«É assim que as ditaduras surgem» - TVI

«É assim que as ditaduras surgem»

  • Portugal Diário
  • - Pedro Sales Dias
  • 26 mar 2007, 13:10
Santa Comba Dão «em guerra» por causa de museu de Salazar (Foto Paulo Cunha/Lusa)

António Vilarigues, da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, alerta para o Branqueamento do fascismo

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Como reage à nomeação de Salazar em plena democracia à frente de Álvaro Cunhal e de Aristides de Sousa Mendes?

«Vem na actual linha de conta do branqueamento do fascismo, a própria RTP admitiu que poderá ter havido uma manipulação da votação. Julgo que não há dúvidas que em democracia ninguém tem saudades do Fascismo. A RTP teve a ideia peregrina de, em Portugal, realizar este concurso, mas nem em época eleitoral se viu tantos cartazes publicitários. Não quero deixar a ideia de que houve segundas intenções, mas a RTP teve uma actuação desastrosa».

Foi apenas um concurso ou identifica alguns sinais de mudança na sociedade portuguesa?

«Foi apenas um concurso e é reflexo das falhas do ensino em Portugal. Eu próprio tenho três filhos e sinto isso. Os portugueses sabem muito pouco sobre o fascismo e sobre Salazar. Julgo que foi também um voto de protesto contra o actual estado de deturpação dos valores, a crise actual. É preciso lembrar que é assim que as ditaduras surgem. Foi em condições semelhantes que Hitler foi eleito democraticamente».

Há um branqueamento do Fascismo?

«Claro que há, até de pessoas com as melhores intenções. Nota-se isso nos livros recentes que têm saído para tentar humanizar a figura de Salazar e na vontade de criar um Museu em Santa Comba Dão, quando todo o espólio e arquivo já estão na Torre do Tombo e disponíveis para quem os quiser consultar.

As ideias fascistas não revivem por acaso. É inqualificável a tentativa de comparação de Cunhal com Salazar, do torturado com o torturador. É repugnante e asqueroso».

Que efeitos terá o desfecho da votação na sociedade portuguesa?

«Criará um debate sobre o fascismo e sobre Salazar em Portugal. Fiquei surpreendido quando há poucos dias, num café, ouvi da boca de um jovem a ideia de que Cunhal e Salazar tinham estado juntos num executivo a governar Portugal».
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