"Temos que comer menos sardinha", defende associação de ciências marinhas - TVI

"Temos que comer menos sardinha", defende associação de ciências marinhas

Industria da conserva exporta 70% da produção. Emprega 3500 pessoas e produz 250 milhões de latas (REUTERS/Jose Manuel Ribeiro)

Gonçalo Carvalho sublinha que consumir carapau é uma alternativa

Portugal deve concentrar-se na recuperação dos stocks de sardinha e seguir os pareceres científicos para a espécie, recomenda um dirigente ambientalista, propondo em alternativa a promoção do consumo de peixes como o carapau.

“É possível pôr as pessoas a consumir carapau e dizer que, durante algum tempo, temos de comer menos sardinha”, disse o presidente da Associação de Ciências Marinhas e Cooperação (Sciaena) Gonçalo Carvalho, apontando como exemplo as ações de promoção da cavala.

Um apelo que estendeu também à indústria, que se tem virado nos últimos tempos para a compra de sardinha em Marrocos, e aos comerciantes, que devem beneficiar o setor nacional “em vez de beneficiarem as pescarias de outros países”.

O responsável da Sciaena sublinhou que se devem seguir os pareceres científicos na fixação de quotas de pesca, afirmando que o declínio da sardinha está “documentadíssimo” ao longo dos últimos 30 anos, enquanto o esforço de pesca apenas começou a diminuir a partir de 2012.

Reconheceu, no entanto, que as pescas são apenas uma das causas do desaparecimento desta espécie muito dependente de variáveis ambientais e dada a ciclos de crescimento rápido e declínio (‘boom and bust’).

O biólogo admitiu que a quota de pesca de sardinha recomendada para 2016 – 1.587 toneladas – equivale na prática a fechar a pescaria, mas questionou também quanto tempo sobreviveria o setor com uma quota igual às 16 mil toneladas que foram fixadas para este ano.

“Não deveríamos estar concentrados em recuperar o stock?”, sugeriu, defendendo que a sardinha é essencial não só para os pescadores, mas também para os ecossistemas marinhos atraindo, por exemplo, os golfinhos até à costa.

Apresentando o carapau como uma alternativa sustentável e “bem monitorizada”, Gonçalo Carvalho explicou que este peixe só não é mais pescado porque a quota tem aumentado significativamente, o que levou à desvalorização do produto.

“Ter quota e mais quota é mau para a indústria” e pode não se traduzir num benefício direto para os pescadores devido à queda dos preços, comentou o biólogo, lembrando que, em 2015, os Totais Admissíveis de Captura (TAC) do carapau aumentaram quase 70%.

As propostas de quotas da Comissão Europeia para 2016, que terão ainda de ser avaliadas pelos ministros das Pescas dos 28, a 14 de dezembro, apontam para uma nova subida da pesca do carapau nas águas continentais portuguesas, e descida de outras como areeiro, tamboril e raia.

Segundo a proposta, os totais admissíveis de capturas (TAC) de carapaus sobem 15,3%, para as 68.583 toneladas em 2016, somando-se a estas as possibilidades de pesca de carapau na zona CECAF (Comité das Pescas do Atlântico Centro-Leste), definida por Portugal para a Madeira e os Açores.

 
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