Vacinação: "O grupo técnico não tem ninguém da ciência. O Ministério da Ciência é invisível" - TVI

Vacinação: "O grupo técnico não tem ninguém da ciência. O Ministério da Ciência é invisível"

Miguel Castanho, Pedro Caetano e Carla Freitas analisaram os avanços das principais vacinas contra a covid-19 na TVI24

A busca pela vacina que vai colocar um ponto final na pandemia de covid-19 parece estar cada vez mais perto do fim. Os fármacos das farmacêuticas "Pfizer" e "Moderna" demonstraram ter uma eficácia de cerca de 94%, nos estudos preliminares, e podem mesmo ser aprovados ainda no próximo mês.

O planeta está a preparar-se assim para uma das maiores operações logísticas a que já assistimos, a vacinação em massa contra a covid-19.

A vacina da Pfizer poderá mesmo ser aprovada já no dia 12 de dezembro, mas Portugal continua sem um plano de vacinação definido. António Costa revelou que o documento deverá ser anunciado na quinta-feira, mas Miguel Castanho, professor na Faculdade de Medicina de Lisboa, considera que estão a ser cometidos erros na idealização do plano de vacinação contra a covid-19.

O especialista realça que não existe ninguém ligado à ciência no grupo técnico constituído para o plano de vacinação e acusa o Ministério da Ciência de estar a ser "invisível".

Em Portugal, não temos ninguém a ser o rosto da ciência e a dar a cara pelas medidas que são tomadas, O grupo técnico agora constituído para o plano de vacinação não inclui ninguém do lado da ciência. O Ministério da Ciência é um Ministério invisível nesta altura em que se exige tanto à ciência. Não há rosto da ciência para as medidas que são tomadas. Não podemos tratar isto [plano de vacinação] ao nível dos princípios da política. Temos de esperar para ver o que vão dizer as entidades reguladoras sobre se aconselham ou não a administração da vacina e até que limite de idade. Antes de ser uma questão política é uma questão técnica. Em Portugal, tudo é um palco político, reteirou.

Miguel Castanho acrescentou ainda que as vacinas terão efeitos adversos, que não têm sido noticiados. O professor catedrático garante que poderão ocorrer inchaços, dores de cabeça, tonturas ou sensação de fadiga a quem for vacinado.

Tem sido muito noticiado que não há efeitos adversos. Querendo na realidade dizer-se efeitos adversos muito nocivos ou muito limitativos, mas existem efeitos adversos e estão nos estudos preliminares que já estão publicados. É importante que seja explicado. É importante que as pessoas estejam à espera para não se sentirem defraudadas. Mas é preciso ter alguma pedagogia e boa comunicação para explicar que o que resulta de bom, eventualmente, ultrapassa em muito aquilo que podem ser alguns efeitos adversos”, alertou.

 

Pedro Caetano, cientista fármaco-imunologista que trabalha numa farmacêutica multinacional em Oxford, Inglaterra, confessou estar confiante com os resultados dos estudos preliminares das vacinas contra a covid-19 da “Pfizer” e da “Moderna”.

Penso que devemos estar otimistas em relação aos dados. Aliás, a vacina da Pfizer pode já ser aprovada no dia 12 de dezembro, porque os resultados são mesmo muito bons à volta de 94% de eficácia quer para a Pfizer como para a Moderna”, explicou.

Contudo, o especialista lembrou que serão precisos pelo menos dez meses para o Reino Unido, que já tem um plano de vacinação fiável, conseguir vacinar 65% da população, o mínimo necessário para alcançar a imunidade de grupo.

Aqui em Inglaterra, como está o planeamento feito e foi bem sucedido na vacina da gripe, é uma questão de criar uma escala maior para a vacina da covid-19. Mas, mesmo assim, os números dizem que só cerca de um milhão de pessoas por semana, quatro milhões por mês, vão conseguir ser vacinadas o que significa que é mais ou menos 6% da população. Para a imunidade de grupo precisamos de pelo menos 65% da população vacinada, o que pode levar dez meses”, evidenciou.

 

Carla Freitas é voluntária nos testes da vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford.

A portuguesa, reside em Londres, no Reino Unido, é terapeuta ocupacional especializada na área de reabilitação neurológica e explica que decidiu participar no estudo do fármaco depois de observar os efeitos devastadores que provocou em alguns dos pacientes que trata.

Num prazo muito breve começámos a aperceber-nos que défices neurológicos, sequelas, eram extremamente comuns após casos severos de coronavírus. Comecei a perceber o efeito devastador que esta doença pode ter e senti que era um dever”, revelou.

 

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