Tancos: cópia do "memorando" entregue ao chefe de gabinete do PM - TVI

Tancos: cópia do "memorando" entregue ao chefe de gabinete do PM

  • 24 abr 2019, 19:04
Base Militar de Tancos

Ouvido na comissão de inquérito sobre o furto de Tancos, o militar relatou que a 11 de outubro pediu cópia do documento ao então ex-chefe de gabinete do ex-ministro Azeredo Lopes

O assessor militar do primeiro-ministro, major-general Tiago Vasconcelos, disse, esta quarta-feira, que entregou ao chefe de gabinete de António Costa uma cópia do “memorando” sobre a recuperação do material furtado em Tancos no dia 12 de outubro de 2018.

Ouvido na comissão de inquérito sobre o furto de Tancos, o militar relatou que a 11 de outubro pediu cópia do documento ao então ex-chefe de gabinete do ex-ministro Azeredo Lopes, Martins Pereira, e que o general lho entregou “no dia 12 de manhã”.

Ele prontificou-se a dar-me cópia do documento e deu-me no dia 12 de manhã, um documento sem timbre, sem data. Falei com o chefe de gabinete do primeiro-ministro [Francisco André] e disse-lhe ‘passa-se isto assim-assim’ e eu entreguei o documento ao chefe de gabinete no dia 12”, relatou.

“Não sei qual foi o destino subsequente do documento”, disse.

No mesmo dia, à tarde, o ex-ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes anunciou a demissão do cargo, facto que levou o deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro a questionar se terá sido coincidência.

“Não faço ideia”, respondeu Tiago Vasconcelos.

Questionado pelos deputados do PS sobre se viu no documento alguma responsabilidade do então ministro Azeredo Lopes, do primeiro-ministro ou do ex-chefe do Estado-Maior do Exército numa eventual encenação ou encobrimento, o militar respondeu: “zero”.

“E realmente não se vê aqui [no documento] evidência de qualquer crime”, considerou.

O assessor militar do primeiro-ministro solicitou a Martins Pereira cópia do “memorando” na sequência de notícias divulgadas dias antes, segundo as quais o ex-investigador da PJM Vasco Brazão entregou ao ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes um documento sem timbre e sem data descrevendo uma “encenação” da recuperação do material furtado.

O general Martins Pereira admitiu depois que tinha recebido um documento e que entregou ao DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal).

Na audição desta quarta-feira, e questionado sobre se entendeu que operação de recuperação do material foi uma “encenação” da PJM, o major-general declarou que “quase de certeza absoluta, o senhor primeiro-ministro não sabia de encenação nenhuma”.

Tiago Vasconcelos admitiu que só “despertou” para a questão de Tancos a partir do momento em que a 14 de julho de 2018 foi noticiado que havia material em falta, entre granadas e explosivos, naquele que foi recuperado na Chamusca, quatro meses depois do furto, ocorrido em 2017.

Sobre esta questão, o major-general disse que não lhe pareceu que o “primeiro-ministro pudesse fazer outra coisa que não esperar que a investigação judicial decorresse”.

Questionado pelo CDS-PP sobre o primeiro-ministro ter afirmado, em 2017, que o material tinha sido “todo recuperado”, o major-general respondeu que se o primeiro-ministro o afirmou “é porque era essa a informação que tinha”.

O assessor militar disse ainda que, decorrendo uma investigação judicial, a questão de Tancos “não era uma questão candente e prioritária” porque naquela altura, em julho de 2018, a “questão que ocupava mais tempo era a preparação da cimeira da NATO em Bruxelas”.

O ex-ministro Azeredo Lopes, que se demitiu devido ao processo, em 2018, será o último a ser ouvido na comissão, em 07 de maio.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.

O caso ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.

 

Ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes desconhecia memorando recebido pelo antecessor

A ex-chefe de gabinete do anterior ministro da Defesa Azeredo Lopes disse, esta quarta-feira, que o seu antecessor, general Martins Pereira, nunca lhe referiu a existência de um “memorando” sobre a recuperação do material furtado em Tancos.

Depois de o Expresso noticiar o ano passado que dois elementos da Polícia Judiciária Militar (PJM) entregaram ao então chefe de gabinete de Azeredo Lopes, general Martins Pereira, um “memorando” que descrevia uma “encenação” da recuperação do material furtado, o governante deu instruções para que localizassem o documento no Ministério.

“Concluímos pela inexistência” do documento no Ministério da Defesa, disse Maria João Mendes, que sucedeu a Martins Pereira na chefia do gabinete de Azeredo Lopes.

Ouvida na comissão parlamentar de inquérito sobre o furto de material militar dos paióis de Tancos, Maria João Mendes admitiu que, na tentativa de localizar o documento contactou o seu antecessor na função, Martins Pereira, que lhe respondeu que “não tinha sido dada entrada de qualquer documento”.

“Se me diz que não, para mim a situação está respondida”, afirmou Maria João Mendes.

No dia 4 de outubro de 2018, o general Martins Pereira confirmou à Lusa que recebeu o ex-diretor da PJM e o ex-investigador da mesma política Vasco Brazão, referindo não lhe ter sido possível “descortinar qualquer facto que indiciasse qualquer irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos”.

Na declaração, Martins Pereira não fez referência a nenhum documento que lhe tivesse sido entregue pelos dois responsáveis da PJM.

Contudo, na semana seguinte, anunciou que fez chegar ao Ministério Público a “documentação verdadeira” que recebeu por parte dos elementos da PJM.

Hoje, Maria João Mendes disse ainda que Martins Pereira nunca lhe referiu a existência de qualquer reunião, nem de documentação sobre a recuperação do material furtado.

Na audição na comissão parlamentar de inquérito, no passado dia 11, Martins Pereira confirmou que recebeu na manhã do dia 20 de outubro de 2017 o coronel Luís Vieira e o major Vasco Brazão, que lhe entregaram dois documentos, uma “fita do tempo” e um documento “não timbrado e não assinado” e que lhe pareceu feito “com alguma pressa”.

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