Há mais um médico sob suspeita por falhas em ecografias obstétricas - TVI

Há mais um médico sob suspeita por falhas em ecografias obstétricas

  • MM
  • 24 nov 2019, 11:50

Três mulheres cujas gravidezes foram seguidas numa clínica de Setúbal acusam obstetra de não ter detetado malformações graves

Há mais um obstetra de Setúbal sob suspeita, por, alegadamente, não ter detetado malformações graves durante ecografias realizadas nas gravidezes de três mulheres. O caso é relatado pelo jornal Público, na edição deste domingo.

Um dos casos remonta a 2001. O filho de Sheila da Silva nasceu sem um rim, com pé boto e falta de vértebras na coluna. Quando nasceu, os médicos disseram aos pais que nunca chegaria a andar. Contrariando todos os prognósticos, começou a andar aos 21 meses, na véspera de Natal de 2012. Foi submetido a 18 cirurgias e a vários exames que lhe exigiram 26 anestesias gerais.

O médico que fez as ecografias na gravidez de Sheila é Vítor João Gabriel, que está à frente do Centro Materno-Infantil de Setúbal, onde foram realizados os exames e que tem quase três anos de experiência na área das ecografias obstétricas.

Ouvido pelo Público, o médico admite que, no caso do filho de Sheila, o pé boto poderia ser vivível na gravidez, mas “se estiverem de pés cruzados, não conseguimos lá chegar”. “A anomalia na coluna, tubo digestivo e aparelho urinário não são detetáveis na ecografia. E infelizmente tem outros problemas, como o ânus imperfurado, que não se vê, e que obrigou a uma série de intervenções cirúrgicas. (…) As hemivértebras não são em toda a coluna, mas apenas na região sagrada, e estamos a falar de oito milímetros às 32 semanas, pelo que pode não se ver na ecografia, como o bebé dobrado dentro da barriga da mãe”, disse o médico ao jornal.

Outro caso é o de uma menina que nasceu em 2010, sem palato e sem parte do maxilar, uma patologia conhecida como síndrome de Pierre Robin. O médico justifica que realizou a ecografia fora da altura em que o problema seria detetável: “A última ecografia foi às 18 semanas e quatro dias. É a única que tenho. A mãe deve ter feito outra lá para as 22 semanas, que é a altura ideal, mas não fui eu.”

Mas a mãe assegura ao jornal que fez quatro ecografias com este médico: às oito semanas e um dia, às 18 semanas e quatro dias, às 22 semanas e às 32 semanas.

Outro caso é o de uma mulher diabética que teve uma menina, há sete anos, sem um dos principais ossos de um dos braços, o rádio, e com a mão direita voltada para dentro. O médico diz que não conseguiu ver as malformações, por causa da “obesidade” da progenitora. “Podemos não ver, se a grávida for extremamente obesa. Nós pomos a sonda e não se vê nada para baixo. Eu disse várias vezes à senhora ‘não consigo ver nada’”, relata Vítor João Gabriel.

Dos três casos apresentados, o da mãe da menina que nasceu sem palato nem sequer recorreu à justiça. O caso da criança sem parte do braço foi arquivado. Só Sheila e o marido se mantêm com um processo na justiça cível, depois de verem o Ministério Público arquivar a queixa-crime.

Apesar de se afirmar com todas as certificações para realizar ecografias obstétricas, Vítor Gabriel desistiu de fazer alguns destes exames depois do escândalo do colega que não detetou anomalias graves num bebé que nasceu sem parte do rosto.

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