Suinicultores: o desespero e uma marcha lenta - TVI

Suinicultores: o desespero e uma marcha lenta

  • Redação
  • AR/PP - notícia atualizada às 00:14
  • 11 mar 2016, 20:11

Vieram a Lisboa em busca de soluções. Sempre devagar acabaram por condicionar o trânsito da capital, sem conseguirem respostas. Ainda antes de partirem, tentaram atravessar a 2ª Circular a pé “para irem jantar”, mas foram impedidos pela PSP. Só por volta das 21:40 o protesto desmobilizou em direção à A1. Também aqui a GNR acabou por intervir para que a autoestrada não ficasse bloquedada

Centenas de suinicultores em protesto vieram esta sexta-feira a Lisboa em protesto. Há excesso de oferta e os preços estão cada vez mais baixos. Desde final do ano passado que os criadores de porcos têm vindo a pedir ajuda para um setor que dizem estar "à beira do colapso".

Após uma reunião falhada com o ministro da Agricultura, durante a tarde, os suinicultores acabaram por acordar com a PSP desmobilizarem, mas o regresso a casa não foi pacífico.

Tentaram atravessar a Segunda Circular, junto ao aeroporto, em Lisboa, mas foram impedidos por elementos da polícia, o que provocou alguns momentos de tensão entre manifestantes e elementos policiais. Os suinicultores, que estiveram concentrados na Alta de Lisboa, junto à extremidade sul do aeroporto, afirmaram que apenas queriam atravessar a Segunda Circular “para irem jantar”.

Assim que se aperceberam da intenção dos suinicultores, dezenas de elementos policiais deslocaram-se para junto da Segunda Circular no sentido Norte/Sul e formaram um cordão.

Um dos suinicultores disse à Lusa ter sido agredido pela polícia, queixando-se de ardor nos olhos, eventualmente provocado, segundo o próprio, por gás pimenta lançado pelos agentes policiais. Cerca das 20:30, chegou ao local uma ambulância do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) para assistir o suinicultor que terá sido atingido com gás pimenta.

Minutos antes, o comandante da divisão de trânsito João Amaral dirigiu-se junto do suinicultor que se queixou da agressão, lamentou e pediu desculpa pelo sucedido, assegurando que iria averiguar as circunstâncias do que aconteceu e chamar à responsabilidade o elemento policial responsável por este ato.

Este oficial de polícia sublinhou, contudo, que houve uma “tentativa de invasão” da Segunda Circular, razão pela qual a polícia teve de intervir.

A desmobilização começou por voltas das 21:40, mas com a promessa de que a luta pelo setor vai continuar.

Perante os suinicultores, Vitor Menino, presidente da Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores, sublinhou que “o setor da suinicultura demonstrou hoje união, coesão e determinação para atingir o objetivo que é servir o país, os trabalhadores e todos aqueles que dependem deste setor”.

De acordo com este responsável, dependem deste setor cerca de 200 mil portugueses, que apenas querem “trabalhar, produzir e contribuir para a sustentabilidade de Portugal”.

Este responsável lamentou a posição do Ministério da Agricultura, que não quis receber os representantes do setor da suinicultura, demonstrando que as muitas centenas de milhões de euros que este setor produz “não são importantes para o governo, nem para o país”.

Recorde-se que um grupo de suinicultores liderado por João Correia tentou reunir-se com o Ministro da Agricultura, mas saiu do ministério sem o encontro com Capoulas Santos.

Já na Autoestrada do Norte, alguns camiões de suinicultores foram identificados pela GNR. Motivo suficiente, para que durante alguns minutos a estrada fosse bloqueada, junto a Alhandra, devido ao "cansaço e desespero", explicou João Correia à TVI24. Mas os militares acabaram por conseguir que a circulação fosse retomada.

Ao início da noite, o ministro da Agricultura, mostrou-se surpreendido com a manifestação, sobre a qual não foi informado, e disse não ter recebido qualquer pedido de audiência.

“Fui surpreendido hoje com um manifestação, para a qual não fui avisado, com um pedido de audiência que ninguém me solicitou e que ganhou grande proporção na comunicação social”, afirmou Capoulas Santos aos jornalistas, em Évora.

Capoulas Santos reiterou ainda que se trata de um problema de mercado, que impede o Governo de intervir.

Não pode decidir na "crise de mercado"

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, admitiu que o problema na suinicultura tem levado ao “desespero” de muitos produtores, mas recordou que se trata de uma crise de mercado que impede o Governo de decidir.

“Tenho manifestado em todas as circunstância, antes e depois de estar no Governo, a minha solidariedade e o meu empenho para ajudar a encontrar soluções, que são muito difíceis, porque esta é uma crise de mercado, não é algo que esteja nas mãos do Governo decidir”, afirmou à agência Lusa Capoulas Santos.

“É uma questão da lei de oferta e da procura, e todos sabemos por que razão é que os preços estão baixos, é porque há um excedente de oferta fruto de várias circunstâncias em que avultam dificuldades de alguns mercados para onde a Europa tradicionalmente exportava, à cabeça dos quais está o mercado russo”, acrescentou.

Recorde-se que cerca de 300 camiões de suinicultores do país inteiro deslocaram-se esta sexta-feira para Lisboa para protestarem em frente ao Ministério da Agricultura, pedindo ajuda para um setor que dizem estar "à beira do colapso".

A organização quis manter este protesto em segredo, mas entretanto os camiões foram intercetados pela polícia à entrada dos principais eixos da cidade, acabando por provocar congestionamento no trânsito.

Desde final do ano passado que os criadores de porcos têm vindo a pedir ajuda para um setor que dizem estar "à beira do colapso".

Os contestatários exigem medidas de apoio ao setor, nomeadamente uma linha de crédito bonificado e que as autoridades trabalhem para abrir novos canais à exportação. Querem ainda que o Governo exija na União Europeia o fim do embargo à Rússia.

De acordo com os suinicultores, o mercado europeu está com excesso de oferta, o que está a baixar ainda mais o preço, obrigando os produtores a venderem a carne de porco abaixo do custo de produção. Só de Espanha, dizem, entram em Portugal 25 mil porcos vivos e mais de um milhão de quilos de carne por semana.

"Os políticos que assumam que o setor de suinicultura não interessa a Portugal, mas se é assim que o digam e aí teremos 200 mil pessoas a apresentar-se nos centros de emprego", disse João Correia, da organização.

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, reúne-se na próxima segunda-feira com os homólogos dos países da União Europeia, tendo dito à agência Lusa que vai propor, no caso deste setor, medidas temporariamente limitadoras da produção, como a redução do número de fêmeas reprodutoras no setor da carne de porco.

Portugal defende que a União Europeia negoceie, no plano político, para que seja levantado o embargo russo aos produtos europeus.

Os produtores de suínos afirmam que a crise é de tal forma dramática que há o risco de "colapso do setor", colocando em causa 200 mil postos de trabalho diretos.

Estão registados em Portugal cerca de quatro mil suinicultores industriais, havendo no total quase 14 mil explorações.

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