Quando amar é um vício e se torna demais - TVI

Quando amar é um vício e se torna demais

  • Portugal Diário
  • Gabriela Chagas, Agência Lusa
  • 14 fev 2008, 15:07

Ignoram «os bons rapazes» e investem em homens complicados e violentos

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Ignoram «os bons rapazes» e investem em homens complicados e violentos. Sofrem mas insistem, anulando quase sempre a sua própria personalidade. Este é o retrato-tipo das «mulheres que amam demais» que semanalmente se juntam em Lisboa para superar a dependência em relacionamentos destrutivos.

Desde Maio de 2006 que existe em Lisboa um novo grupo de entreajuda criado especificamente por e para mulheres que apostam em relações auto-destrutivas. MADA (Mulheres que Amam Demais Anónimas) tem reuniões todas as terças-feiras numa sala da igreja dos Anjos e é um grupo aberto a quem quiser entrar.

O modo de funcionamento é semelhante ao de qualquer grupo de ajuda; reina o anonimato, partilham experiências e procuram viver um dia de cada vez.

Sofia é uma das fundadoras do MADA. Viveu com um alcoólico e frequentou as reuniões das famílias anónimas. Foi na tentativa de ajudar o companheiro a superar a sua dependência que descobriu que afinal ela também era uma dependente... mas emocional.

Amar demais - no conceito deste movimento que nasceu no Brasil inspirado no livro da psicóloga e terapeuta familiar Robin Norwood com o mesmo nome - é também manipular e controlar o outro e daí a escolha de companheiros com problemas igualmente relacionados com dependências de algo ou alguém.

«Achava que o conseguia mudar e vivia em torno dessa missão. Na verdade eu também precisava de ajuda. Comecei nas famílias anónimas mas depois percebi que o meu problema, e o de muitas mulheres, era diferente e que precisava de um espaço próprio», explicou Sofia à Lusa.

Foi assim que surgiu o MADA em Portugal. Com a ajuda do grupo brasileiro, Sofia, ainda em recuperação, avançou para o projecto, seguindo também o conselho da terapeuta que escreveu o livro, que explica como criar grupos para tratar da «doença» de amar e sofrer demais.

Embora ainda pouco conhecido em Portugal, em cada sessão do MADA aparecem, em média, seis a sete mulheres. «Não são sempre as mesmas pessoas. Algumas vão ficando para outras reuniões, outras deixam de aparecer. É normal», explicou Sofia.

Frequentam o Grupo MADA mulheres que acreditam que a dependência de relacionamentos afecta profundamente as suas vidas. O que inclui qualquer tipo de relacionamento: com amigos, namorado, marido, patrão, empregado, professor, aluno....

Pessoas que amam demais podem ser obsessivas com os parceiros, ligar várias vezes para saber com quem estão ou o que estão a fazer, agradar ao parceiro esquecendo-se de si e desconfiar insistentemente. Com medo de serem abandonadas, e habituadas à falta de amor nas relações pessoais, estão dispostas a perder tempo, sonhos e metas para manter um relacionamento que acaba por não ser satisfatório.

A sua auto-estima é baixa. O dependente tem necessidade de controlar as pessoas e os relacionamentos, por medo da perda, por carência e por insegurança, mas disfarça essa necessidade de controlar posicionando-se como uma pessoa sempre pronta a ajudar.

Na sua visão deturpada da realidade, a mulher que ama demais acha «bonzinhos e chatos» os homens gentis e genuinamente interessados nela, acabando por se ligar quase sempre a pessoas complicadas.

Tudo isto são padrões de comportamentos que podem indiciar um problema de dependência emocional que encaixa nesta definição de mulheres ou homens que amam demais... De tal forma que chegam a agredir o objecto desse amor.

Luísa, que iniciou o programa em Setembro, reconhece-se neste retrato. Vivia obcecada e procurava relacionamentos quase sempre impossíveis e complicados e só percebeu que tinha um problema quando se ligou a alguém que não encaixava no homem-padrão que tinha escolhido até à data. Maltratou-o. «O relacionamento acabou e tomei consciência que se calhar o problema não estava neles, mas sim em mim», explicou.

Advogada de profissão, Luísa explica que a entrada no MADA ajudou-a a descobrir uma outra forma de estar, com mais serenidade.
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