Covid-19: "Neste momento, abrir as escolas era o pior que podia acontecer" - TVI

Covid-19: "Neste momento, abrir as escolas era o pior que podia acontecer"

  • João Guerreiro Rodrigues
  • 19 fev 2021, 20:05

O matemático explicou ainda as condições que considera necessárias para podermos levar a cabo o desconfinamento

Desde 1 de janeiro que o número de vítimas de covid-19 em Portugal não era tão baixo, após registar 67 vítimas mortais. Jorge Buescu, professor do Departamento de Mátemática da Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa, considera que o país está a registar uma descida acima "do que seria de esperar", mas sublinha que esse cenário pode mudar rapidamente caso se force a reabertura de escolas no início de março.

Nós estamos numa tendência de descida rápida, mas não podemos olhar para um dia isoladamente. De ontem para hoje tivemos uma descida abrupta do número de óbitos, mas não podemos embandeirar de arco com isso, porque qualquer processo estatístico está sujeito a flutuações. É natural que amanhã haja uma subida em relação a hoje”, explicou.

O matemático enalteceu ainda a descida do número de casos, que considera estar a descer “muito mais rápido do que aquilo que seria de esperar” e partilhou os resultados que obteve nos cálculos que fez, com base nos atuais números registados no país.

De acordo com os meus cálculos, para março deveremos ter entre 900 e os 1400 casos diários e que os óbitos estejam entre os 70 e 90. Quanto à ocupação das UCIs é mais difícil, mas devemos estar entre os 350 e os 450, no máximo 500 casos”, explicou.

Questionado sobre uma possível data para o início do desconfinamento, o professor universitário afirmou que o confinamento deve ser mantido, sublinhando ainda que a pior decisão que poderia ser tomada é reabertura das escolas.

Eu fico estupefato quando vejo pessoas com responsabilidades a sugerir a reabertura de escolas no inicio de março. Neste momento, isso era o pior que podia acontecer. (…) Se abríssemos as escolas no início de março, o RT disparava e passaria acima de o um muito rapidamente”, reforçou.

Para haver um desconfinamento, Jorge Buescu apontou para os mecanismos de controlo propostos pelo professor Manuel Carmo Gomes, que estabelece três linhas vermelhas sob as quais se deve tomar decisões.

“Temos de ter muito presentes o RT abaixo de 1, o número de testes positivos abaixo de 10% e um índice de incidência abaixo dos dois mil. Se qualquer uma destas linhas vermelhas for ultrapassada, devemos puxar os travões”, frisou.

Outros dos mecanismos que Buescu propõe para podermos começar a desconfinar é um sistema de testagem e rastreamento que funcione a “100% com o máximo de eficácia”.

Caso estes dois processos não sejam postos em prática, Portugal arrisca-se a perder o controlo da pandemia e a entrar “novamente num processo exponencial” de propagação da covid-19.

“Não temos margem de erro. Não podemos correr este risco”, reforçou.

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