São imagens exclusivas, que só vendo para crer. Os donativos de milhares de portugueses para as vítimas da tragédia de Pedrogão Grande, estão empilhados e escondidos em armazéns da Câmara de Pedrogão. A TVI sabe que muitos desses donativos estão a ser desviados para amigos e familiares dos autarcas.
Em causa estão centenas de frigoríficos, máquinas de lavar e microondas, novinhos em folha, alguns ainda embalados. Há colchões com os plásticos de origem e mobílias inteiras, que nunca chegaram ás vítimas.
Um escândalo que está a ser investigado pelo Ministério Público.
Depois da emissão da reportagem, no Jornal das 8 da TVI, o programa “Ana Leal” seguiu para debate na TVI24. João Marques, vereador da Câmara Municipal de Pedrogão Grande pelo PSD, Miguel Figueiredo, autor da petição contra a fraude nos apoios a Pedrogão Grande, Carla Paiva, da Médicos do Mundo, e o jornalista André Carvalho Ramos, autor da reportagem debateram o assunto, sob moderação de Ana Leal.
Convidados, mas ausentes do debate, estiveram todo o Executivo da Câmara de Pedrogão e os três deputados municipais do Partido Socialista.
O vereador social-democrata, João Marques, diz que a oposição autárquica sempre foi impedida de aceder à informação acerca dos donativos que foram feitos diretamente à Câmara.
Ninguém sabe daquilo que foi para a Câmara Municipal, porque há outros donativos. (…) Aos vereadores da oposição e aos deputados municipais da oposição, nunca nada lhes chegou. Apesar de, de tempos a tempos, se voltar à carga a solicitar essa informação.”
João Marques confessa-se surpreendido com “estas imagens de produtos deteriorados”. “Estou a ser apanhados de surpresa. Sabia que ainda havia produtos por entregar aos munícipes, porque havia obras ainda por terminar. (…) Não sabia e estou convencido que muitos funcionários da Câmara também não sabiam”, disse, durante o debate.
Já Miguel Figueiredo se confessou “chocado e furioso”. “Parece que este tipo de surpresas não acaba", sublinhou o autor de uma petição contra a fraude na gestão de donativos às vítimas de Pedrógão Grande, que nasceu logo depois da primeira reportagem sobre o assunto emitida pela TVI.
A dirigente da Associação Médicos do Mundo, revelou no debate que chegou a participar de uma reunião onde expôs o modelo de gestão de donativos que estava a ser aplicado em Castanheira de Pêra. Após esse encontro, recebeu uma mensagem de Telmo Alves, filho do presidente da Câmara, a prescindir dos serviços da Médicos do Mundo.
O vereador do PSD, que considera que o atual Executivo camarário “não tem condições de reerguer o bom nome de Pedrógão Grande”, terminou o debate com dois apelos aos Portugueses: em primeiro lugar, que não tomem a parte pelo todo, porque, “em Pedrógão há pessoas honestas”, e, em segundo lugar, que “estes maus exemplos” não prejudiquem a generosidade dos portugueses perante adversidades noutros pontos do país.