Morreu José Carlos Saldanha, o doente que, há cinco anos, interrompeu o parlamento para pedir ao então ministro da Saúde, Paulo Macedo, que não o deixasse morrer e garantisse tratamentos para a hepatite C.
O corpo estará em câmara ardente este sábado, a partir das 16:00 nas Capelas Exequiais São João de Deus (Praça de Londres – Lisboa). As exéquias fúnebres terão início no domingo dia 23 de fevereiro, pelas 16H00 com celebração de missa de corpo presente na Nave Central da Igreja São João de Deus, seguindo o funeral pelas 16H30 para o Crematório do Cemitério do Alto S. João em Lisboa.
José Carlos Saldanha estava internado com uma septicemia no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e o seu estado de saúde agravara-se nos últimos dias, sabe a TVI. Tinha 55 anos. A septicemia não estava relacionada com a hepatite C, doença da qual estava curado.
José Carlos Saldanha, tal como milhares de doentes em Portugal, tinha experimentado vários tratamentos para a hepatice C e esperava por um medicamento inovador que atingia uma percentagem de cura superior a 90%, o Sofosbuvir, mas que ainda não estava disponível para todos os doentes em Portugal.
Na altura, a tutela e o laboratório responsável estavam em negociações para o preço, que chegava aos 50 mil euros, e José Carlos Saldanha até se tinha oferecido para pagar metade do tratamento.
O impacto da intervenção dele, que foi amplamente divulgada na comunicação social, foi enorme: pouco tempo depois, o ministro Paulo Macedo anunciou que o Governo chegara a acordo com o laboratório e que todos os doentes iam receber o tratamento.
Senhor ministro, tenho a dizer que a mãe do David morreu. Não me deixe morrer. Eu quero viver. Eu ofereci-lhe metade do dinheiro para o senhor me dar o tratamento, escrevi-lhe uma carta e o senhor não respondeu. Não há direito. Acabem com isto, por favor, de uma vez por todas, afirmou o doente dentro da sala onde decorria uma audição parlamentar.
Peço imensa desculpa, por respeito à bancada, a todos os senhores, mas a si, eu vou encontrá-lo! Desculpem-me. Perdão, perdão", repetiu.
Em declarações aos jornalistas, já fora da sala, José Carlos Saldanha disse então que "só neste país é que se vê esta pouca vergonha" e que o ministro era um "assassino".
Falando mais tarde, no Jornal das 8 da TVI, acusou o governante de olhar para os doentes "como números".
Comecei o tratamento uma semana depois de dar a cara na Assembleia", disse à TVI recentemente, numa reportagem emitida já neste mês de fevereiro e que assinalava os cinco anos da intervenção de José Carlos Saldanha no parlamento. Assinalou o facto de, na altura, ter sido a comunicação social a "dar voz" aos doentes que aguardavam por tratamento.
Em março de 2015, aquele que foi o rosto dos doentes que lutavam pela cura da hepatite C garantia estar "praticamente curado" da doença. "Já comecei a sentir vida dentro de mim", confessou numa entrevista à TVI.