Acidente em França: ainda há várias questões por responder - TVI

Acidente em França: ainda há várias questões por responder

  • Inês Pereira / Vanessa Cruz
  • 26 mar 2016, 00:22

Condutor pode vir a ser constituído arguido. Carrinha vinha sobrelotada, mas não era ele o proprietário. Este terá estado no local do acidente, mas desapareceu

O acidente fatal com emigrantes portugueses em França, perto de Lyon, chocou, em primeiro lugar, pelo número de mortos - 12 pessoas, quase tantas como o atentado terrorista no aeroporto de Bruxelas -, pelas circunstâncias em que ocorreu e por ter acontecido numa altura festiva como a Páscoa. As autoridades estão a investigar e o único sobrevivente - o condutor - é uma peça fundamental para reconstituir o que se passou.

O jovem de 19 anos, que está em estado de choque, só falará quando equipa médica disser que tem condições psicológicas. Poderá vir a ser constituído arguido. 

As dúvidas

1-  É preciso saber se tem habitações legais para conduzir uma carrinha com aquelas dimensões, uma Mercedes Sprinter, que só pode ter seis ou nove lugares e não 13. Ora, quanto a isto, já é certo que o veículo vinha sobrelotado. Não tinha capacidade para transportar tanta gente.

2 - A carrinha não está em nome do condutor e é preciso encontrar o proprietário. A reportagem da TVI em França apurou que este que terá chegado o local do acidente, onde terá chegado a pé, mas entretanto desapareceu.

3 - Tudo indica que a carrinha não seguia sozinha em direção a Portugal. No total, seria uma coluna de três a quatro veículos do género, que teria como destino vários locais diferentes em Portugal. 

Viagem de risco

Este tipo de transporte é, de resto, comum entre emigrantes que pagam entre 150 a 200 euros por cada viagem, pelo que ida e regresso será o dobro desse valor. 

As pessoas que recorrem a este tipo de alternativa às viagens de avião não terão consciência dos riscos que correm, sobretudo por causa da estrada muito perigosa que têm de atravessar vindos da Suíça. Conhecida por quatro letras - RCEA - tem também o cognome de "estrada da morte", com poucos separadores centrais, numa reta onde o risco de condução monótona aumenta.

Corpos identificados, funerais ainda sem data

Os corpos das 12 vítimas estão no centro hospitalar de Moulins e já foram identificados. Grande parte das famílias das vítimas já reconheceu os corpos.

A expectativa é que só na terça-feira, depois da Páscoa, se proceda aos trâmites legais para depois realizar os funerais das vítimas, sendo que o Estado português se disponibilizou para fretar um avião para transportar os corpos para Portugal. 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e os primeiros-ministros português, António Costa, e francês, Manuel Valls, já expressaram condolências às famílias das vítimas.

O padre que acompanha a comunidade portuguesa em Lyon deslocou-se até à morgue onde ainda se encontram os corpos e o condutor hospitalizado, para um momento de oração e, também, para dar apoio aos familiares. A polícia suíça tem estado a contactar as famílias.

As vítimas eram de sete concelhos do norte e centro de Portugal: Cinfães, Sernancelhe, Oliveira de Azeméis, Pombal, Castelo de Paiva, Arouca e Trancoso. 

A brutalidade do acidente foi tema de abertura nos jornais em França, tendo a notícia sido amplamente divulgada. 

Houve outro acidente com emigrantes portugueses em França, também na madrugada de sexta-feira. O veículo onde seguiam quatro pessoas despistou-se. Sofreram apenas ferimentos ligeiros e já tiveram alta hospitalar. Foi nessa altura que perceberam que ficaram sem documentos, dinheiro, nem solução para concluir a viagem até Portugal.

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