A greve dos enfermeiros nos blocos cirúrgicos que começou, esta quinta-feira, obrigou ao adiamento de pelo menos 261 cirurgias marcadas para o período da manhã em cinco hospitais da região Norte, disse à Lusa fonte sindical.
De acordo com a Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), no Hospital de Braga, durante o período da manhã foram canceladas 36 cirurgias, já no Centro Hospital do Porto a greve obrigou ao adiamento de 54 cirurgias.
Já no Centro Hospitalar Gaia/Espinho, foram adiadas 52 cirurgias, um número bastante superior ao registado no Centro Hospitalar de entre Douro e Vouga onde foram canceladas 23 cirurgias.
O Centro Hospitalar São João foi a unidade de saúde onde, de acordo com os dados provisórios da ASPE, o impacto da greve dos enfermeiros nos blocos cirúrgicos foi maior.
Segundo a mesma fonte, só durante o período da manhã, foram canceladas 96 cirurgias.
A greve dos enfermeiros em blocos operatórios de sete hospitais públicos arrancou esta quinta-feira, estendendo-se até ao final de fevereiro, tendo sido convocada pela Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) e o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor).
A greve abrange sete centros hospitalares: São João e Centro Hospitalar do Porto, Centro de Entre Douro e Vouga, Gaia/Espinho, Tondela/Viseu, Braga e Garcia de Orta.
No final da semana passada o Sindepor lançou um novo pré-aviso para alargar a greve a mais três centros hospitalares entre 08 e 28 de fevereiro: Centro Hospitalar de Coimbra, Centro Hospitalar Lisboa Norte e Centro Hospitalar de Setúbal.
Segundo os presidentes da ASPE e do Sindepor, os principais pontos que separam o Governo e os sindicatos e que não permitiram consenso nas negociações são o descongelamento das progressões na carreira e o aumento do salário base dos enfermeiros.
Em 2018 a greve obrigou a adiar pelo menos 500 cirurgias prioritárias
Pelo menos 500 cirurgias consideradas prioritárias, ou muito prioritárias, foram adiadas devido à primeira greve dos enfermeiros em blocos operatórios, segundo dados de dois hospitais onde decorreu a paralisação que terminou em dezembro de 2018.
A informação consta de uma resposta enviada à Ordem dos Médicos (OM) por dois dos cinco centros hospitalares em que decorreu a primeira greve cirúrgica dos enfermeiros, que decorreu de 22 de novembro até final de dezembro e que levou ao cancelamento total de quase 8.000 operações.
Os enfermeiros iniciaram esta quinta-feira uma segunda "greve cirúrgica", que decorre em sete hospitais e centros hospitalares. Esta segunda greve deverá prolongar-se até ao final de fevereiro.
Em meados de dezembro de 2018, o bastonário da OM, Miguel Guimarães, recorreu à lei que regula o acesso a informação administrativa para solicitar às administrações dos hospitais onde decorria a greve informação sobre as operações adiadas e a gravidade dos doentes.
Segundo Miguel Guimarães, o hospital de São João não enviou qualquer resposta e só dois dos outros hospitais enviaram elementos que respondiam ao que tinha sido solicitado pela Ordem dos Médicos.
No caso do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), tinham sido canceladas 1.890 cirurgias desde o início da greve e dia 26 de dezembro, quando foram preparados os dados a enviar à OM.
Em Coimbra, pelo menos 430 das cirurgias adiadas eram prioritárias ou muito prioritárias. Em relação ao total, 22% das operações adiadas eram prioritárias e 2% muito prioritárias.
Contudo, do total de cirurgias canceladas o CHUC identificou que 394 cancelamentos foram "resolvidos no período da greve".
Das 1.890 cirurgias adiadas, 8% cento eram em operações de crianças.
Na resposta à OM, o CHUC acrescenta que muitos doentes não chegam a estar refletidos nestes dados, porque a respetiva cirurgia não chegou a ser agendada devido às perspetivas da própria greve. “Só virão a ser visíveis no aumento da lista de espera e no aumento de posteriores transferências para o setor privado”, refere o centro hospitalar.
No Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Norte, ao qual pertencem os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, mais de 120 cirurgias prioritárias ou muito prioritárias foram adiadas no decurso da primeira greve cirúrgica dos enfermeiros.
Segundo a administração do Santa Maria, quase 15% das cirurgias adiadas eram prioritárias e 3,5% muito prioritárias.
No momento em que enviou a informação à OM, o Centro Hospitalar Lisboa Norte apontava para 676 operações adiadas, mas entretanto, no parlamento, o presidente da administração indicou que mais de 800 tinham sido afetadas pela greve dos enfermeiros.
Em declarações esta quinta-feira à agência Lusa, o bastonário da OM voltou a apelar ao Ministério da Saúde para que divulgue os casos dos doentes com cirurgias adiadas em consequência da greve que hoje começou, repetindo o apelo que já tinha feito aquando da primeira greve dos enfermeiros em blocos operatórios.
Miguel Guimarães considera ainda que os serviços mínimos devem ser ajustados de forma a não permitir que doentes prioritários vejam as suas operações adiadas.
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros afirmou que na primeira greve em blocos operatórios não houve qualquer situação que tivesse posto em causa a vida das pessoas e considera adequados os serviços mínimos definidos.
Em declarações à agência Lusa, Ana Rita Cavaco disse que “não houve nenhuma situação que tivesse posto em risco a vida de ninguém, nem houve cirurgias prioritárias a ser adiadas”.
A bastonária recorda que acompanhou o cumprimento dos serviços mínimos durante a primeira greve e que os conselhos de administração dos hospitais garantiram que os enfermeiros tinham ido além dos serviços mínimos e aberto mais salas cirúrgicas.