Cristina Ferreira: mais de 40 mil assinam petição contra o cyberbullying - TVI

Cristina Ferreira: mais de 40 mil assinam petição contra o cyberbullying

No livro, que se intitula “Pra Cima de Puta”, Cristina Ferreira relata os ataques e insultos de que tem sido alvo na internet, sobretudo nas redes sociais

Cristina Ferreira lançou domingo à noite uma petição online para levar o debate sobre o ciberbullying à Assembleia da República. Esta iniciativa surge na sequência do lançamento do livro que a diretora de Entretenimento e Ficção da TVI acaba de lançar, cujas receitas vão reverter para instituições que se dedicam a este tema.

  • Veja aqui a petição de Cristina Ferreira.

No livro, que se intitula “Pra Cima de Puta”, Cristina Ferreira relata os ataques e insultos de que foi alvo na internet, sobretudo nas redes sociais e consulta vários especialistas sobre este problema que afeta milhares.

Segundo a nova lei parlamentar, para ser levada a discussão, uma petição necessita de 7.500 assinaturas, um número já largamente ultrapassado.

Em entrevista no Jornal das 8 de sábado passado, a apresentadora veio falar sobre a publicação, que resultou de várias críticas e ataques de que foi alvo nas redes sociais. "São uma tentativa clara de destruir, destruir a minha mora, destruir quem eu sou, pessoalmente", disse. A apresentadora entende que é alvo de críticas porque "Portugal não suporta a evidência do sucesso", citando Valter Hugo Mãe, que escreveu o prefácio do livro. "As pessoas culpam-nos por nos correr bem, porque trabalhámos para isso, porque atingimos este patamar", afirma.

A apresentadora revelou na entrevista que, desde que anunciou a sua saída da SIC para a TVI começou a receber muitos comentários críticos, tendo-se mostrado surpreendida com o sucedido. "Todos temos direito a achar que as nossas escolhas não foram as mais corretas", refere, sobre o regresso à TVI.

A petição online conta já com mais de 40 mil assinaturas. 

O texto da petição assinado por Cristina Ferreira:

A internet trouxe possibilidades extraordinárias, das quais eu e muitos de nós, publicamente ou em privado, beneficiamos. Mas é ainda um território sem lei. Discursos de ódio multiplicam-se exponencialmente nas redes sociais e nas caixas de comentários das notícias (e de textos que em nada cumprem o que se ensina nos cursos de jornalismo). A maldade grassa, o fel destila. A maledicência, a ignomínia e a mentira atingem níveis de tal modo avassaladores que as próprias redes sociais procuram limitar intervenções potencialmente perigosas de políticos e utilizadores com grande visibilidade.

 

Psiquiatras explicam que inveja e ódio estão interligados. Na internet, alguns tomaram liberdade de expressão como sinónimo de liberdade de agressão e usam o violentar do outro através da ofensa constante como uma – estranha – forma de expiação de frustrações pessoais. Sou alvo de discursos de ódio e de tentativas de destruição que me espantam e que quis mostrar em livro para dar início a um debate imprescindível.

 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que todos têm direito a proteção contra a discriminação, que a vida privada e familiar não pode sofrer intromissões, que não se pode sofrer ataques à honra e à reputação – e que as vítimas desses ataques devem ser protegidas pela lei. A Constituição da República Portuguesa consagra a dignidade da pessoa humana e o direito inviolável à integridade moral e deixa ainda claro que ninguém pode ser submetido a tratos cruéis, degradantes ou desumanos. Ao invés do que fazem na rua, supostos cidadãos praticam na internet o que a lei penal proíbe: difamam, injuriam, perseguem e até perturbam a vida privada. Sem serem punidos. No livro, Valter Hugo Mãe chama a isso corrupção da cidadania; Dulce Rocha fala em prejuízo para a democracia, que deveria procurar o bem-estar social; Joana Rita Sousa lembra que, nas redes sociais, todos somos figuras públicas; Júlio Machado Vaz alerta para o facto de as redes sociais serem apenas um reflexo moderno de algo – o boato e a má língua – que sempre existiu nas sociedades humanas e que o ódio gera dependência; Maria José da Silveira Núncio fala de uma sociedade em que a solidariedade e a empatia não se exercitam; Pedro Strecht, que lida com crianças, pergunta por que razão não nos focamos em revelar o melhor de nós próprios e dos outros. Agradeço, penhorada, estes contributos; aplaudirei outras vozes que tiverem a vontade e a coragem de se fazerem ouvir.

 

Porque, sem formas de regulação, sem o exercício da regulação, julgamentos sumários e agressões gratuitas continuarão a multiplicar-se impunemente na internet. Esta maledicência de extrema violência – este tipo de crime! – não pode continuar. Esta imensa maldade não pode subsistir e servir de escola às nossas crianças. O cyberbullyng tortura milhares de crianças, que crescem com problemas sérios e chegam até a suicidar-se. Permito-me temer que continuarmos a ignorar este estado de coisas acarretará consequências devastadoras, irreversíveis – será matar a cidadania e a democracia.

 

Já o disse e repito-o: o título do meu livro – «Pra Cima de Puta» – é uma chamada de atenção. Não quero que tenham pena de mim ou da minha família. Não vou sequer ganhar um tostão; vou doar todas as receitas, como já fiz no meu livro anterior. Quero, isso sim, que este debate se faça. Para que todos nós, hoje, e os nossos filhos, amanhã, não sejamos gente menor do que poderíamos ser.

Debatamos o assunto, para que ele se torne também incontornável a nível político. Conto com as assinaturas de todas e todos os que sonham sempre com um Portugal Melhor. E evoluir a este nível está claramente ao nosso alcance.

 

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