Covid-19: Portugal segue tendência global de maior letalidade nos homens - TVI

Covid-19: Portugal segue tendência global de maior letalidade nos homens

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  • 18 abr 2020, 08:44
Coronavírus

Apesar das estatísticas, continuam a faltar estudos abrangentes e rigorosos que forneçam explicações sobre esta tendência e eventuais diferenças no modo de atuação do vírus entre homens e mulheres.

A letalidade da covid-19 em Portugal tem sido mais letal nos homens do que nas mulheres, segundo dados fornecidos pela Direção-Geral da Saúde (DGS), e colocam o país dentro da tendência internacional desde o início da pandemia.

Até 17 de abril a DGS registou um total de 657 mortes no país por causa do novo coronavírus: 334 homens e 323 mulheres. Uma diferença pouco significativa, mas que tem outra dimensão quando se tem em conta a distribuição por sexo dos 19.022 casos confirmados, dos quais apenas 7.782 são do sexo masculino e 11.240 são do sexo feminino.

A taxa de letalidade reflete o peso do número de óbitos sobre os casos de infeção confirmados.

Em termos globais, este indicador apresenta um valor de 3,3% em Portugal (16.º no ranking de nações com mais casos), chegando aos 13,95% na Bélgica (4.440 mortes), 13,32% no Reino Unido e 13,11% em Itália. Em sentido inverso, o país fica somente atrás dos dados da Rússia (0,83%), da Turquia (2,19%) e da Alemanha (2,84%) entre as 16 nações em análise.

Já a extrapolação desta taxa por género indica que nos homens portugueses é alcançado uma letalidade de 4,1%, enquanto nas mulheres essa ameaça cai para 2,8%.

Embora nem todos os países e territórios estejam a apresentar a distribuição dos óbitos (ou casos de infeção) em função do género, aqueles que o fizeram já tornaram clara a existência de uma maior prevalência do sexo masculino entre as vítimas, mesmo quando estão em minoria no registo de doentes infetados, como sucede até ao momento em Portugal.

Segundo os dados da plataforma internacional Global Health 50/50, que defende a igualdade de género na saúde, e atendendo somente aos países mais atingidos pela pandemia, verifica-se essa tendência de maior letalidade nos homens em Itália (67%), China (64%), Espanha (63%), França, Holanda e Suíça (61%), EUA (60%), Alemanha e Irão (59%), e Bélgica (54%). E apenas em Itália e no Irão é que os homens representam a maioria nos casos identificados.

O tema de uma maior letalidade do SARS-CoV-2 sobre o sexo masculino já foi alvo de análise por alguns cientistas em artigos na imprensa internacional ao longo das últimas semanas. Porém, continuam a faltar estudos abrangentes e rigorosos que forneçam explicações sobre esta tendência e eventuais diferenças no modo de atuação do vírus entre homens e mulheres.

Maior letalidade associada a patologias pre-existentes

A maior letalidade de Covid-19 nos homens em Portugal e em todos os países que fazem registo de óbitos por género pode dever-se à existência de patologias pré-existentes, que têm maior incidência no sexo masculino.

Mais do que eventuais diferenças de atuação do novo coronavírus no organismo de homens e mulheres ou de características fisiológicas distintas, especialistas consultados pela Lusa inclinaram-se para o peso de algumas comorbilidades entre os doentes infetados com o vírus SARS-CoV-2, que provoca a doença Covid-19, e que as autoridades de saúde já identificaram como fatores de risco.

Algumas comorbilidades importantes, como doenças cardiovasculares e diabetes, têm maior prevalência nos homens em Portugal, Espanha e Itália”, disse o epidemiologista Ruy Ribeiro, diretor do Laboratório de Biomatemática da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, sem excluir “diferenças de resposta imunitária e questões fisiológicas relacionadas com o recetor do vírus, o ACE2, que pode ter uma expressão diferente em homens e em mulheres”.

Do ponto de vista imunológico, a diretora do Laboratório de Imunologia Clínica no Instituto de Medicina Molecular, Ana Espada de Sousa, assinalou a existência de “um padrão que se vê em praticamente todos os países” na taxa de letalidade maior entre os homens. 

Os dados que temos apontam mais para o peso das comorbilidades do que para o peso do sistema imunitário. Pode ser uma combinação de vários fatores, mas, na realidade, é só a partir de certa idade que há estas grandes complicações; se fosse só uma questão de sistema imunitário, talvez houvesse uma diferença maior [de letalidade] em outras idades”, observou.

A contribuir para este padrão consistente na pandemia - quer no tempo, quer no espaço - estarão também fatores de natureza comportamental. De acordo com Ruy Ribeiro, que não deixou de alertar para o risco de generalizações, alguns comportamentos mais frequentes nos homens associam-se a um pior prognóstico no contexto da covid-19.

“Em geral, os homens têm menos tendência a recorrerem a cuidados de saúde e, quando têm alguma queixa, esperam mais tempo para ir ao médico do que as mulheres. E os homens fumam mais do que as mulheres, não tanto no ocidente, mas em especial nos países asiáticos, como a China, sobretudo em idades avançadas”, frisou, sem descartar aspetos “hormonais ou imunológicos intrínsecos”, face à ausência de estudos mais conclusivos sobre o SARS-CoV-2.

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