Morreu o jornalista Carlos Veiga Pereira - TVI

Morreu o jornalista Carlos Veiga Pereira

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  • 30 dez 2018, 10:03
Carlos Veiga Pereira

Detentor da carteira profissional com o número 01A, Carlos Veiga Pereira morreu aos 91 anos

O jornalista Carlos Veiga Pereira, detentor da carteira profissional com o número 01A, morreu este sábado, aos 91 anos, numa unidade hospitalar de Lisboa, disse à agência Lusa o coronel Manuel Pedroso Marques.

Com uma carreira totalmente dedicada ao jornalismo, Carlos Veiga Pereira foi diretor de informação da Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP) e da RTP, membro da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), e trabalhou em vários jornais, nomeadamente o Diário de Lisboa, onde foi chefe de redação, e o Jornal Novo.

Nos anos de 1950/1960 fez parte da equipa do vespertino Diário Ilustrado, com Miguel Urbano Rodrigues, Victor Cunha Rego e José Manuel Tengarrinha, tendo coordenado o Suplemento Económico, até à intervenção das forças da ditadura do Estado Novo.

"Ele foi toda a vida um jornalista comprometido com a verdade da informação", salientou Manuel Pedroso Marques, ex-presidente da agência Lusa, que era amigo de Veiga Pereira, nascido em Angola, em março de 1927.

De acordo com o Sindicato dos Jornalistas, Veiga Pereira detinha anteriormente a carteira profissional número 08, que passou a número 01A, depois da recente atualização dos seus associados.

Opositor do regime do Estado Novo, Carlos Veiga Pereira foi quem fez, numa conferência de imprensa, a Humberto Delgado a pergunta: "Caso seja eleito, o que faria em relação a Salazar?", à qual o general respondeu "Obviamente demito-o", recordou à Lusa Manuel Pedroso Marques.

"Ele era totalmente comprometido com a verdade da informação e era muito dificilmente enganado", salientou o antigo presidente da RTP, a propósito daquele episódio, ocorrido no lançamento da candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República.

Jornalismo fica "mais pobre"

O primeiro-ministro, António Costa, considerou que “o jornalismo fica irremediavelmente mais pobre com o falecimento de Carlos Veiga Pereira”, que foi diretor de informação da Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP) e da RTP e detinha a carteira profissional número 01A.

Numa publicação na sua conta no Twitter, o chefe de Governo destaca que Carlos Veiga Pereira foi “um dos últimos [jornalistas] que se teve de bater pela Liberdade” e um dos que melhor “honraram” a profissão.

Também o Presidente da República lamentou a morte do jornalista, sublinhando que, “numa altura de crise”, a comunicação social perde “uma das suas referências de memória, cultura e valores éticos”.

Numa mensagem divulgada na página oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa lamenta a perda do “amigo de longa data”, que dedicou “uma vida inteira” ao jornalismo.

“A comunicação social portuguesa fica mais pobre”, afirma o chefe de Estado, que endereça condolências à família e aos camaradas de profissão de Carlos Veiga Pereira.

Nascido em março de 1927 em Sumbe (antigo Novo Redondo), Angola, Carlos Alberto de Veiga Pereira era filho de um funcionário administrativo, e de uma professora primária, e cedo revelou gosto pela escrita literária e jornalística, de acordo com dados biográficos do Sindicato dos Jornalistas.

Ainda no liceu, foi diretor e redator de “Mefisto”, periódico editado por um grupo de alunos do Liceu Nacional de Salvador Correia, em Luanda, um jornal que não estava submetido ao controlo dos docentes.

No liceu, estabeleceu laços de amizade com Agostinho Neto, Lúcio Lara e Eduardo dos Santos.

Na Universidade de Coimbra, foi editor de “Via Latina”, órgão da Associação Académica da Universidade de Coimbra, e diretor de “Meridiano”, órgão da delegação da Casa dos Estudantes do Império (CEI), a primeira publicação editada em Portugal pelos estudantes das colónias.

Frequentou depois a Faculdade de Ciências de Lisboa, onde teve uma intensa atividade na Associação de Estudantes, e como diretor da secção cultural, promoveu conferências de intelectuais e exposições de artistas plásticos como Mário Dionísio, António Sérgio, e Júlio Pomar.

Ingressou no jornalismo em 1954, na delegação de Lisboa de “O Primeiro de Janeiro”, foi um dos fundadores do Diário ilustrado (1956), redator do jornal República (1957/1958), do Diário de Lisboa (1959/1961).

Foi a seguir redator do semanário Jornal de Letras e Artes, sendo também colaborador da agência noticiosa France-Press, e fez parte da redação do mensário Seara Nova, de tendência socialista e democrática, numa colaboração cívica sem remuneração.

Esteve exilado dez anos em Paris (1962/1972), onde tirou o curso do Institut Français de Presse, trabalhou no Centre de Formation des Journalistes, e depois na ORT (Office de Radiodifusion et Télévision Française), e também colaborou no “Le Monde”.

Em Paris, foi representante da Frente Patriótica de Libertação Nacional e fundador e dirigente do Movimento de Ação Revolucionária (MAR).

Em outubro de 1972, na “primavera” marcelista, regressa a Portugal e em 1973 ao Diário de Lisboa, passou pelo Jornal Novo, e foi nomeado diretor de Informação da RTP, cargo de que se demite em outubro de 1976, na sequência de pressões políticas do governo PS, segundo os dados biográficos do Sindicato dos Jornalistas.

Trabalhou na ANOP como redator e como diretor de informação, entre 1979 e 1992, vindo então a reformar-se.

Carlos Veiga Pereira foi um dos seis jornalistas eleitos em abril de 1975 por sufrágio direto, para representar a classe no Conselho de Imprensa, funções que exerceu gratuitamente até 1981, e foi o primeiro presidente do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas, no biénio 1991/92, órgão de que continuou a ser membro até hoje.

Em 1998 foi eleito pelo Sindicato dos Jornalistas para membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social, cargo que desempenhou até à extinção deste órgão.

Esteve preso em 1951, juntamente com Agostinho Neto quando pertenciam ao MUD Juvenil, devido a um abaixo assinado pela paz, e na sequência da sua atividade política, foi enviado em 1953 como soldado para a Companhia Disciplinar de Penamacor, por apoiar os movimentos de independência das colónias portuguesas.

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