca ouvi o Júlio queixar-se. Tomou isso como um dever de cidadania. Esteve preso, exilado. O que o Júlio queria era liberdade. Isso era fundamental".

Carlos do Carmo gravou em 2007 no álbum "À noite" dois poemas de Júlio Pomar - "Fado do 112" e "A guitarra e o clarim" - e revelou à Lusa que no próximo disco irá interpretar um fado dele, oferecido há cinco anos.

"O Júlio adorava fado e pertencia àquela geração de esquerda em Portugal que estava contra o fado e depois a adesão dele foi uma coisa fantástica", afirmou Carlos do Carmo, recordando que foi várias vezes com o artista plástico a concertos. "Opinava com toda a frontalidade e com conhecimento".

Para Carlos do Carmo, a morte de Júlio Pomar "é uma amputação, não só como amigo [mas] para o país”.

“Perde-se um grande português. É mais um grande português que se vai embora".

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