Noite Branca: «Já desgracei a vida» - TVI

Noite Branca: «Já desgracei a vida»

Hugo Rocha, um dos suspeitos do homicídio do segurança da discoteca «El Sonero»

Arguidos negam ter premeditado homicídio e apontam culpa a segurança que acabou também por ser assassinado

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«Já desgracei a vida», estas foram, na versão de dois dos arguidos, as palavras proferidas por Alberto Ferreira (conhecido como Berto Maluco) à saída do bar El Sonero, no Porto, após o tiroteio que vitimou o segurança Nuno Gaiato, em Julho de 2007. Esta sexta-feira, José Santos (conhecido como Timóteo) e Vasco Cardoso (conhecido como Vasquinho) negaram ao colectivo de juízes do tribunal de São João Novo ter ido ao bar com a intenção de matar o segurança, como diz a acusação, versão que coincide com a contada pelo outro arguido, Hugo Rocha.

«Timóteo» e Vasco afirmaram que Berto quis «passar pelo El Sonero para falar com o Nuno [Gaiato]», mas garantem que consideraram que se trataria de uma «conversa normal», dado «que eles eram amigos».

Ambos afirmam ter ficado «para trás a conversar e a fumar um cigarro». «Ficamos cá fora a fumar e eles entraram. De repente, ouvi uns estrondos que pareciam tiros», conta «Timóteo». O arguido afirma que então entrou no bar para ver o que se passava. «Não ouvi nada, estava tudo normal, com pessoas a dançar e tudo. Então, voltei à porta para perceber se os barulhos ainda se ouviam lá fora», explicou.

Entretanto, «o Vasco entrou e eu fui atrás dele», adiantou. O outro arguido explicou então que ao entrar no bar, viu «algumas pessoas a olhar na direcção de uma porta que ficava ao fundo da casa». «Como não vi o Hugo e o Berto em lado nenhum, resolvi ir até lá. Foi então que vi as escadas e, lá ao fundo, o Hugo deitado no chão», explicou Vasco. «Desci para ir ajuda-lo e foi quando vi que o Berto estava a tentar levanta-lo».

Ambos os arguidos disseram ter visto a arma na mão de Alberto Ferreira (que acabou também por ser assassinado no final de 2007) e, embora afirmassem que, «Berto andava muitas vezes armado», garantiram que não sabiam que era o caso naquela noite.

Gato sapato

Os arguidos contam então que ajudaram a levar Hugo Rocha, que tinha sido baleado, para o carro, tendo Berto saído à frente. «No carro, a única coisa que ele disse foi: "Desgracei a minha vida"», afirmaram ambos.

«Timóteo» disse então que, a caminho do hospital, telefonou a Aurélio Palha, que tinha sido seu cunhado e era dono da discoteca Chic onde trabalhavam, além de Timóteo, Hugo Rocha e Alberto Ferreira. «Eu não sabia o que havia de fazer e ele tinha contactos em muitos sítios. Sempre que tinha algum problema, pedia-lhe ajuda», contou.

Os arguidos contam que, ao chegar ao hospital, «Berto arrancou ainda com as portas do carro abertas», deixando Hugo com Timóteo e Vasco. «Tentei ligar-lhe depois, mas ele nunca atendia», explicou Vasco que, tal como «Timóteo», afirmou ter sabido da morte de Nuno por Aurélio Palha. «Ele disse-me que o Berto lhe tinha ligado a dizer que f**** o Nuno. Que tinha desgraçado a vida dele».

«Timóteo» e Vasco contaram também que Aurélio Palha e Berto tinham tentado convencer Hugo Rocha a assumir a autoria do crime, alegando legítima defesa, para evitar que Alberto Ferreira, então em liberdade condicional, fosse preso.

«Eu só soube depois da morte do Aurélio que o Berto fazia dele gato sapato», afirmou Timóteo, cuja opinião é partilhada por Vasco. «O Berto para o Aurélio era como um cancro. Ele tentava protege-lo para que ele não lhe fizesse mal».

Durante as declarações dos arguidos, o juiz e o procurador notaram várias incongruências, incluindo registos de chamadas telefónicas de Berto com Vasco e Timóteo no dia do crime, embora os envolvidos afirmem que «não era normal» falarem com Alberto Ferreira ao telefone.
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