Covid-19: enfermeira alvo de discriminação em superfície comercial - TVI

Covid-19: enfermeira alvo de discriminação em superfície comercial

Covid-19 no Hospital de Santa Maria

Carla Silva, que trabalha no Hospital de Braga, contou a sua história e refere que os tempos que vivemos trazem ao de cima o melhor e o pior das pessoas

Está na linha da frente do combate ao novo coronavírus e sublinha que ultrapassar o problema está na atitude de cada um.  

E foi isso mesmo que mostrou Carla Silva, enfermeira nos Cuidados Intensivos do Hospital de Braga, quando há pouco tempo se sentiu discriminada numa superfície comercial e contou a sua história.

Tudo aconteceu no Leroy Merlin, em Matosinhos, quando foi pagar uns óculos de proteção.

“Dirigi-me às caixas para pagar e esperei a dois metros das pessoas que estavam à frente: dois senhores da construção civil, que estavam lado a lado, coladinhos. Eles pagaram e foram recebidos sem qualquer problema”, sublinhou à revista Visão.

Carla, sabendo que é uma “potencial portadora”, usava máscara e luvas, mas refere que, quando o funcionário a viu aproximar-se hesitou e encaminhou-a para outro colega.

“Quando a rapariga olhou para mim, também não quis atender-me e queria mandar-me novamente para o primeiro colega. Tive de me chatear: ‘Mas o que é isto?’ Ela não tinha máscara, não tinha óculos, não tinha nada. Atendeu duas pessoas completamente expostas e é a mim, que tenho uma barreira para proteção dos outros, que me discrimina?”, conta a enfermeira de 36 anos.

Perante uma pessoa que não tinha qualquer proteção, Carla sublinhou o facto de estar ainda mais em risco. “É lamentável que as pessoas não se informem sobre este problema de saúde pública e que tenham estas atitudes discriminatórias. Como é possível? Ainda lhe disse: ‘Vocês não permitam que a vossa ignorância se transforme na vossa ruína. Porque a vossa ruína é a nossa ruína."

A profissional considera que os tempos que vivemos trazem ao de cima o melhor, mas também o pior das pessoas.

E como nunca é demais recordar, cada um tem que fazer a sua parte e isso começa na atitude que cada um adota ao pensar em si e nos outros.

"Tenho noção que sou uma potencial portadora, portanto, estou sempre atenta e tomo precauções. Por isso, antes de sair do carro, higienizo as mãos, coloco máscara e calço luvas. Estou protegida e, principalmente, estou a proteger os outros. A máscara cirúrgica protege de dentro para fora – a ideia é a não propagação, não contaminar”, diz na entrevista.

Mesmo assim, sublinha que mesmo protegidos devemos ter atenção, principalmente no uso de luvas.

“Não criem falsas sensações de segurança. Não é à toa que a Graça Freitas tem dito muitas vezes para as pessoas não andarem com luvas. Porque as pessoas quando as calçam sentem-se protegidas e com elas fazem tudo: metem a mão à boca, pegam no cartão multibanco, coçam a cara… As pessoas não têm a noção do que é o sujo, o limpo e o estéril. Ao contrário dos profissionais de saúde”, alerta .

Num período crítico, como o que estamos a viver, “não é possível formatar a cabeça das pessoas comuns. Por isso é que se diz que lavem as mãos muitas vezes, de maneira correta e pelo menos durante 20 segundos”, recorda.

Importante também é estar atento a comportamentos menos adequados e para os quais a enfermeira está atenta.

"O importante é que cada um faça a sua parte e foi isso que eu quis transmitir, noutro dia, numa loja do Celeiro, a um senhor que entrou na loja de máscara mas que a tirou para conversar. ‘É importante que o senhor perceba isto: todos nós temos um papel a cumprir. Só podemos chegar a bom porto se todos cumprirmos a nossa parte e, neste momento, o senhor não está a cumprir com a sua.’", conta.

A enfermeira conclui recordando que todos temos uma quota parte de responsabilidade e que se as pessoas, os cidadãos comuns, "não cumprem com a sua parte, não podem esperar que nós, os profissionais de saúde, façamos milagres."  

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