Testemunhas de Jeová queixam-se de intolerância - TVI

Testemunhas de Jeová queixam-se de intolerância

Sociedade

São uma das confissões religiosas mais numerosas em Portugal com cerca de 150 mil fiéis

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Torturadas por recusarem combater na guerra colonial e perseguidas por estudar a bíblia em grupo, as Testemunhas de Jeová foram catalogadas no Estado Novo como «um perigo para a nação». Três décadas depois, continuam a ser vítimas de intolerância.

São uma das confissões religiosas mais numerosas em Portugal, com cerca de 150 mil fiéis. Durante os próximos três dias, vão reunir-se no Estádio Nacional para serem «Guiados pelo Espírito de Deus».

Apesar de serem muito próximos do cristianismo, «são marginalizados pelos católicos e objecto de escárnio e de acusações de fanatismo», disse à Lusa o sociólogo Moisés Espírito Santo, especialista no estudo das religiões.

Cumpridoras dos seus deveres religiosos, as Testemunhas de Jeová orgulham-se de não ter nenhum vício: bebem álcool apenas moderadamente, não consomem café, não fumam e têm relações sexuais só com o intuito de procriar.

«Temos uma vida moralmente regrada no que toca à fornicação. A família é a nossa base nuclear», lembrou Pedro Candeias, porta-voz da confissão em Portugal.

Recusam o aborto e as transfusões sanguíneas

Por consideraram que a vida é sagrada e que o sangue é o que mais a simboliza, as Testemunhas de Jeová recusam a prática do aborto e até as transfusões sanguíneas, mesmo se estiverem à beira da morte e os médicos lhes disserem que é a única salvação.

O porta-voz da confissão religiosa garante que a ciência já encontrou alternativas e que em Inglaterra, por exemplo, até já existe um código de actuação para o tratamento cirúrgico das testemunhas.

Em Portugal ainda não há um manual semelhante, embora existam «mais de 900 profissionais de saúde que têm sensibilidade para esta questão», a quem recorrem em caso de doença grave.

Fiéis às mais de 400 passagens bíblicas com referências à questão do sangue, têm nas principais cidades portuguesas comissões de ligação hospitalar que actuam como intermediárias entre os doentes e os médicos, estando encarregues de localizar equipas clínicas experientes em tratamento alternativo, como cirurgias sem sangue.

Apesar de todas as restrições impostas por um cumprimento escrupuloso dos mandamentos da Bíblia, o sociólogo Moisés Espírito Santo garante que «as testemunhas de Jeová são como as outras pessoas e têm uma vida normal».

Trabalham diariamente e é nos tempos livres que se organizam para «pregar a boa nova», normalmente ao fim-de-semana e sempre dois a dois, «tal como Jesus mandou pregar», lembrou Pedro Candeias.

Nas ruas e de casa em casa, sentem cada vez mais dificuldades em dar a conhecer as escrituras sagradas. Não criticam quem não lhes abre a porta ou os trata mal, mas lamentam que «cada vez as pessoas se resguardem mais».

Perseguidos no Estado Novo

Apesar de parte da sociedade portuguesa continuar a vê-los com desconfiança, é do período do Estado Novo que os fiéis, em Portugal desde 1925, guardam piores recordações. Na década de 1960, mais de 250 testemunhas foram presas pela PIDE «apenas pelo crime de se reunirem para adoração».

Recusando-se a combater na guerra colonial por questões religiosas, muitos jovens foram igualmente detidos e «submetidos a espancamentos brutais às mãos da polícia política». Incompreendidos durante todo o período da ditadura foram paradoxalmente catalogados de «comunistas» mas também de «agentes da CIA».
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