A ministra da Administração Interna garantiu, no Parlamento, que se está a recolher, analisar e cruzar todos os dados do incêndio de Pedrógão Grande “desde a primeira hora” e que é preciso obter uma série de respostas. A própria governante tem dúvidas, mas uma coisa lhe parece certa: "É evidente que houve falhas nas comunicações".
Que tipo de incêndio é este que, num tão curto espaço de tempo, se espalha em todas as direções como se fosse um tsunami. Temos todos que perguntar se falhámos, onde, se poderíamos ter evitado a perda daquelas vidas humanas e mais de 200 feridos”.
Na comissão parlamentar Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, Constança Urbano de Sousa sustentou também que é preciso saber se o sistema (o SIRESP) falhou e “qual o real impacto nas conhecidas dificuldades das comunicações”. Recorde-se que, anteontem, a ministra ordenou uma investigação. E fê-lo, disse depois, por existirem “incongruências” no relatório que fez sobre os incêndios de Pedrógão Grande e ao SIRESP.
Por haver incongruências naquilo que a Secretaria-Geral do MAI disse, que é publico, mandei instaurar uma auditoria por parte da Inspeção-Geral do MAI”
Segundo a ministra, a Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, responsável pela gestão das duas antenas móveis que permite a ligação com a rede de comunicações SIRESP, “não poderia ignorar que uma antena estava avariada” e a outra tinha sido mandada para inspeção.
Esta situação “é inconcebível” para a governante, que adiantou que o Estado gasta por ano 40 milhões de euros com o sistema de comunicações.
É, garantiu, um “sistema de comunicações seguro”, não só para os agentes da proteção civil, como também para os polícias. “Não é apenas para situações de emergência”, mas “para o dia-a-dia”. Só que "é evidente que houve falhas nas comunicações”.
Antes, tinha dito que “são tudo questões para as quais se exigem respostas, que têm que ser objetivas, transparentes, ponderadas e sustentados”, defendeu. Sublinhou também que, desde a primeira hora, o Governo apoia a criação de uma comissão técnica independente, proposta pelo PSD, que possa responder a estas questões.
"Foi o momento mais difícil da minha vida"
A ministra espera que, no mais curto espaço de tempo, exista uma resposta. Da parte do Governo, garante que está a ser feito o que dever ser feito, mas que não pode haver resultados precipitados.
Desde a primeira hora, que estamos a recolher, analisar, cruzar todos os dados que dispomos e a tentar perceber tudo o que se passou. Mas esta é uma tarefa que leva o seu tempo”
É necessário esclarecer “as principais e legítimas dúvidas” sobre o que se passou no incêndio que deflagrou a 17 de junho em Pedrógão Grande, que matou 64 pessoas e feriu cerca de duzentas, deixando um lastro de destruição. Realçou que ela própria tem dúvidas e deixou ainda um desabafo:
Este não foi o momento mais difícil da minha carreira politica, foi o momento mais difícil minha vida”
Com a voz embargada e quase a chorar, a ministra voltou a dizer que “seria muito mais fácil" demitir-se. "E corresponder à vontade de alguns que consideraram que uma demissão, a demissão da ministra, seria no fundo a solução para o problema e que no dia seguinte os problemas estavam todos resolvidos, mas não estão. Senti que naquele momento que era a minha missão estar com aqueles homens e mulheres que de forma inexcedível deram tudo o que tinham para resolver uma situação que era extremamente difícil”.
"Mande-os calar. Comande!"
No início da sua intervenção, o deputado do PSD Fernando Negrão afirmou que “os estados de alma, muitas vezes, não nos ajudam a agir”, adiantando que é necessário ação para resolver os problemas das pessoas.
Algo que foi também exigido pelo líder do PSD, poucas horas antes, no debate quinzenal com o primeiro-ministro. Passos Coelho quer que as indemnizações às famílias das vítimas comecem a ser pagas desde já.
Por sua vez, o deputado do CDS/PP Nuno Magalhães considerou que a troca pública de acusações entre as diversas autoridades é um “espetáculo gravíssimo” e que a ministra devia controlar os organismos que tutela. “Mande-os calar. Comande!”.
Mudanças nas unidades móveis
Na mesma comissão, o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, anunciou que as quatro unidades móveis do SIRESP vão passar a estar pré-posicionadas por todo o país para poderem “acorrer a qualquer incidente de forma rápida e eficiente”.
Jorge Gomes referia-se às duas unidades móveis que estão na PSP e na GNR e às outras duas da Autoridade Nacional de Proteção de Civil que vão passar a estar ligadas por satélite.