Depois de Pedrógão Grande, perito nacional já investiga incêndios de outubro - TVI

Depois de Pedrógão Grande, perito nacional já investiga incêndios de outubro

  • CM
  • 14 mar 2018, 16:13

Domingos Xavier Viegas foi ouvido no Parlamento, nesta quarta-feira, à porta fechada. No final da audição, reiterou aos jornalistas que faltou uma entidade para coordenar a busca e o salvamento em Pedrógão Grande

O especialista em incêndios florestais Domingos Xavier Viegas reiterou, nesta quarta-feira, que a prestação do socorro médico falhou no fogo de Pedrógão Grande por falta de uma entidade para coordenar a busca e salvamento.

Xavier Viegas, que lidera a equipa do Centro de Estudos Sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra que realizou o relatório “O Complexo de Incêndios de Pedrógão Grande e Concelhos Limítrofes”, foi hoje ouvido, à porta fechada, na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, numa audição pedida pelo CDS-PP.

Faltou no incêndio de Pedrógão Grande um trabalho de busca e salvamento, de encontro das pessoas que necessitavam de socorro e ajuda, prestação de socorro médico”, disse aos jornalistas o perito, no final da audição.

Xavier Viegas entende que “a prestação de socorro médico falhou em boa parte porque faltou essa tarefa de busca e salvamento”, tendo esta tarefa existido em Pedrógão Grande “por iniciativas de populares ou até de alguns agentes de proteção civil”, “mas não de uma forma coordenada”.

Nesse sentido, o coordenador do relatório sobre Pedrógão Grande recomenda que, num incêndio com esta dimensão, seja criado no posto de comando uma parte dedicada à tarefa de coordenação da busca e salvamento e prestação de socorro.

Coisa que não aconteceu neste incêndio e daí que tenha havido muito sofrimento e eventualmente algumas mortes”, observou.

O deputado socialista Fernando Rocha disse aos jornalistas que Xavier Viegas destacou na audição que a estrutura da Proteção Civil, como está organizada, “pode ter dificuldades, perante uma tragédia desta dimensão, em assegurar a busca e salvamento das vítimas”.

Isto porque, adiantou o deputado do PS, “o INEM não pode naturalmente avançar para um teatro de operações em risco, sob pena de pôr em risco os seus operacionais”.

A audição foi pedida pelo CDS-PP em dezembro depois de o Governo não ter revelado na íntegra o relatório elaborado sobre Pedrógão Grande pela equipa de Domingos Xavier Viegas. Em causa estava o capítulo seis que relata os pormenores das mortes de cada uma das 64 vítimas mortais.

Equipa de Xavier Viegas vai fazer relatório sobre fogos de outubro

A equipa de Domingos Xavier Viegas também vai elaborar um relatório sobre os incêndios de outubro de 2017, estando já a trabalhar no terreno apesar de faltar a adjudicação formal por parte do Governo.

O primeiro-ministro solicitou, desde cedo, um relatório formal e estamos em contacto com o gabinete do ministro da Administração Interna no sentido de ser formalizada essa adjudicação. São questões meramente burocráticas de autorização interna dentro da secretaria de Estado para que o processo possa avançar”, indicou Xavier Viegas.

Apesar de a equipa já estar no terreno a investigar, Xavier Viegas adiantou que o trabalho não é feito “com a mesma intensidade” do que com um mandato dado pelo Governo, que vai permitir falar com instituições e entidades.

Para o investigador, o fogo de 15 de outubro é “bem mais complexo”, “muito maior”, com mais ocorrências e “muito mais distribuído”, além dos próprios acidentes pessoais terem sido “mais complexos”.

Nesse sentido, a equipa da Universidade de Coimbra pediu “um prazo mais alargado”, de oito meses, enquanto o relatório de Pedrógão Grande foi feito em cerca de três meses.

O dia 15 de outubro foi o pior de 2017 em número de fogos, com mais de 500, tendo as chamas atingido particularmente 27 concelhos da região Centro, sobretudo nos distritos de Viseu, Guarda, Castelo Branco, Aveiro e Leiria.

Na madrugada de 16 de outubro morreram 45 pessoas e cerca de 70 ficaram feridas devido às centenas de incêndios, que destruíram total ou parcialmente cerca de 800 habitações permanentes, quase 500 empresas e extensas áreas de floresta, estando ainda por apurar o valor global dos prejuízos.

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