Sátira à crise e banhos de cerveja no cortejo da Queima de Coimbra - TVI

Sátira à crise e banhos de cerveja no cortejo da Queima de Coimbra

O cortejo foi também marcado por um incidente em que o palanque onde se situava o júri do cortejo cedeu, não tendo sido registado qualquer ferido

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Sátiras à crise e ao Governo marcaram este domingo o cortejo da Queima das Fitas de Coimbra, sendo os principais alvos das críticas dos estudantes o primeiro-ministro Passos Coelho e a chanceler alemã Angela Merkel.

O desfile começou cerca das 15:30 no Largo D. Dinis, em direção ao Largo da Portagem, na Baixa da cidade, tendo sido visíveis várias críticas ao atual momento do país, além dos já habituais banhos de cerveja.

Um carro de Farmácia referia que a viatura tinha sido «paga pelo plano de regaste da troika», enquanto um carro de Engenharia Física utilizava poemas como «A Trova do Vento Que Passa», de Manuel Alegre, para criticar a conjuntura.

Outros usavam o próprio nome do carro para a sátira, como «The No-Work Times», de Jornalismo, ou «IVAcuar», de Direito, que afirmava ser um carro apenas «de ida».

Em Engenharia Civil, a Torre da Universidade aparecia vergada, na dianteira do carro, devido aos «pesos» das propinas, desemprego jovem e crise.

«A irreverência de Coimbra sente-se por alguma intervenção social e se se perde isso a Academia perde a sua identidade», sublinhou Vítor Ferreira, membro do júri que avaliou os carros, indigitado pelo Conselho de Veteranos.

Vítor Ferreira explicou que «o momento de intervenção política tinha vindo a perder-se ao longo dos anos», sendo que o atual contexto «veio espoletar a sátira».

Luís Ferreira, estudante do 5.º ano de Medicina, seguia num carro com um boneco retratando Passos Coelho a «cortar o soro a um doente», numa crítica ao estado do Serviço Nacional de Saúde, «em que o doente não pode usufruir dos seus direitos».

O carro, conta, foi montado «numa semana», mas houve o trabalho de «um ano» na angariação de fundos para o mesmo por parte dos 27 estudantes que foram na viatura.

«Ao todo, gastámos cerca de 8 a 10 mil euros no carro», explicou Luís Ferreira, constatando que «os gastos para apenas um dia podem ser exagerados», mas que «vale a pena o esforço pela experiência».

Emanuela Costa, estudante de Direito, disse à agência Lusa que o seu carro também custou «entre 8 e 10 mil euros», concordando com o estudante de Medicina de que «vale pelo convívio».

«Apesar das críticas nos carros ao momento que vivemos, não há crise no cortejo», observou.

Já para Eduardo Maia, de 58 anos, a vender chapéus, apitos e buzinas no largo D. Dinis, a crise «nota-se», considerando que o negócio «já não é igual de há cinco anos para cá», com «os pais e os estudantes a terem menos dinheiro».

Entre banhos e ingestão de álcool e gritos de curso, o cortejo foi também marcado por um incidente em que o palanque onde se situava o júri do cortejo cedeu, não tendo sido registado qualquer ferido.

O incidente aconteceu quando cerca de 30 cartolados de Desporto subiram ao palanque para entregar um «baú» com uma mensagem satírica, «como é costume fazerem», tendo a estrutura cedido no momento do éfe-erre-á, disse Vitor Ferreira.

A Queima das Fitas de Coimbra começou na noite de quinta para sexta-feira com a serenata no Largo da Sé Velha.

Os concertos, que se realizam na Praça da Canção e que começaram na sexta-feira, prolongam-se até 16 de maio.
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