O jornalista angolano Rafael Marques vai pedir a abertura da instrução do caso de alegado crimes financeiros que envolvem personalidades de Angola, entre as quais o vice-Presidente da República.
Rafael Marques disse, esta sexta-feira, à Lusa que resolveu seguir o conselho do advogado sobre o processo arquivado pela Procuradoria-Geral da República portuguesa, remetendo para este mais informações sobre o assunto.
O advogado de Rafael Marques disse na quinta-feira à agência Lusa que aconselhou o jornalista angolano a pedir a abertura da instrução do processo relativo ao vice-Presidente angolano, que foi arquivado pelo Ministério Público português na passada semana.
Para Duarte Teives, advogado do jornalista e ativista angolano, «há matéria indiciária para levar os suspeitos a julgamento e há matéria de direito que não foi respeitada» que o levaram a aconselhar Rafael Marques a pedir a abertura da instrução.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou, na semana passada, o arquivamento de um inquérito ao vice-Presidente de Angola, Manuel Domingos Vicente, a Francisco Higino Lopes Carneiro e à empresa de telecomunicações Portmill instaurado na sequência de uma «averiguação preventiva, assente em queixa apresentada pelo ex-embaixador de Angola Adriano Teixeira Parreira, por denúncia de transações financeiras em bancos e instituições financeiras portuguesas».
Em comunicado datado de 13 de novembro, a PGR referia ter aberto um inquérito com vista à realização das diligências necessárias à investigação sobre a «existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre a acusação».
«Foram feitas as diligências tendentes à clarificação das operações e movimentos de capitais de origem não esclarecida, tendo sido produzida prova que consta dos autos», lia-se na nota da Procuradoria, que acrescentava que «Manuel Domingos Vicente, Francisco Higino e a empresa apresentaram elementos documentais de suporte das transações financeiras detetadas nas suas contas bancárias, assim como fizeram prova de rendimentos compatíveis com as operações referidas».
Manuel Vicente e Francisco Higino «não têm antecedentes criminais em Angola, por crimes precedentes de branqueamento de capitais, nem processos-crime em investigação», referia a nota da procuradoria, que justificava o arquivamento do inquérito com a «inexistência de crime precedente» e «a apresentação de elementos documentais de suporte das transações financeiras, detetadas nas contas bancárias».
No despacho de arquivamento, datado de 11 de novembro e ao qual a Lusa teve acesso, o procurador Paulo Gonçalves destacava a importância do cargo do vice-presidente Manuel Vicente.
«A circunstância objetiva do requerente ser vice-Presidente da República de Angola constitui uma desigualdade, uma diferença, relativamente a outros cidadãos que, como é manifesto, justifica e fundamenta, por um critério de justiça e bom senso, atenta a prossecução do interesse nacional português a que a Justiça não deve ser alheia, um tratamento distinto», alegava Paulo Gonçalves.
O «tratamento distinto» a que se refere o procurador resulta do requerimento apresentado por Manuel Vicente para a separação do seu processo.
No despacho de arquivamento, o procurador Paulo Gonçalves tecia considerações sobre as relações entre Portugal e Angola, assim como sobre a relação entre os media e a justiça.
Quatro dias depois, a PGR anunciou ter instaurado um inquérito disciplinar ao magistrado Paulo Gonçalves devido às considerações de «natureza subjetiva» feitas pelo procurador responsável pelo inquérito.
Jornalista pede instrução de processo de «vice» angolano
- Redação
- CM
- 22 nov 2013, 11:25
PGR portuguesa arquivou processo a Manuel Domingos Vicente, mas Rafael Marques quer levar o caso a tribunal
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