Troca de seringas nas prisões continua sem adesão - TVI

Troca de seringas nas prisões continua sem adesão

  • AR
  • 13 mar 2017, 08:12
Prisões: Falta de formação adia troca de seringas

Dez anos após o início do programa experimental que visou diminuir a contaminação de doenças infecto-contagiosas entre reclusos, a troca de seringas continua sem procura

A troca de seringas nas prisões continua sem adesão, quase dez anos após o início do programa experimental que visou diminuir a contaminação de doenças infecto-contagiosas entre reclusos.

Em entrevista à agência Lusa, o diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) explicou que um dos entraves que este programa teve desde o início foi o facto de implicar a autodelação dos consumidores.

“Desde o início que eu e outros técnicos fomos da opinião de que isso não ia ser eficaz. Tanto quanto sei não houve alteração a esse desenho”, adiantou João Goulão.

O programa experimental de troca de seringas para reclusos nas prisões portuguesas iniciou-se em setembro de 2007 “na vertente teórica” nas cadeias de Lisboa e Paços de Ferreira.

Apesar da falta de adesão a este programa, João Goulão congratulou-se com o facto de, segundo alguns inquéritos em meio prisional, “a tendência ser de um decréscimo muito significativo do consumo por via injetável, quer no período prévio à detenção quer dentro das prisões. Esse decréscimo continua a ocorrer".

Mais de 16 mil toxicodependentes tomam diariamente metadona

Cerca de 16 mil toxicodependentes tomam diariamente metadona nos centros de tratamento nacionais e mais 2.500 em outros locais, no âmbito da política de redução de danos que está em vigor em Portugal, disse à Lusa o diretor-geral do SICAD.

Em entrevista à agência Lusa, o diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), João Goulão, enalteceu o facto de o sistema português permitir o regresso a estes programas de dependentes que entretanto voltaram a consumir drogas.

“Temos a felicidade de ter um sistema de tratamento que tem um leque bastante vasto de opções, desde as terapêuticas de substituição, com metadona, até a possibilidade de uma desabituação física”, disse.

De acordo com João Goulão, são duas as vias: “Ou paramos completamente o consumo do opiáceo e depois o trajeto é apenas o acompanhamento em ambulatório com psicoterapia, com ou sem algum suporte medicamentoso, ou então transferimos esta dependência de um opiáceo de rua [como a heroína], para um medicamento usado sob supervisão médica, com uma dose ajustada e que evita a síndrome da privação, ativa por via oral e que deixa as pessoas perfeitamente funcionais e a produzir e a ter uma vida perfeitamente integrada”.

“Há uma percentagem muito significativa de pessoas que fazem um trajeto bastante longo de substituição opiácea, seja com metadona ou buprenorfina [medicamentos opióides de síntese] e que de acordo com o seu terapeuta decidem libertar-se também desta dependência e fazem então uma desabituação física, da metadona, por exemplo. É frequente”, adiantou.

Para o diretor-geral do SICAD, “quando as pessoas sentem dentro de si a força para o fazer ensaiam-no muitas vezes, algumas são bem-sucedidas, outras voltam a sentir o tal ‘craving’ [um desejo intenso por uma substância] e voltam outra vez a ser admitidas”.

“Há sistemas, nomeadamente os nórdicos, em que as coisas são formatadas de uma forma muito rígida. Temos uma atitude de muito maior flexibilidade e de aceitação e de inclusão das pessoas nestes programas, se as coisas não correrem bem”, sublinhou.

Os centros de tratamento distribuem diariamente metadona a 15.000 ou 16.000 toxicodependentes. Além destes, entre 2.000 e 2.500 fazem esta terapia de substituição em outros locais.

Só em Lisboa, existem entre 1.200 e 1.400 pessoas que fazem diariamente a sua toma de metadona em carrinhas que param em pontos específicos - os chamados programas de baixo linear de exigência.

“Não os rotulamos de programas terapêuticos, são programas em que a exigência de abstinência não é total, diferentemente dos programas de tratamento, mas são programas de redução de danos”, especificou.

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