Morreu Manuela de Azevedo, a primeira jornalista portuguesa - TVI

Morreu Manuela de Azevedo, a primeira jornalista portuguesa

Manuela Azevedo

Depois da morte de Clare Hollingworth, há um mês, em Hong Kong, Manuela de Azevedo era a repórter mais antiga do mundo e que trabalhava atualmente num livro com cerca de 200 cartas

Manuela de Azevedo, a primeira jornalista mulher a ter carteira profissional em Portugal, morreu esta sexta-feira pelas 12:00, no Hospital de S. José, em Lisboa, aos 105 anos, informou a direção do Museu Nacional da Imprensa.

Manuela de Azevedo tinha sido internada na unidade hospitalar na terça-feira, acrescentou a nota do museu, que tinha editado os seus últimos livros.

Depois da morte de Clare Hollingworth, há um mês, em Hong Kong, Manuela de Azevedo era a repórter mais antiga do mundo, que trabalhava atualmente num livro com cerca de 200 cartas, segundo a informação divulgada pela direção do Museu Nacional da Imprensa.

A centenária foi romancista, ensaísta, poeta e contista, tendo escrito também peças de teatro, uma delas censurada pelo regime de Salazar, tendo ainda enfrentado a censura num artigo que escreveu em 1935 sobre a eutanásia.

Na nota divulgada, o Museu Nacional da Imprensa lembrou como a jornalista conseguiu a primeira entrevista do ex-rei Humberto I de Itália, que se exilara em Lisboa, após a implantação da República.

Manuela de Azevedo fez-se passar por criada para conseguir a entrevista, que foi publicada no Diário de Lisboa, em junho de 1946.

Além da obra literária e jornalística, Manuela de Azevedo deixa a sua marca na Casa-Memória de Camões, em Constância, projeto em que trabalhou durante 40 anos.

Em 31 de agosto de 2016, a jornalista e escritora apagou as velas dos seus 105 anos colocadas num bolo em forma de máquina de escrever e perante um coro, que incluiu a voz do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com quem trabalhou.

Na altura, a jornalista, entre os episódios que contou, recordou as viagens que fez com Marcelo Rebelo de Sousa quando os dois partilhavam o ofício.

“Fizemos algumas viagens juntos. Sempre nos demos muito bem e há uma ‘gaffe’ que eu cometi, numa viagem de avião para o Norte da Europa. Ele ia com o Adelino [Cardoso, do Diário Popular] e eu que não sabia do passado de ambos [tinham trabalhado juntos em Moçambique] disse que os extremos tocam-se, porque o Adelino era da extrema-esquerda e o outro da direita e eles não gostaram”, contou.

Na ocasião, o Presidente da República condecorou a jornalista com a Ordem da Instrução Pública, já que antes tinha recebido outras condecorações pelo Mérito, Liberdade e Luta pela Liberdade em 1995 e 2014.

Entretanto, Marcelo Rebelo de Sousa já reagiu à morte da jornalista, numa mensagem de condolências enviada à família e aos jornalistas portugueses. O Presidente lembrou que Manuela de Azevedo fez história ao cumprir nas “letras o seu destino e no jornalismo a sua missão”, "quando a sua era uma profissão de homens”.

“Manuela de Azevedo, que nos deixou depois de uma vida longa e enriquecedora, enfrentou a censura e o preconceito, cumpriu nas Letras o seu destino e no Jornalismo a sua missão”, acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa na mensagem publicada no ‘site’ da Presidência, na qual recorda que em agosto, no seu 105.º aniversário, lembraram “histórias de um passado comum”.

 

Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE