Mal o Sol tinha rompido os céus e já uma pequena multidão circundava as grades que delimitavam o espaço por onde, muitas horas depois, havia de passar o Papa Francisco. Muitos tinham resistido ao frio e à chuva e haviam pernoitado ali. Outros tinham acabado de chegar.
Era o caso de Carla. Veio com o filho bebé, acompanhada da mãe, cumprir uma promessa. Em junho, quando o filho nasceu prematuro, com graves problemas de saúde, prometeu que havia de vir a Fátima, no dia em que o Papa Francisco cá estivesse.
Cumpriu esta sexta-feira a promessa de trazer Diego, vestido a rigor, com um fato de Papa que a própria avó costurou. “Há um ano perdi um filho e esta menina perdeu o irmão”, conta a mãe de Carla, depois de relatarem a história de Diego, um autêntico bebé milagre.
Nasceu às 33 semanas de gravidez. Tinha uns frágeis 1675 gramas e 40 centímetros de comprimento. Foram 76 dias internado, com muitos avanços e recuos. Quase metade desse tempo foi passado nos cuidados intensivos neonatais do Hospital de Santa Maria. Muitos deles com assistência respiratória.
À tarde voltámos a encontrar esta família, já depois da primeira oração do Papa no Santuário. A avó de Diego não cabia em si de contente: “Conseguimos! O Papa Francisco olhou para ele, sorriu, apontou e fez-lhe o sinal da bênção.”
O objetivo da mãe Carla de ver o filho abençoado estava cumprido. Para elas, a peregrinação estava terminada e preparavam-se para voltar ao Pinhal Novo.
Longos minutos de silêncio
No Santuário, estavam ainda milhares de peregrinos e muitos outros tentavam entrar. A maioria tinha esperado o Papa durante todo o dia, que amanheceu a ameaçar chuva, mas que trouxe uma tarde de sol radioso.
O Papa Francisco aterrou na Base Aérea de Monte Real pouco depois das 16:00. No Santuário, assistia-se ao “feito histórico” através dos ecrãs gigantes. E os aplausos repetiam-se. E os cânticos ecoavam.
Cada passo do Papa ainda na Base Aérea era seguido com muita atenção. Os peregrinos que o viram entrar no helicóptero, viram também o aparelho sobrevoar os céus do santuário por diversas vezes. E a cada volta mais aplausos.
E mais gente continuava a entrar no recinto.
A entrada do Sumo Pontífice no santuário foi o momento alto. Os peregrinos atropelavam-se nas selfies e nas gravações de vídeos e tentavam a todo o custo abeirar-se das grades que delimitavam o circuito.
E mais peregrinos entravam no santuário, formando uma moldura humana impressionante.
O Papa entrou na Capelinha das Aparições, para uma oração silenciosa. Os peregrinos foram convidados a juntarem-se-lhe no silêncio. E aceitaram.
Milhares de pessoas, juntas no mesmo espaço, cumpriram longos minutos de silêncio.
Depois deste momento de recolhimento, o Papa entregou-se a Nossa Senhora. Na primeira oração pública que fez na Capelinha das Aparições, o papa Francisco pediu “a concórdia entre todos os povos”, na oração que fez na Capelinha das Aparições, no Santuário de Fátima, onde chegou esta tarde para as cerimónias que assinalam o Centenário das Aparições.
Repetindo as suas preocupações em relação aos conflitos que ocorrem em diversas partes do mundo, como “bispo vestido de branco”, pediu a Nossa Senhora para, “no mais íntimo” do seu “Imaculado Coração”, que veja “as dores da família humana que geme e chora neste vale de lágrimas”.
A bênção de umas velas que se espalharam pelas ruas de Fátima
Caiu a noite no santuário e não parou de chegar gente. O Papa regressou para a bênção das velas e para o Terço. Desta vez, muitos foram os que tiveram que ficar “à porta”. O Santuário de Fátima foi pequeno para tanta gente.
Valeram os altifalantes e os ecrãs gigantes que foram espalhados pelas ruas circundantes. À entrada, junto à Basílica da Santíssima Trindade, frente aos ecrãs, outra multidão seguia as cerimónias.
Nas ruas, junto às lojas de recordações que ladeiam o recinto, mais gente erguia as velas no ar a cada mistério que se avançava no Terço. Muitos peregrinos optaram pelas televisões dos cafés e restaurantes mais próximos.
Lembro-me da vinda de quatro Papas a Fátima. E não me lembro de um fenómeno como este”, atalha um peregrino, junto à entrada Sul do santuário.
A oração do Terço terminou e um mar de gente espalhou-se pelas ruas e pelas principais avenidas de Fátima, com as velas acesas, como se o santuário fosse pequeno demais para tanta luz. E era…
Percorremos o caminho no sentido contrário a esse fluxo e percebemos que a multidão que tenta sair é quase tão grande como a que tenta entrar.
A noite é de vigília e oração e muitos não vão arredar pé até o Papa terminar a missa deste sábado.