Papa em Fátima: a visita de um peregrino que veio reforçar a esperança - TVI

Papa em Fátima: a visita de um peregrino que veio reforçar a esperança

Foi um peregrino especial, é certo. Mas foi como peregrino que o Papa Francisco esteve no Santuário de Fátima: “Não podia deixar de vir aqui venerar a Virgem Mãe e confiar-lhe os seus filhos e filhas"

O Santuário começa a esvaziar-se. Ameaça chover, mas há quem prefira ficar sentado, forrar o estômago, antes do regresso a casa. “Emoção” é a palavra mais ouvida, nestes momentos finais da peregrinação, quando se percorre o recinto.

O Papa reforçou aqui em Fátima a mensagem que sempre transmitiu ao longo do seu pontificado. É uma mensagem de paz, de apoio aos mais pobres, aos mais desfavorecidos. É também uma mensagem de esperança”, analisa Alberto Almeida.

Alberto e a família vieram da Parede e de Santarém. Juntaram-se em Fátima para as comemorações do centenário das aparições e também para a visita do Papa Francisco. São sete, que agora sentados em círculo, muito perto do altar onde o Papa presidiu este sábado à missa, analisam a peregrinação.

Eu senti uma alegria imensa. Um calor imenso. E não estou a falar do Sol. Falo de um calor interior”, tenta explicar Brigite Braz.

Ao lado, está Patrícia, 19 anos, que já assiste a uma celebração do Papa pela segunda vez. A primeira foi nas Jornadas Mundiais da Juventude, em Cracóvia. “É sempre uma alegria imensa ouvi-lo. Mas aqui foi especial, sem dúvida. Viram-se tantos jovens, era tanta gente… numa altura em que tanto se fala que os católicos, e sobretudo os jovens, andam afastados da Igreja, este Papa veio aqui provar o contrário. Veio trazer união. Veio trazer esperança”, diz.

O Papa e as crianças

A peregrinação deste 13 de Maio decorreu muito em torno das crianças. Este sábado o Papa canonizou Francisco e Jacinta, duas crianças. E por várias vezes os invocou durante a homilia que fez no Santuário.

O Sumo Pontífice disse que os novos santos são um exemplo e elogiou Nossa Senhora de Fátima que, a partir de um “esperançoso Portugal”, abençoou a Igreja Católica há cem anos.

Como exemplo, temos diante dos olhos São Francisco Marto e Santa Jacinta, a quem a Virgem Maria introduziu no mar imenso da Luz de Deus e aí os levou a adorá-Lo”, afirmou Francisco.

A canonização comoveu os peregrinos. A Maria de Lurdes, 58 anos, faltam as palavras para descrever o que sentiu: “Foi um trambolhão de emoções”.

O milagre que conduziu à canonização dos mais novos santos da Igreja Católica bafejou uma criança brasileira, que sofreu um grave acidente, com sérias lesões cerebrais. Lucas esteve este sábado no Santuário de Fátima e participou do ofertório, tendo recebido um longo abraço do Papa Francisco, num dos mais marcantes momentos desta peregrinação.

Já à saída do Santuário, pouco depois de o papamóvel iniciar a viagem pelo meio da multidão, junto à Capelinha das Aparições, houve uma pequena paragem. Um bebé recém-nascido chamou a atenção do Papa, que fez sinal ao motorista e pediu para abrandar. Tomou a menina de apenas três semanas em suas mãos, aconchegou-a junto ao seu rosto e devolveu-a aos pais.

Maria de Lurdes e Heleodora testemunharam o momento bem de perto. Já tinham feito amizade com os pais da bebé, que ali aguardavam como elas a passagem do Papa.

Fiquei muito feliz. Muito emocionada! Tenho a certeza que aquela criança vai ficar abençoada para toda a vida”, descreve Maria de Lurdes.

Ainda na homilia deste sábado, o Papa pediu aos peregrinos para rezarem a Deus “com a esperança de que nos escutem os homens”. Francisco citou uma carta da irmã Lúcia, para acrescentar que em Fátima o Céu “desencadeia uma verdadeira mobilização geral” contra a “indiferença” que gela o coração e “agrava a miopia do olhar”.

Não queiramos ser uma esperança abortada. A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida."

As câmaras de televisão que nos mostraram o Papa Francisco nestas menos de 24 horas que esteve em Portugal, mostraram-nos um Papa circunspecto durante as cerimónias. Os peregrinos que conseguiram ver o Papa mais de perto, nesta peregrinação, recordam-lhe um sorriso tranquilo. 

“A fome, a sede, o frio… tudo valeu a pena”

Conceição e Fernanda vieram do Porto para celebrar o 13 de Maio. É assim todos os anos. Praticamente têm lugar reservado em frente da capelinha das aparições de um ano para o outro. Normalmente, chegam a 12, mesmo a tempo da procissão das velas. Este ano, vieram mais cedo. Chegaram no dia 10, pouco depois das 17:00. Os últimos três dias têm sido vividos ali, com umas idas intermitentes ao carro, para um descanso mais reconfortante. E não são as únicas.

Quando aqui cheguei hoje de manhã, depois de ir dormir umas horas ao carro, era tanta gente a dormir no chão, embrulhados em mantas, em sacos de cama molhados. Parecia uma cena de um campo de concentração. Impressionou-me tanto”, confessa Conceição.

Não tomam banho há três dias, não há uma refeição quente já lá vai o mesmo tempo e até as idas à casa de banho têm de ser racionadas. “Mas, quando se tem fé, tudo vale a pena. A fome, a sede, o frio… tudo valeu a pena”, remata Conceição, que encontrámos a retocar o batom depois de almoço.

Esta típica mulher do Norte com “69 anos no bilhete de identidade e 70 de nascida”, por culpa dos registos tardios que antigamente se faziam, veio a Fátima pela primeira vez quando tinha 26 anos. Foi a única vez que veio a pé, mas nunca mais deixou de estar presente a cada 13 de Maio.

Prometeu a Nossa Senhora, depois de um grave acidente que lhe levou o marido, que assim seria se o filho sobrevivesse. O menino sofreu graves fraturas, mas é hoje um homem muito perto dos 50 anos.

Heleodora nasceu na Madeira. Hoje, já depois de o Papa abandonar o recinto, recorda a infância e como via as peregrinações em Fátima na televisão, “de lágrimas nos olhos”. “Eu pensava que um dia havia de cá vir. Tinha 23 anos, quando vim pela primeira vez. Todas as vezes que venho são especiais, mas hoje superou as expectativas”, confessa.

Maria de Lurdes corrobora: “Há três ou quatro dias nenhuma destas pessoas se conhecia e hoje levo daqui amizades”. “Deve ser mais ou menos assim quando chegarmos ao céu: ninguém se conhece, mas ficamos todos amigos”, remata.

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