«Eu, se fosse ministro da Saúde, demitia-o» - TVI

«Eu, se fosse ministro da Saúde, demitia-o»

Bastonário da Ordem dos Médicos na TVI24

Ordem dos Médicos pede demissão de presidente da ARS de Lisboa

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O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) pediu esta quarta-feira a demissão do presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT), na sequência de declarações sobre os problemas registados nas urgências do Hospital Amadora-Sintra.

«Seguramente, está a informar mal o ministro da Saúde e não lhe dá oportunidade para, atempada e preventivamente, resolver os problemas dos hospitais que estão sob a sua responsabilidade. O presidente da ARS-LVT, depois destas afirmações, deverá perder a confiança do ministro. Eu, se fosse ministro da Saúde, demitia-o», afirmou José Manuel Silva, após receber uma delegação do PCP, encabeçada pelo secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa.


O representante dos médicos referia-se a afirmações de Cunha Ribeiro, atribuindo os problemas a internamentos mais prolongados e à falta de médicos. O presidente da ARS-LVT disse que «o número de doentes que vai aos serviços de urgência não aumentou», mas há «doentes mais graves, mais idosos» e com maior permanência nas instalações.

«Vinte e oito diretores de serviço demitiram-se, as chefias de equipa de urgência também apresentaram as suas demissões em dezembro. Se calhar, essa pseudo-frase do presidente da ARS é que é capaz de estar errada. Eu pergunto o que será uma crise. Esta narrativa oficial de procurar minimizar e esconder a verdade é que continua a contribuir para que os verdadeiros problemas do país não sejam resolvidos. A preocupação da tutela ao não resolvê-los, é escondê-los», continuou o bastonário, comentando a classificação de "pseudo-crise" por parte de Cunha Ribeiro.


Entretanto, Helena Isabel Almeida é a nova diretora clínica do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), após a demissão do anterior responsável e de 28 dos 33 diretores de serviço da unidade hospitalar, que se mostraram contra a ausência de estratégia para evitar a «contínua degradação das condições de trabalho».

«Disse o presidente da ARS-LVT - que, se calhar, devia ser demitido, mentiu -, que o hospital [Amadora-Sintra] contratava todos os médicos disponíveis. Não é verdade. No ano passado, dispensou proactivamente o único radiologista de intervenção que tinha, que foi trabalhar para Inglaterra, ganhar mais e com respeito pela qualidade e diferenciação do trabalho. Os doentes passaram a ser pior tratados e direcionados para outros hospitais», exemplificou José Manuel Silva.


Segundo o bastonário da OM, a situação «é da exclusiva responsabilidade da tutela, do Ministério da Saúde, que impôs uma série de medidas e restrições» e, agora, «o hospital não pode funcionar milagrosamente», pois, «se assim fosse, milagrosamente, a situação do país também seria bem melhor».

«Não teve a ver com nenhuma vaga de frio siberiana ou qualquer epidemia de gripe particularmente grave. Foi, de facto, reflexo da incapacidade de resposta do SNS e da ausência de planeamento para preparar o inverno. Mais parecia que o Ministério da Saúde estava à espera que o inverno fosse uma primavera e que não houvesse gripe», criticou.


Para José Manuel Silva, «a congestão e todas as consequências e dramas vividos nos serviços de urgência na maioria dos hospitais do país tem uma justificação: a crise social secundária [que se seguiu] às medidas de austeridade e os cortes excessivos impostos ao SNS, impedindo a capacidade de resposta [número de camas, cuidados de saúde primários, cuidados continuados, número de profissionais de saúde]».

O bastonário da OM considerou ainda que «o problema não estava só no diretor clínico do Amadora-Sintra» e que o ministro da Saúde deveria também avaliar a gestão por parte do conselho de administração daquela unidade hospitalar.

Já o o secretário-geral comunista lastimou  a perda de 150 milhões de euros investidos na formação de médicos que emigraram, «a custo zero», para outros países, fruto da «política desgraçada» de ataque ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).

«Não existem médicos a menos. O grande problema é que hoje muitos dos jovens médicos que se formam acabam por partir para o estrangeiro, tendo em conta as condições de trabalho e o estatuto remuneratório que lhes atribuem. Podíamos dizer que, nos últimos tempos, Portugal perdeu cerca de 150 milhões de euros e alguns países receberam-nos a custo zero aquilo que custou ao país a formação desses médicos», disse Jerónimo de Sousa, após encontrar-se com o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), em Lisboa.


O líder do PCP condenou a «política desgraçada» que considera «beneficiar os privados» e «atingir os seus obreiros principais: médicos e enfermeiros», com «consequências dramáticas de saúde, particularmente para os que menos têm e menos podem» - «uma realidade que o ministro da Saúde se recusa a admitir».

«Saíram cerca de 2.000, recentemente, sem entrar um que fosse para uma missão importantíssima, designadamente nas urgências», apontou, referindo-se a assistentes operacionais. Jerónimo de Sousa previu que a situação vai continuar a agravar-se com o aumento da emigração e das reformas dos profissionais de saúde.

Segundo o secretário-geral comunista, houve uma «grande convergência de pontos de vista sobre as causas e efeitos do ataque ao SNS» com o bastonário da OM, José Manuel Silva, salientando, «neste período de inverno, a situação caótica nas urgências, o aumento significativo de mortos, a realidade social e económica» e a degradação das «condições de vida, particularmente os mais velhos e os mais pobres».
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