«Essa crise não é nada. Crise foi a que o Brasil viveu em 1990» - TVI

«Essa crise não é nada. Crise foi a que o Brasil viveu em 1990»

Raul de Orofino

Raul de Orofino faz do humor uma bandeira. Há 20 anos que o leva a empresas, em jeito de espectáculo/acção de formação. Missão: desdramatizar, fazendo perceber a quem o vê que é a rir que se leva a vida

Aos 17 anos, Raul queria ser actor dramático. «Porque chorar é bonito». O mestre de teatro da altura disse-lhe que tinha jeito era para a comédia. «Fiquei tristíssimo!!!». Mas deu a mão à palmatória e deixou entrar o humor. Agora diz que o humor lhe «salvou» a vida.

Há 20 anos, quando a crise financeira se agudizou no Brasil e o teatro ficou sem financiamento e sem mecenas, Raul de Orofino disse: «vou fazer Teatro, nem que seja na casa das pessoas!». Assim nasceu o Teatro ao domicílio. a filosofia é «Teatro é que nem pizza.Você pede. Eu levo. Na sua casa. No seu trabalho. Aonde você quiser».

Da «casa das pessoas, passou para os aviões. Reclama ter sido o primeiro homem a fazer teatro no ar. Foi aí que se deu conta do poder do riso: «as pessoas riam e perdiam o medo de voar».

Dos aviões à terapia do riso em empresas, foi um pequeno passo. Este actor brasileiro radicado em Portugal há mais de uma década transformou-se num «actor palestrante ou actor formador», que mostra às chefias e aos trabalhadores como o humor pode mudar a vida da empresa. Como o humor pode mudar a relação com os outros. Sozinho em palco, apresenta «Mário, teu Humor está no Armário» ou «Mário vê aquilo que você não vê». Pouco mais de uma hora de espectáculo, que leva quem o vê às lágrimas... de tanto rir, claro está. No final, outro tanto tempo de palestra e de reflexão sobre a importância do riso.

Agora, pôs essa reflexão por escrito e nasceu o livro «Mário, teu Humor está no Armário». Foi com este livro como pretexto, mas com muito mais no horizonte que o tvi24.pt conversou com ele.

O seu trabalho sofreu uma viragem na época de Collor de Melo, quando o Brasil atravessou uma crise terrível¿

Isso foi em 1990. Nessa altura, criei o espectáculo «Humores de Amor». Dois anos depois, a actriz Irene Ravache me dirige, com o espectáculo «Beijos de Humor». Foi a primeira peça que entrou dentro das empresas. Foi com ela que comecei a ser um actor formador ou um actor palestrante.



Fez tanto sucesso que o organismo de apoio a pequenas e médias empresas no Brasil pediu essa peça. Foi aí que nasceu o Mário.

Diz que o humor salvou a sua vida. O que quer dizer com isso?

Temos uma tendência a dramatizar tudo. A dramatizar as dores... As novelas e os filmes encenam isso: acham lindo chorar. Essas ideias são colocadas na cabeça da gente, que chorar é mais bonito do que rir.

Aquela máxima de que chorar lava a alma¿

Até pode lavar, mas não se chorar de dor. Há vezes em que choro e lavo a minha alma, mas eu não estou necessariamente a sentir dor nesse choro. É gostoso chorar, como é gostoso rir. Eu posso falar da dor sem ter de sentir dor.

Diz que não faz humor de gracinhas, de graça fácil. Mas o riso que advém dessa graça fácil não é também um riso terapêutico, um riso bom?

Em nenhum momento eu digo que o meu humor é que é bom, nem que é melhor do que o de um humorista.

Mas o Raul não é um humorista?

Não. Sou um actor que faz comédia. O humorista faz muita piada e as pessoas morrem a rir. É bom. Não é nada ruim. É o trabalho deles. A minha missão é diferente. O meu espectáculo tem piadas fáceis e as pessoas riem à gargalhada com elas. Mas há todo um conteúdo por trás. Como não sou só humorista, não é só uma comédia. Conto histórias com humor.

Não tenho mais o compromisso de fazer as pessoas rirem. O meu compromisso é contar uma história, que tenha humor e emoção.

Leia aqui a continuação da entrevista a Raul de Orofino
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