Covid-19: Portugal suspende vacina da AstraZeneca em pessoas com menos de 60 anos - TVI

Covid-19: Portugal suspende vacina da AstraZeneca em pessoas com menos de 60 anos

  • João Guerreiro Rodrigues
  • com Lusa
  • 8 abr 2021, 19:01

Decisão surge na sequência do anúncio da EMA sobre a ligação da vacina com o aparecimento de coágulos sanguíneos

Portugal vai suspender a administração da vacina da AstraZeneca para pessoas com menos de 60 anos, anunciou esta quinta-feira a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Infarmed, numa conferência de imprensa conjunta que acontece um dia após o anúncio da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) de que existe uma ligação entre a vacina britânica e o aparecimento de coágulos sanguíneos.

A Direção-Geral da Saúde recomenda, até estar disponível informação adicional, a administração da vacina da AstraZeneca a pessoas com mais de 60 anos. O plano de vacinação é ajustado para garantir que todas as pessoas são vacinadas com a vacina que protege”,, explicou a diretora-geral da Saúde.

Graça Freitas apelou ainda às pessoas que já receberam a primeira dose da vacina para que se “mantenham tranquilas”, uma vez que as reações adversas que foram notificadas são “extremamente raras”.

No entanto, nos 7 a 14 dias após a administração da vacina, devem estar atentas a sintomas como dores de cabeça persistentes, hematomas, manchas vermelhas na pele e sintomias semelhantes a um a AVC. Nestes casos, devem contactar de imediato o médico”, referiu a responsável da DGS.

Em relação à toma da segunda dose da vacina da AstraZeneca, a diretora-geral considerou que quem já recebeu a primeira toma deve manter-se também “calmo e confiante”.

Acima dos 60 anos não se verificou esta associação a fenómenos trombóticos”, afirmou o presidente do Infarmed, Rui Ivo. “À medida que a idade avança o risco de complicação da covid-19 aumenta e o risco de fenómenos trombóticos diminui.”

Vacinação de professores adiada uma semana

Henrique Gouveia e Melo, coordenador da Task Force da vacinação, revelou que o impacto desta recomendação no plano de vacinação é "pequeno" e anunciou o adiamento de uma semana para a vacinação do pessoal docente e não docente, para o fim de semana de 17 e 18 de abril.

O vice-almirante sublinhou a utilidade da vacina da AstraZeneca no cumprimento do plano de vacinação, relembrando que ainda existem mais de dois milhões de pessoas com mais de 60 anos por vacinar e, por isso, o fármaco britânico continua a ser "útil" e continuará a ser utilizado.

Temos uma população acima dos 60 anos superior a dois milhões de habitantes, portanto, a vacina da AstraZeneca, sendo útil na vacinação dessa população, o plano não vai sofrer grandes alterações e será útil para conseguir dar proteção a uma população mais idosa. Vai ser usada precisamente para isso”, explicou, sem deixar de manifestar a expectativa de que "no fim de maio a maior parte da população com mais de 60 anos esteja praticamente toda vacinada com a primeira dose".

Presidente do Infarmed nega alterações aos contratos das vacinas

O presidente do Infarmed negou que existam alterações aos contratos entre o país e as farmacêuticas responsáveis pelas vacinas contra a covid-19, após o anúncio da recomendação da vacina da AstraZeneca para a população acima dos 60 anos.

Em relação aos contratos não há nenhuma alteração. Posso até adiantar que amanhã [sexta-feira] irá haver uma reunião com várias das empresas com que há contratos, entre as quais a AstraZeneca”, revelou Rui Santos Ivo, numa conferência de imprensa realizada na sede da Autoridade Nacional do Medicamento, em Lisboa.

Acompanhado também pelo coordenador da ‘task force’ do plano de vacinação, vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, e da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, o líder do Infarmed recordou as conclusões da Agência Europeia do Medicamento (EMA) acerca da utilização da vacina da AstraZeneca e a ocorrência de fenómenos trombóticos para enfatizar que “são extremamente raros”.

Quando dizemos que há uma possível ligação, no fundo, isto tem sobretudo a ver com a monitorização que é feita destes eventos adversos. Estamos a identificá-los porque estamos a utilizar a vacina numa larga escala: há mais de 30 milhões de vacinas administradas. À medida que identificámos um número maior, foi possível fazer uma relação entre a administração da vacina e esses fenómenos. Não podemos excluir essa possibilidade. No entanto, não se identificou ainda nenhum fator específico para esses fenómenos”, observou.
 

A informação de uma possível suspensão deste fármaco já tinha sido avançada por Berto Cabral, diretor regional de Saúde do Governo dos Açores, durante a conferência semanal que atualiza a situação epidemiológica no arquipélago.

Apesar de a União Europeia ainda não ter tomado uma decisão unânime sobre a administração desta vacina para covid-19, vários países já tinham restringido a toma da vacina para maiores de 65 anos, como é o caso da Alemanha e dos Países Baixos.

A EMA, apesar de admitir a ligação entre o fármaco e casos raros de tromboembolismo associado a uma quebra acentuada de plaquetas, insiste, ainda assim, que os benefícios da toma da vacina superam em larga escala os riscos associados. 

Segundo a EMA, foram registados 62 casos de trombose do seio venoso cerebral e 24 casos de trombose venosa esplâncnica até 22 de março, bem como 18 mortes, num universo de cerca de 25 milhões de vacinados na UE, Espaço Económico Europeu e Reino Unido.

A Vaxzevria é uma das quatro vacinas autorizadas na União Europeia para proteção contra a covid-19. No entanto, vários países já decidiram, entretanto, traçar limites e não administrar a vacina da AstraZeneca abaixo de certas idades por uma questão de segurança: 30 anos no Reino Unido, 55 anos em França, Bélgica e Canadá, 60 anos na Alemanha, Itália e nos Países Baixos ou 65 anos na Suécia e na Finlândia.

Em Portugal, morreram 16.899 pessoas dos 825.633 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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