A bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, criticou esta segunda-feira o Ministério da Educação pelas “falhas de fiscalização” na alimentação escolar e pela “falta de competências” dadas aos alunos para fazer as escolhas de alimentação saudáveis.
O Ministério da Educação está a trabalhar bastante bem na produção das normas, mas está a trabalhar mal a questão da fiscalização e não está a trabalhar de todo a questão das competências dos alunos para fazer escolhas saudáveis”, afirmou Alexandra Bento à margem do Ciclo de seminários de nutrição comunitária e saúde pública, realizados na Fundação Manuel António da Mota, no Porto.
Em declarações à Lusa, a bastonária explicou que apesar da criação de um conjunto de normas referenciais “de mérito” do Ministério da Educação quanto aos hábitos alimentares, são “necessários profissionais capacitados e com conhecimentos” no processo de fiscalização do cumprimento dessas normas.
Há uma referência do Ministério que diz que os alimentos a disponibilizar e os alimentos a limitar [nas escolas] devem ter uma lógica de três para um. O que verificamos hoje é que há uma série de estudos que comprovam que isso não está a ser cumprido. Portanto, há muitas falhas neste processo”, frisou.
Proposta em fevereiro
Neste sentido, segundo Alexandra Bento, a Ordem dos Nutricionistas entregou, em fevereiro, uma proposta que pretende “tratar o sistema alimentar escolar como um todo e que se baseia em dois pilares: um muito centrado nos alunos e outro centrado no ambiente escolar”.
Achamos que só conseguimos melhorar os hábitos alimentares das crianças se melhorarmos, por um lado, o ambiente escolar, e por outro lado, capacitarmos os alunos para poderem fazer escolhas de alimentação saudável”, contou.
Quanto ao ambiente escolar, a proposta apresentada visa introduzir alimentos saudáveis e apelativos “em todos os espaços da escola” como nas máquinas de venda automática, nos bares e nas cantinas.
Relativamente à capacitação dos alunos para escolhas saudáveis, a proposta da Ordem tem como objetivo inserir 30 nutricionistas nas escolas para trabalhem questões de fiscalização, mas também de mudança de atitudes e conhecimentos junto da comunidade escolar.
A proposta que apresentamos crê que na escola só conseguimos mudar a cultura alimentar se envolvermos a comunidade escolar: alunos, professores, auxiliares e os próprios pais. Se não os envolvermos a todos podemos estar a trabalhar, mas não a obter os resultados que queremos”, acrescentou a bastonária.
Segundo Alexandra Bento, a Ordem dos Nutricionistas ainda não obteve nenhuma resposta do Ministério da Educação quanto à proposta apresentada em fevereiro.
Maus hábitos alimentares
O técnico da Direção-Geral da Educação, Rui Matias Lima, alertou também para os maus hábitos alimentares das crianças e dos jovens durante seminários promovidos pela Ordem dos Nutricionistas, na Fundação Manuel António da Mota, no Porto.
Atualmente, as crianças e os jovens têm hábitos alimentares, ao longo do dia, que não podemos considerar os ideais”, frisou Rui Matias Lima, do Núcleo de Educação para a Saúde e Ação Social Escolar da Direção-Geral de Educação (DGE).
O membro da DGE destacou também a dificuldade em “pôr em prática alterações aos regimes alimentares escolares”, afirmando que "a maioria das famílias portuguesas não percebe a importância de uma boa alimentação”.
Num seminário onde se debateu o futuro do sistema alimentar escolar em Portugal, Rui Matias Lima abordou ainda as novas Orientações sobre as Ementas e os Refeitórios Escolares, estudo que resultou na introdução nas cantinas escolares de 40 ementas vegetarianas e 15 ementas mediterrânicas.
Questões como o desperdício alimentar, a falta de variedade das refeições e uma alimentação adequada foram também alguns dos temas destacados pelos oradores.
Alunos do Porto desperdiçam comida
Um estudo realizado pela Escola Superior de Biotecnologia durante o ano letivo 2017/2018 revela que os alunos do Porto “continuam a desperdiçar” comida nos almoços escolares.
Concluímos que durante o almoço, são desperdiçadas cerca de 47 gramas de sopa e 57 gramas do prato principal, por aluno”, assinalou Margarida Liz, docente da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto que apresentou hoje o estudo no Porto.
Segundo Margarida Liz, apesar de existir “um maior cuidado e preocupação dos docentes e não docentes” nas escolas da cidade do Porto, ainda se mantém dúvidas quanto ao equilíbrio das refeições.
A falta de variedade, a pouca confeção de refeições de peixe, a utilização de ‘peixe gordo’ e a ausência de legumes e ovos foram alguns dos aspetos que a docente destacou, afirmando que “existiram melhorias” que “foram significativas”.