Suicídio: agressões podem ser «gota de água», mas não a causa - TVI

Suicídio: agressões podem ser «gota de água», mas não a causa

Conclusão é de uma especialista do Núcleo de Estudos do Suicídio

Actos de intimidação ou agressão continuados de alunos a um professor podem ser a «gota de água» que leva ao suicídio, mas não são, por si, a sua causa, diz uma especialista do Núcleo de Estudos do Suicídio, escreve a Lusa.

Um professor de Música da Escola Básica 2.3 de Fitares, em Rio de Mouro, Sintra, ter-se-á suicidado alegadamente por ser alvo da indisciplina dos seus alunos, noticiam esta sexta-feira os jornais «Público» e «i».

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Segundo os jornais, o professor, com 51 anos e licenciado em Sociologia, vivia com os pais em Oeiras e foi colocado nesta escola no início deste ano letivo. A 9 de Fevereiro, o professor parou o carro na Ponte 25 de abril, em Lisboa, e atirou-se ao Tejo.

Contactada pela Lusa, Ema Lima Neves, do Núcleo de Estudos do Suicídio (NES), ressalvou não conhecer o caso, mas sublinhou que «é sempre muito arbitrário estabelecer uma casualidade tão directa a maus tratos e um comportamento suicida».

«Aquilo que sabemos das investigações é que de facto o comportamento suicidário e o suicídio consumado, como foi este caso, é sempre multideterminado, multicausal e muito complexo. Acarreta sempre um acto de muito sofrimento, mas não há nunca uma causalidade directa», explicou.

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Ema Lima Neves defende que «é muito importante» que se faça a autópsia psicológica para se poder perceber «os factores precipitantes».

«Os fatores precipitantes são coisas muito diferentes das causas e podem ser uma situação destas, de conflitualidade laboral, ou uma situação económica precária. Um factor stressante qualquer de vida pode funcionar como factor precipitante, ou seja, como uma gota água que leva a pessoa a tomar uma decisão ou a ter um impulso suicida, mas não é uma causa», sublinhou.

A especialista acrescentou que aos factores precipitantes se junta depois a situação psicológica e psiquiátrica de cada um e a sua variabilidade e vulnerabilidade.

A especialista explicou que a autópsia psicológica será importante «para não se atribuir erradamente culpas» e perceber «as várias condicionantes e factores precipitantes» que levaram ao suicídio.

«Nunca, nem numa criança, nem num adulto, nunca nenhum destes factores por si só condiciona o suicídio», garantiu, lembrando que muitas crianças são alvo de "bullying", mas nem todas tentam suicidar-se.

Confrontada com a mensagem que o professor terá deixado no seu computador pessoal, onde justificava a sua decisão com o desrespeito dos alunos e não ter outro meio de rendimento, Ema Lima Neves explicou que é frequente as pessoas que tentam o suicídio estabelecerem elas próprias uma relação directa entre a causa e a consequência.

«Que a pessoa faça essa atribuição não é de estranhar, nem é invulgar, mas não é verdade», sublinhou, acrescentando que todo o trabalho psicoterapêutico e psiquiátrico serve também para desmontar esse pensamento.
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