Portuguesa que interrompeu entrevista na TV britânica mudou-se com medo de represálias - TVI

Portuguesa que interrompeu entrevista na TV britânica mudou-se com medo de represálias

  • CE
  • 30 ago 2019, 13:52
Portuguesa

Ana Rocha participou na quarta-feira em Londres numa manifestação contra a suspensão do parlamento britânico e decidiu interromper uma reportagem em direto da Sky News. "Não tenho voz, o sistema de residência não está a funcionar", denunciou. Governo português já a contactou

A portuguesa que se tornou num fenómeno nas redes sociais após uma intervenção na televisão britânica durante um protesto em Londres contra o Brexit na quarta-feira foi transferida para a Escócia por receio de repercussões e já foi contactada pelo Governo português.

Quero ficar na Escócia por mais algum tempo a trabalhar porque estou mais segura. Tenho medo de ir no autocarro agora, vou ter medo de andar no metro e de andar na rua", confessou Ana Rocha à agência Lusa.

A técnica de saúde, especializada em cuidados a pessoas com deficiências, participou na quarta-feira numa manifestação em Westminster contra a suspensão do parlamento durante cinco semanas anunciada pelo governo de Boris Johnson e decidiu interromper uma reportagem em direto da Sky News.

Sou portuguesa e trabalhei aqui durante 20 anos e não tenho qualquer voz. O sistema de residência [para europeus] não está a funcionar", denunciou, acrescentando: "Dei a este país a minha juventude e estou muito grata pelo que me ensinaram. Mas têm de me incluir neste processo. Não posso ser simplesmente expulsa", exclamou na ocasião.

 

A intervenção apaixonada, cujo excerto em vídeo se espalhou rapidamente, recebeu manifestações de apoio por pessoas que se identificaram ou que são solidárias com a situação incerta dos cidadãos europeus, mas também gerou críticas nas redes sociais e levantou suspeitas sobre o tom dramático da portuguesa, questionando a sua autenticidade.

Residente no Reino Unido há cerca de 20 anos, a lisboeta tem formação de atriz, admitindo: "Quando as pessoas descobrirem que faço teatro, vão dizer que é 'fake news'".

Porém, garante que a intervenção foi espontânea e sincera e um resultado da "mágoa" que sente com o processo de saída do Reino Unido da União Europeia e as injúrias xenófobas de que já foi vítima.

Sou uma pessoa muito sensível e aquilo aconteceu e se calhar foi a hora H, porque ressoou por aí. Sou portuguesa, tenho fado dentro mim, e encheu-se o saco. Estou mesmo triste porque eu vi a destruição de um país que eu amo e me ensinou imensas coisas. Dói muito ver esta sociedade destruída", explicou por telefone à Lusa.

Na intervenção, Ana Rocha refere-se as dificuldades que teve em obter o estatuto de residente no país através de um sistema de regularização migratório aberto pelo ministério do Interior britânico.

À Lusa, disse que vai ter de recomeçar o processo iniciado através da empresa para quem trabalha devido a um equívoco com o número de segurança social, mas ressente-se da desconfiança com que foi tratada.

Disseram-me que não estava me estavam a encontrar no sistema, como se eu estivesse a mentir", queixou-se.

Espera resolver o problema em breve, graças a amigos e ao apoio de uma organização onde soube que trabalha uma compatriota portuguesa.

Quando à exposição mediática que teve, não rejeita usá-la para denunciar abusos e injustiças relacionadas com o Brexit, nomeadamente sentidos pelos portugueses.

Agora apetece-me falar. Estou farta de estar calada, de ir para o emprego e de estar calada, de ouvir insultos no autocarro e no metro e de toda a gente ter estas opiniões completamente disfuncionais sobre o que é que os imigrantes fizeram neste país", afirmou.

Segundo o secretário de Estado, José Luís Carneiro, as próprias autoridades britânicas “já realizaram mais de 40 sessões de esclarecimento” sobre o Brexit e  Ana Rocha estará entre os portugueses notificados para apresentar documentos.

Temos indicadores que mostram que podemos estar tranquilos. Dos cerca de 300 mil portugueses com residência no Reino Unido, mais de 92 mil já pediram o estatuto de residente no Reino Unido, a esmagadora maioria teve autorização concedida. Quanto à minoria, esta tem sido notificada para apresentar documentos em causa”, afirmou.

Dessa minoria faz parte Ana Rocha, residente há 20 anos no Reino Unido, portuguesa que participou na quarta-feira numa manifestação em Westminster, contra a suspensão do parlamento durante cinco semanas anunciada pelo governo de Boris Johnson, e interrompeu uma reportagem em direto da Sky News para explicar que está “preocupada” com o seu futuro num país ao qual, disse, “deu a juventude”.

José Luís Carneiro garantiu hoje que a portuguesa natural de Macedo de Cavaleiros já foi contactada e que as questões pendentes para que lhe seja concedido estatuto de residente estão a ser tratadas.

O governante admitiu que possa ter havido um “erro no registo do número de segurança social” de Ana Rocha e “dificuldades” na emissão do passaporte eletrónico devido a uma greve que ocorreu nos serviços em Portugal no verão.

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